COLUNAS

Artes da Serra da Capivara – Coluna de Alexandre Barbalho 25/03/2025

Por Alexandre Barbalho

 

Localizado a mais de 500 km de Teresina, capital do Piauí, o Parque Nacional Serra da Capivara é um tributo à indissociável relação entre natureza e cultura, entre futuro, presente e passado, entre arte e vida. Criado em 1979, com seus 130 mil hectares, preserva a presença de homens, mulheres e bichos que por ali passaram e continuam passando.  Inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco desde 1991, e no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, do Iphan desde 1993, percorrer suas trilhas e subir os topos da chapada é uma experiência mística: não tem como não se perguntar sobre a existência do universo

O Parque abriga ainda dois museus: o Museu da Natureza criado em 2018 está situado no meio da mata e é o primeiro edifício circular e em espiral todo planejado com estrutura metálica no Brasil; e o Museu do Homem Americano, situado no município de São Raimundo Nonato e dentro da sede da Fundação de mesmo nome (https://fumdham.org.br/), responsável não só pelo equipamento como também pela preservação do patrimônio cultural e natural de todo o  Parque.

Naquele território da caatinga nordestina  – que, diga-se de passagem, é a única floresta totalmente brasileira  – concentra-se a maior quantidade de sítios pré-históricos da América e as datações mais antigas de arte rupestre, que remontam a 50 mil anos. Situar-se diante das “tocas”, onde as populações pré-invasão europeia viviam e utilizavam o paredão para pintar e gravar é vivenciar uma sensação estética única. São três as tradições pictóricas identificadas ali e que se desenvolveram em épocas diferentes: a Nordeste, a Agreste e a Geométrica.

A Nordeste se caracteriza por grafismo figurativista, onde se reconhece humanos, animais, plantas e objetos, ou abstrato. Mas sua marca mais importante é a de representar o movimento em ações como caças, possíveis celebrações coletivas, atos sexuais, o primeiro beijo  etc. A Agreste também apresenta o figurativismo e o abstrato, mas as representações se reduzem, basicamente, aos humanos e a caçadas, contudo, sem possuir o dinamismo que a Nordeste traz. Já a Geométrica, como o nome indica, se caracteriza por seu grafismo puro, ainda que possamos identificar nela mãos, pés ou repteis, mas sempre com uma economia de traços.

Mas, para além do visível, como reivindicam Anne-Marie Pessis, Daniela Cisneiros e Demétrio Mutzenberg “as pinturas rupestres devem ser observadas com um olhar fundamentado que permita ir além do mostrado. O ponto de partida desse procedimento é considerá-las como a manifestação de modos de comunicação de grupos culturais, considerando que cada comunidade tem seu próprio modo de comunicação o que lhe permite reconhecer os códigos imagéticos que lhes são próprios.”

Mas também podemos ver essas tocas onde estão as manifestações de arte rupestre não só como documentos de cultura, mas como como um espaço expositivo dos/as primeiros/as artistas americanos. O início de nossa sensibilidade estética. Ou amorosa.

 

 

 

 

Referências

Anne-Marie Pessi Daniela Cisneiros; Demétrio Mutzenberg. Identidades gráficas nos registros rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Revista Fumdhamentos, v. 15, n. 2, p. 33-54, 2018.

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

Seminário “Avaliação de políticas públicas e a questão da Diversidade”

Está disponível em nosso canal no YouTube a gravação do Seminário “Avaliação de políticas públicas e a questão da Diversidade”, que aconteceu na última quarta-feira, dia 09/04/2025. Pesquisadores do Observatório da Diversidade Cultural divulgaram os resultados da pesquisa sobre a Diversidade Cultural e a LAB 1 em Minas Gerais. Além de mostrarem os principais resultados […]

CURSOS E OFICINAS

Gestão Cultural para Lideranças Comunitárias – Online

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]

Mais cursos