Maria Luísa Martins de Mendonça (UFG)
Cinema, televisão, jornais, revistas: de quem são os rostos e as falas divulgadas? Quem é notícia ou assunto digno de nota? Em geral, as elites; às vezes representantes das camadas médias da população brasileira. Os pobres, as pessoas comuns são invisíveis. Ou quase: aparecem quando invadem os espaços alheios sem a devida autorização (lembremos dos “rolezinhos” nos shoppings); em circunstâncias em que a violência é a protagonista principal e o “povo” é autor ou vítima; quando alguma catástrofe “natural” atinge centenas ou mais, enfim, a invisibilidade faz parte do seu cotidiano, de sua existência.
Ao tomar como exemplo a cinematografia brasileira recente é possível distinguir algumas formas de representação do povo e do popular, sem pretender ser exaustiva e considerando que as justaposições acontecem. Algumas representações da diversidade: o povo visto a partir de suas características risíveis, ou seja, a partir de uma visão grotesca; a invisibilidade presente nos filmes feitos sobre e para uma classe média urbana que tem como espelho a cultura “zona sul” (negros, pardos e índios dificilmente são encontrados como protagonistas nessas produções); o povo como vítima ou autor de violências de todos os tipos e finalmente, em produções que permitem que o povo, as pessoas comuns, se expressem em seus próprios termos.
Nesse caso, é imprescindível ressaltar as produções de Eduardo Coutinho, mestre do documentário que fez das pessoas comuns protagonistas principais de suas obras. Alguns exemplos ilustrativos: em Babilônia 2000 o diretor aborda os sonhos e as esperanças de moradores da favela Babilônia, no Rio, às vésperas do ano 2000. Em Santo Forte é a religiosidade popular que é narrada por homens e mulheres em todas suas diversidades e entrelaçamentos, nas múltiplas e complexas relações com o sagrado, o sobrenatural. Edifício Master são os moradores desse prédio em Copacabana que contam suas memórias, seu cotidiano, suas alegrias e tristezas. As Canções, apesar do título, faz uso do artifício musical – os protagonistas cantam sua(s) música(s) preferida(s) – para falar do amor, das lembranças afetivas com toda sua carga de dores, frustrações, rompimentos, encantamentos e felicidade. (mais dados sobre a filmografia em http://pt.wikipedia.org/wiki/
Há muito mais o que dizer sobre a presença do comum, do ordinário, da diversidade e da riqueza da cultura popular no trabalho de Coutinho. Mais importante do que quaisquer outras lições sobre técnicas cinematográficas o grande ensinamento do cineasta reside em nos fazer ver o Outro, sua existência, seus desejos, suas frustrações como qualquer um de nós, sem hierarquias e sem divisões de nenhum tipo. Que sua obra, quanto mais conhecida, mais nos faça refletir mais sobre aquilo que, em meio às diferenças, nos iguala.
CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024 A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]
O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]