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Os trilhos da cultura

O Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa é um dos mais importantes centros de pesquisa de Portugal, com uma configuração interdisciplinar e cujas atividades se organizam em torno de questões fundamentais do mundo contemporâneo: cidadania, democracia; sustentabilidade, meio-ambiente, estilos de vida, identidades, migrações etc.

O ICS possui vários observatórios – um tipo interessante de instrumento para acompanhar os acontecimentos sociais, apesar de sua possível ligação com a lógica da sociedade de controle. De todo modo, os observatórios vêm se espalhando mundo afora. Há observatório de imprensa, de políticas públicas, de cultura, de juventude, de mulheres, das cidades.

No caso específico do ICS, são quatro. Um deles é o Observatório das Actividades Culturais (OAC) é uma associação que resulta da parceria entre o ICS com o Ministério da Cultura e o Instituto Nacional de Estatística de Portugal. Sua função é produzir e difundir conhecimentos acerca das transformações das atividades culturais, com especial atenção para estudos de públicos, eventos culturais e respectivos impactos, políticas, instituições e agentes culturais.

O primeiro presidente do OAC foi Maria de Lourdes Lima dos Santos sucedida por José Machado Pais, ambos pesquisadores do ICS. Na gestão deste, o OAC e o ICS realizaram em novembro de 2008 o colóquio internacional “Novos trilhos culturais: Práticas e políticas” reunindo pesquisadores de Portugal, Espanha e Brasil. Pois agora, o ICS reuniu as palestras do colóquio e publicou-as em livro que recebeu o mesmo título do evento.

Organizado por Maria de Lourdes Lima dos Santos e José Machado Pais, a obra possui cinco partes intituladas: 1. Novas valências da cultura; 2. Criação/produção cultural e artísticas: novos contextos e novas relações; 3. A cultura, os media e as novas tecnologias; 4. Políticas culturais e desafios atuais; e 5. Que destaques nos novos trilhos da cultura?

É impossível dar conta de todos os artigos e muito menos das várias contribuições que cada um propicia ao pensamento sobre a arte e a cultura. Por afinidades pessoais, me deterei à parte 4 que reúne os artigos: “Contradança” de Orlando Alves Garcia; “Cultura e educação: desafios de uma política compartilhada” de Vanda Lourenço; “Trabalho no setor cultural – dois tópicos em foco: flexibilidade e regulação” de Teresa Duarte Martinho e “Políticas culturais e novos desafios” de Antonio Albino Canelas Rubim.

Orlando Garcia traz um debate sobre os vários desafios que a política cultural em Portugal deve enfrentar – mas arriscaria dizer que muito do que aponta faz parte também de outras realidades nacionais. Como, por exemplo, a necessidade premente de “decifrar” as políticas culturais nos âmbitos governamental, do terceiro setor e das empresas.

Vanda Lourenço, por sua vez, discute sobre a imprescindível interlocução que as políticas de cultura e de educação devem construir. Sua análise vai pela necessidade de não mais democratizar somente a “oferta”, mas a “procura” cultural, o que, na avaliação da autora, se dá por meio de investimentos pedagógicos, seja no sistema educacional, com a implementação da educação artística, ou com a criação de serviços educativos nos diversos equipamentos culturais.

Já Teresa Marinho enfrenta um tema particularmente delicado nesses tempos de pensamento liberal e capitalismo pós-fordista: a dimensão do trabalho no setor cultural. Seu foco recai sobre a questão da flexibilização e regulação deste tipo de trabalho em Portugal, em especial sobre a sua precariedade e os desafios da qualificação.

Por fim, o texto de Albino Rubim que apresenta uma discussão mais ampla sobre a questão das políticas culturais na contemporaneidade, privilegiando em sua análise a UNESCO e sua importante posição no campo da política cultural, em especial na sua defesa da diversidade cultural no planeta.

O texto de Rubim se encerra com os desafios que os dias correntes impõem aos que elaboram e executam políticas para a cultura. Uma delas é justamente articular as dimensões local, nacional, regional e global. Claro que não existem fórmulas prontas para tal empreitada, o que exige sempre o esforço analítico sobre as diversas experiências. Em outras palavras, o contemporâneo nos exige atenção com os novos trilhos culturais. Só assim podemos dar conta, minimamente, de suas práticas e políticas.

*Alexandre Barbalho é Doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA e professor dos PPgs em Políticas Públicas da UECE e em Comunicação da UFC onde pesquisa sobre políticas culturais e de comunicação e sobre cultura das minorias. Autor e organizador de inúmeros livros entre os quais: Relações entre Estado e cultura no Brasil (1998); Comunicação e cultura das minorias (organizado junto com Raquel Paiva – 2005); Políticas culturais no Brasil (organizado junto com Albino Rubim – 2007) e Brasil, brasis: identidades cultura e mídia (2008).

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