Freepik

NOTÍCIAS

Cinema: desafios e estratégias em tempos de crise

Com a interrupção da atividade de exibição nos cinemas, em decorrência da pandemia do Covid-19, o setor audiovisual se organiza para a possível retomada do funcionamento no segundo semestre deste ano. Com as salas fechadas, o segmento analisa as transformações nos hábitos do consumidor, para planejar estratégias de retorno da programação e de comunicação com o público.

A volta às telas implicará um período de adaptação às mudanças trazidas pela pandemia, o que deve incluir, entre outros protocolos sanitários, o incentivo à compra de ingressos online, espaçamento entre as pessoas na fila de entrada, uso de máscaras e álcool gel durante as sessões, maior frequência de limpeza das poltronas e limitação da capacidade de ocupação das salas.

Conforme pesquisas realizadas pelo setor, a sala de cinema permanece como objeto de desejo dos consumidores. Estudo da Markka Cinema, feito com 668 pessoas, mostra que ir ao cinema é o segundo maior desejo após o fim do isolamento social, com 15% das resposta depois da opção “fazer um passeio ao livre”, com 30,8%. O grupo Omelete também realizou uma pesquisa com 22 mil entrevistados, entre os quais, 47% sentem mais falta da experiência física do cinema como imagem, som e imersão.

Dados da pesquisa da Cinepolis, quarta maior operadora de cinemas do mundo e a maior da América Latina, registrou as respostas de 9.539 pessoas que, questionadas sobre o que mais sentem falta do cinema como entretenimento, escolheram a opção “experiência como um todo no cinema”, com 33% dos votos; em segundo lugar ficou a falta dos lançamentos inéditos, com 23%.

Para receber o público no período pós pandemia, como declarou Marcelo Bertini, presidente da maior rede de exibição do país, Cinemark Brasil, as estreias de peso ocuparão a linha de frente das estratégias das grandes distribuidoras. O segmento discute ainda a viabilidade de reabrir as salas com a apresentação de sucessos do cinema, filmes nacionais, festivais e mostras capazes de conquistar a audiência.

Com o isolamento social, também se intensificou o consumo de serviços de streaming. A adesão ao modo de consumo de vídeos em plataformas digitais é apontada por pesquisa da Toluna, realizada em julho de 2019, segundo a qual nove em cada dez pessoas acessam as plataformas no Brasil e 53% delas usam o serviço diariamente.

Disputas entre exibidores e plataformas destacam a potência dos serviços de streaming que impactam o comportamento do mercado. O CEO do estúdio Universal, Jeff Shell, anunciou em entrevista ao Wall Street Journal o abandono da janela de 90 dias entre o lançamento nos cinemas e plataformas digitais, com base no sucesso do lançamento do filme Trolls 2. Em reação, o executivo da AMC Theatres, uma das maiores redes de cinema do mundo, divulgou, por meio de carta à Universal, o boicote aos filmes da marca, nos cinemas da empresa atuante nos EUA, Europa e Oriente Médio.

Marcelo Lima, CEO da Tonks, empresa de consultoria e análise de mercado de entretenimento audiovisual, lembra outra tendência do momento, os drives in,  uma das estratégias acionadas pelas empresas exibidoras, que integram o segmento mais atingido pelas consequências da interrupção das atividades, para se manterem de pé.

Ele enfatiza que os desafios relativos à concorrência ao cinema não virão da oferta da programação via streaming, mas de programas de lazer e entretenimento proporcionados fora de casa. “O streaming é menos arriscado que o cinema quando se aposta em um projeto audiovisual, mas há alguns projetos que só vão fazer sucesso no cinema”. Para Marcelo, mais do que nunca, será exigida a capacidade de compreensão  do comportamento do consumidor, considerando diferentes regiões e classes sociais, para avaliação de como ficará o cinema, em meio à profunda crise econômica e, no Brasil, também política.

Quanto às políticas públicas de apoio e financiamento na área, Marcelo observa o contexto como “desastre”, em função da crise política, desde o governo Temer, que se aprofundou no governo Bolsonaro com a instituição de uma secretaria, em vez de ministério da cultura. “As alçadas aumentaram e as prioridades e urgências ficam de escanteio”.

A crise econômica acentuou-se com a paralisação do repasse das verbas do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), como lembrou Leonardo Edde, do Sicav, em webnário realizado no último dia 15 de abril, pelo portal Exibidor, que discutiu as medidas em curso para auxiliar o setor neste momento. “Somos a única indústria que hoje tem o recurso próprio para se salvar. E talvez seja a única indústria que não consegue uma atuação mais efetiva do Executivo para poder liberar. As empresas até já têm esse direito adquirido, mas não conseguem essa liberação”.

Na ocasião, a presidente do Sindcine, Sônia Santana, falou sobre o regime de trabalho PJ predominante no mercado audiovisual, que prejudica freelancers, já que estes profissionais não se enquadram nas linhas de auxílio do Governo Federal. Nessa direção, destacam-se iniciativas como o “Fundo de apoio emergencial à comunidade criativa brasileira”, criado pelo Instituto de Conteúdos Audiovisuais Brasileiros (ICAB) e Netflix, destinado a até 5 mil trabalhadores e freelancers. As inscrições para o fundo que disponibilizará depósito único no valor do salário mínimo, R$ 1.045, podem ser feitas por meio de formulário disponível no site do ICAB.

Assista aqui à série de webnários promovidos pelo Portal Exibidor sobre o impacto da pandemia sobre o setor da cultura.

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

ODC Diálogos – 17 de Abril de 2024

No dia 17 de abril (quarta-feira), às 19 horas, acontecerá mais uma edição do ODC Diálogos. Motivado pelo número 100 do Boletim, o encontro tem como tema “Avanços e desafios para a política cultural no Brasil hoje”, e contará com a participação de Albino Rubim e Bernardo Mata Machado, sob mediação da pesquisadora do ODC, […]

CURSOS E OFICINAS

Oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural – Santa Luzia (MG)

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, e com o patrocínio da Soluções Usiminas, e apoio do SESC Santa Luzia, realiza a oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural. A oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural tem como objetivo a formação de agentes culturais, estudantes, pesquisadores […]

Mais cursos