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Cultura em nome da solidariedade

As medidas de distanciamento social, adotadas para reduzir a circulação pelas cidades e evitar o contato com as pessoas infectadas pelo coronavírus (COVID-19), têm gerado efeitos danosos no mercado global, com a interrupção das atividades econômicas, ampliação das medidas restritivas e fechamento de fronteiras para impedir a disseminação da doença. A pandemia atinge profundamente o setor da cultura, que alimenta uma cadeia produtiva baseada em atividades que geram a aglomeração de pessoas.

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018, são cerca de 5 milhões de pessoas trabalhando no setor cultural brasileiro, total de 5,7% dos ocupados do país, que aguardam a vigência de medidas efetivas do governo para conseguirem atravessar a crise. Com o adiamento dos eventos e a interrupção das atividades presenciais, os sentimentos de cooperação e solidariedade se tornaram palavras de ordem e, em nome delas, coletivos foram formados e artistas se mobilizaram.

As iniciativas dos profissionais da área buscam viabilizar o trabalho que precisa agora ser realizado a distância, criando redes de cuidado coletivo e economia solidária. Organizadas sob a forma de autogestão, essas redes envolvem campanhas para atender comunidades onde o impacto econômico da doença é grave, devido às condições de vida inadequadas ao isolamento social, o que as coloca vulneráveis à contaminação e propagação da doença.

O grupo de artistas brasileiros 342artes implementou a “Ação 342: Apoio para Coletivos de Favelas do Rio de Janeiro“, que visa apoiar coletivos ligados à arte, cultura, meio ambiente, LGBTs, direitos humanos e moradia. Com a meta de arrecadação de R$ 250 mil, o coletivo já superou o valor estipulado, com a contribuição de mais de mil apoiadores. Todos os recursos da campanha serão destinados aos coletivos “Papo Reto”, “Voz da Comunidade Rocinha Resiste” e “Redes da Maré”.

A reinvenção também aparece em ações individuais. Jorge Bispo é um fotógrafo renomado e trabalha com diversas celebridades brasileiras. A partir do isolamento, Bispo desenvolveu o projeto “Retratos Online”, em que fotografa pessoas por meio de chamadas de vídeo via celular. O resultado de seu trabalho é compartilhado em suas redes sociais e o fotógrafo mantém seus rendimentos de forma alternativa.

Entre as ações gratuitas promovidas por diversos artistas estão os shows na varanda. Inspirados pelos italianos, que passaram a utilizar suas sacadas e varandas residenciais para manifestações artísticas.

Músicos, famosos ou não, vem mostrando seu trabalho dessa forma. Luís Carlos Colman, de Campo Grande (MS), costuma tocar em bares e restaurantes. Mas, com a pandemia do coronavírus os espaços estão fechados. Luís Carlos levou os equipamentos de som para a varanda de casa e, ao lado de sua esposa Ana Paula, iniciaram uma série de apresentações. Seus vídeos têm milhares de visualizações.

“Inspirados no @festivaleuficoemcasa criado em Portugal, cantoras, intérpretes, artistas, bandas e produtores de todo o Brasil se uniram em uma rede de cuidado coletivo, rompendo o isolamento através da internet. Em um movimento para recarregar as energias da população em quarentena, a ideia é se conscientizar e nutrir de cultura”. Assim, os organizadores definem o Festival Fico em Casa BR.

A primeira edição aconteceu entre os dias 26 e 27 de março e contou com uma programação com mais de 60 nomes, entre eles, de artistas famosos como Adriana Calcanhoto, Emicida e Daniela Mercury. Transmitido pelo Instagram dos artistas e retransmitido pelo canal de YouTube FestivalFicoEmCasa, o festival busca arrecadar recursos para grupos e pessoas em situação de vulnerabilidade.

Por isso, implantou a contribuição voluntária por meio da plataforma Sympla – os valores de contribuição variam entre R$ 10 e R$ 1000. A segunda edição ocorre entre os dias 31 de março e 3 de abril e a programação pode ser vista no Instagram.

Acostumados a tocarem em espaços específicos, como os grandes teatros, os músicos da Orquestra Sinfônica de Brasília buscaram uma outra maneira de levar música instrumental às pessoas. Regidos pelo maestro e violinista Claúdio Cohen, cada componente da orquestra tocou seu instrumento dentro de sua casa e apresentaram, em forma de vídeo, a música “Heal the world“, de Michael Jackson.

Iniciativas como essas são exemplos de como os trabalhadores da cultura estão respondendo aos desafios que se impõem, por meio da ação coletiva que agrega as pessoas em processos autossustentáveis. Ao concentrar esforços no direcionamento de recursos materiais e imateriais para causas inadiáveis, a ação coletiva fortalece os laços afetivos, atuando, em última instância, para formar uma rede diversa que defende e protege a vida como o maior direito humano.

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