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Cultura de BR: Malucos de estrada

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Imagens da Diversidade

Em 27 de fevereiro deste ano foi publicado no Youtube o filme “Malucos de estrada –  parte II – Cultura de BR”,
documentário que trata do modo de vida de pessoas que viajam pelo país, geralmente, a pé ou de bicicleta; usam materiais da estrada para fazer artesanato e vivem “à margem” do modo de vida tradicional.

O diretor do filme é o fotógrafo, artesão e ativista do Coletivo ‘A beleza da margem, à margem da beleza’, Rafael Lage. Ele e toda a equipe do projeto (câmeras e fotógrafos, produtores e editores), contrariando a ordem sistemática de lançamentos de filmes, finalizaram e lançaram a parte II da trilogia primeiro, enquanto as partes I e III, Malucos de Estrada – O hippie mestiço e Malucos de Estrada – Como se fabricam marginais em nosso país – respectivamente, ainda não têm previsão de lançamento.

Em menos de uma semana, o filme teve mais de 22 mil visualizações, segundo o Coletivo – número expressivo já que é longa metragem e não teve divulgação em grandes veículos de comunicação. Malucos de  Estrada foi filmado durante cinco anos, em 19 estados do Brasil, por meio de financiamento coletivo no valor de R$ 65.625,00, via colaboração de 2072 apoiadores de 26 estados do Brasil.

No documentário são entrevistados vários “malucos” que contam suas histórias de vida, com foco na cultura da BR que tem seguidores em todo o Brasil. A discussão que permeia o filme destaca a diferença entre Malucos de BR ou de estrada e os Hippies. O movimento hippie, surgido nos EUA, refere-se aos jovens da contracultura que não queriam ter suas vidas alteradas pela Guerra e os valores consumista da classe média. Viviam em comunidades a e foram os responsáveis pelo emblemático discurso do “paz e amor”.

No Brasil, o movimento reconfigurou-se, apropriando características e acrescentando outras. Os malucos mantêm a vida nômade que pode ser em comunidade, ou não, fazem artesanatos, ganham dinheiro, viajam pelas estradas, fazem paradas nas cidades. São hippies nas horas vagas.

Na estrada

Imagino a dificuldade que Rafael teve para conversar com somente uma pessoa, ouvir e registrar apenas uma história por vez. Sentada durante 30 minutos com um dos ‘malucos’ da Praça VII de Setembro, em Belo Horizonte, uma das locações do filme, não paravam de chegar novas pessoas, novas histórias, cada uma diferente da outra.

Fui até lá conversar com Gemada, 43 anos, que reconheci, ao assistir o filme, por  suas tatuagens pelo corpo – uma em especial o torna reconhecível, a que toma toda a sua testa. Sentei no chão, ao seu lado, para que conversássemos sobre o filme, seu trabalho, sua vida. Logo chegou o ‘maluco’ Brunão, que passa três semanas em BH e depois já tem seu destino de viagem, Mato Grosso do Sul.

O bloco de anotações na mão já foi suficiente para Brunão entender que eu procurava saber de histórias. E ele me deu algumas boas: trabalhou com carteira assinada, teve emprego fixo, o que foi definitivo para assumir a rebeldia dos 17 anos e sair para as estradas. Mas isso não se aplica a todos os malucos, na verdade, nada se aplica a todos. A generalização de que todo mundo é apenas hippie é o primeiro conceito quebrado pelo filme.

Segundo Brunão, cada um teve seu próprio motivo e a estrada acolhe a todos. O modo de vida coletivo é uma escolha e é verdade que eles se encaram como uma família, de vários parentes, mas, como toda a família, brigam, se entendem, gostam mais de um dos membros e não têm sintonia com alguns outros. Qualquer caso é resolvido na hora, pela família, e Gemada cita casos de brigas que ocorreram ali mesmo na Praça XVII.

O que realmente importa é o livre arbítrio, cada um pode e deve fazer o que quer, por isso, encontramos poucos rastros de semelhanças entre histórias de vidas dos ‘malucos’. Gemada, por exemplo, mora em Belo Horizonte e sua filha estuda na escola tradicional: “A escola até certa idade é boa para socializar. Depois eles mesmos entram com contradição”.

Lúcio Carranca abre o filme em sua bicicleta que segue a estrada: “Depois desse filme, seremos reconhecidos como Patrimônio Cultural da Humanidade. Assim como a Capoeira e o Candomblé que começaram como criminosos e agora são patrimônios, um dia também seremos”, acredita.

De fato, só foi possível que expressões artísticas se tornassem patrimônios depois de investigadas por meio de pesquisas, estudos, documentações. Só assim foram legitimadas pela lei. O documentário denuncia, no entanto, que os agentes da lei privam os malucos do direito à sua própria cultura, ao recolher seus panos e instrumentos de trabalho. E uma das propostas do filme é exatamente contribuir para mudar essa realidade o quanto antes.

Facebook do coletivo “A beleza da margem”:  https://www.facebook.com/belezadamargem

O conteúdo da seção Imagens da Diversidade é produzido com a colaboração da estudante de jornalismo Thainá Barreto (Puc Minas).

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