O Dia Mundial do Livro é celebrado em 23 de abril, data escolhida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para incentivar a leitura, lembrar a importância do livro, homenagear autores e refletir sobre seus direitos legais. A data presta tributo aos escritores Miguel de Cervantes, Inca Garcilaso de la Vega e William Shakespeare, que morreram em 23 de abril de 1616. Para falar sobre a experiência da literatura que dá asas à imaginação e cria leituras potentes do mundo, conversamos com o escritor, jornalista e professor universitário, Léo Cunha.
Autor de mais de 60 livros, entre crônicas, poesia, literatura infantil, literatura juvenil e teatro infantil, e vencedor de diversos prêmios no campo da literatura infantil e juvenil, Léo Cunha é doutor em Artes/Cinema pela Escola de Belas Artes – UFMG (2011) e Mestre em Ciência da Informação – UFMG (1999). Em entrevista ao ODC, ele trata da importância do acesso à literatura, os desafios da escrita para o público infantil e como a experiência sociocultural marcada pela diversidade influencia seu trabalho. Léo aborda ainda o papel das políticas públicas para promoção e difusão da leitura na formação cidadã, os desafios da educação e o hábito da leitura em tempos da pandemia do covid-19.
ODC – Qual a importância do acesso ao livro e à literatura para as crianças?
LÉO CUNHA – O acesso à literatura é fundamental, pois permite às crianças maior intimidade com a língua e com as histórias, em textos que não se pretendem informativos, utilitários nem didáticos. Pelo contrário: o texto literário se abre para múltiplos sentidos, para os jogos de linguagem, para a construção de novos olhares e novos universos.
O contato constante com a arte e com os artistas me permitiu ampliar minha visão de mundo e valorizar o olhar do outro, seja ela de outro lugar, de outra origem, de outra época
ODC – Você escreve para crianças, qual o maior desafio nessa escrita?
LC- Um grande desafio é criar textos que emocionem, que encantem, e ao mesmo tempo lidem de forma criativa com a linguagem e com as possibilidades poéticas e/ou narrativas.
ODC – De que maneira a experiência sociocultural marcada pela diversidade, pelo convívio com cosmovisões distintas, contribui para o seu ofício de escritor?
LC – Contribui demais. Tive a sorte de crescer num ambiente que valorizava muito as artes: não só os livros (minha mãe tinha uma livraria), mas também a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas. Esse contato constante com a arte e com os artistas me permitiu ampliar minha visão de mundo e valorizar o olhar do outro, seja ela de outro lugar, de outra origem, de outra época.
Os principais entraves na educação são ligados à escassez de bons mediadores de leitura
ODC – O contato com a linguagem poética ativa a sensibilidade, humaniza e influencia imaginários. Como escritor de livros infantis e juvenis, de que forma trabalha com esses elementos na criação de personagens e histórias?
LC – Procuro criar textos que estimulem o imaginário e, ao mesmo tempo, provoquem uma reflexão (ou pelo menos um estranhamento) diante da palavra.
ODC – A pesquisa Retratos do Brasil, do Instituto Pro-Livro, mostra o aumento do número de leitores de 50% em 2011, para 56% da população em 2015, o que reflete principalmente a evolução da escolaridade da população brasileira desde 2002. Como avalia as políticas públicas do país, para promoção e difusão da leitura, e o seu papel na formação cidadã?
LC – As políticas públicas de estímulo à leitura são fundamentais. O Brasil tem uma tradição de programas de formação de bibliotecas escolares (como o Programa Nacional Biblioteca da Escola, Programa Nacional do Livro Didático Literário, que são federais; os kits literários municipais e estaduais), que perderam um pouco a amplitude em anos recentes, mas continuam sendo muito ricos. Sinto que o país ainda carece de mais políticas públicas de formação e valorização dos mediadores de leitura, tanto professores quanto bibliotecários.
Acredito que o exemplo é muito importante. Ter livros em casa, se possível
ODC – O brasileiro lê, em média, dois livros por ano e 30% da população nunca comprou um livro, segundo a pesquisa. Para ser considerado um leitor, é necessário ter lido ao menos um livro nos últimos três meses anteriores à pesquisa. Quais os entraves e desafios na educação, para a formação de leitores autônomos e críticos, que busquem conhecimento na leitura?
LC – Os principais entraves são ligados, a meu ver, à escassez de bons mediadores de leitura. Como apontei na resposta anterior, o papel dos professores (principalmente nos anos iniciais) e bibliotecários é fundamental, mas ambas categorias são pouco valorizadas, mal remuneradas e recebem pouco estímulo e formação para desempenharem de forma ampla essa função tão importante, que é o estímulo à leitura, principalmente à leitura literária.
ODC – A percepção da leitura como meio de acesso ao conhecimento e melhoria social, ou como atividade prazerosa, amplia o interesse pelos livros. Como despertar o prazer da literatura desde a infância, no contexto das interações familiares?
LC – Acredito que o exemplo é muito importante. Ter livros em casa, se possível. Se não for possível, frequentar bibliotecas e centros culturais, com os filhos. E sempre valorizar a diversidade na literatura, não só em termos de temas, mas de gêneros, estilos, formatos, origens, épocas etc.
Este momento de recolhimento é propício para um maior contato com a literatura e os livros em geral
ODC – Qual o impacto sobre o consumo de livros e o que muda no hábito da leitura em meio à pandemia do Coronavirus?
LC – Apesar de toda a apreensão, medo e insegurança, este momento de recolhimento é propício para um maior contato com a literatura e com os livros em geral. Na minha casa, todos estamos lendo, no isolamento. Tenho também criado versões animadas, em vídeo, de meus poemas e histórias, e disponibilizado nas redes sociais (Facebook, Instagram, YouTube), para estimular o contato das crianças (e qualquer um que curta a literatura infantil) com as possibilidades da palavra.
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