Por Daya Barros*
A alimentação humana vem se transformando ao longo da história, moldando a cultura alimentar de diferentes locais, e repercutindo diretamente na saúde, no ambiente e na organização das coletividades. A medida que vamos evoluindo, os aspectos da cultura alimentar tendem a se desenvolver, e populações que uma vez se adaptaram a regiões específicas criando dietas típicas e locais, baseando-se nas culturas agrícolas nativas e naquelas trazidas por migrações e rotas comerciais, hoje passam por uma homogeneização nos seus padrões alimentares devido a mudanças na forma de produzir, acessar e consumir os alimentos.
Estamos vivendo o rompimento de uma relação complexa com os alimentos através da imposição de sistemas alimentares globalizados, sistemas esses baseados na agricultura de interesse comercial internacional e em alimentos ultraprocessados, que gradualmente vem tomando o lugar dos alimentos típicos e reduzindo a diversidade do campo à mesa.
Não vamos nos enganar, o processamento dos alimentos foi fundamental para evolução humana, mas precisamos diferenciar sua extensão e propósito. Se no passado a descoberta do uso do sal para conservar os alimentos foi essencial, hoje lidamos com seu excesso e mal uso com surgimento dos ultraprocessados. Produtos que surgiram para serem utilizados por soldados em campo de batalha, e foram para as mesas no período pós 2ª Guerra Mundial, transformando as formas de cozinhar e a própria cultura alimentar, aliando-se ao marketing de praticidade e aproveitando-se do movimento de emancipação feminina e sua maior participação no mercado de trabalho.
Assim que apresentada, essa “solução” foi logo abraçada, e uma vez abraçada passamos a viver uma vida completamente desconectada do que de fato colocamos para dentro do nosso corpo e do que realmente é nos satisfazer. A facilidade nos cegou em relação ao que estávamos, e seguimos, consumindo.
E o que são ultraprocessados? Como definidos pela classificação NOVA, são formulações industriais de substâncias extraídas ou derivadas de alimentos, que contêm pouco ou nenhum alimento inteiro em sua composição e que são tipicamente adicionadas de flavorizantes, corantes, emulsificantes e outros aditivos que modificam os atributos sensoriais do produto final. Os ingredientes e procedimentos utilizados na fabricação de alimentos ultraprocessados buscam criar produtos de baixo custo, hiperpalatáveis e convenientes, com potencial para substituir alimentos in natura ou minimamente processados.
Será que vale a pena trocar alimento por produto? O descascar pelo desembrulhar? E o que muda com isso? Toda a praticidade e tempo de prateleira vêm às custas de grandes prejuízos à cultura alimentar, fato é que o que estamos perdendo no processo é muito mais importante do que imaginamos. Precisamos assim focar em construir ambientes alimentares mais saudáveis e de mais fácil acesso, reconhecendo a importância da preservação da cultura alimentar tradicional para manutenção da saúde humana e planetária em todos os níveis, e para a defesa contra a invasão dos ultraprocessados. Assim fica o questionamento, o que quero com aquilo que escolho como alimento?
FONTES:
Nilson, Eduardo Augusto Fernandes. Alimentos ultraprocessados e seus riscos à cultura alimentar e à saúde. Rev. de Alim. Cult. Américas – RACA. ago./dez, 2022; 3(2): 133–146.
Louzada, MLC, Costa, CS, Souza, TN, et al. Impacto do consumo de alimentos ultraprocessados na saúde de crianças, adolescentes e adultos: revisão de escopo. Cad. Saúde Pública 2021; 37 Sup 1:e00323020.
*Daya Barros é formada em Nutrição pela UNI-BH, pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pela VP Consultoria, pós-graduada em Oncologia pelo Instituto Israelita de Estudo e Pesquisa Albert Einstein. Possui formação em Terapeuta Ayurvédica pela Associação Brasileira de Ayurveda – ABRA. Possui experiência em nutrição clínica, nutrição funcional, nutrição oncológica e terapia ayurvédica. Estudou dança moderna em escolas como 1º Ato, Núcleo Artístico e o Corpo. Instagram: @dayabarros
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