Raquel Utsch[1]
O compartilhamento de informações nas redes sociais tem se mostrado mediação indispensável na disputa cotidiana entre narrativas que representam visões conflitantes sobre questões ligadas às cidades contemporâneas. A lógica do compartilhamento em redes sociais apresenta o desafio da atuação política em situações comunicativas que dependem fundamentalmente da conquista do engajamento das pessoas, ou da construção de sentido por adesão social a causas que motivem a participação, possibilitando a continuidade e a dinamicidade do processo comunicacional.
Para tanto, a cultura midiatizada que envolve a interpretação e legitimação social desses conteúdos compartilhados exige que a expansão da rede seja coordenada coletivamente, de forma a atingir apoio de atores importantes, criando vínculos sociais que promovam a convergência entre interesse das pessoas e grupos, a fim de fortalecer o movimento em rede.
Atuação coletiva que se dá em contexto de produção crescente de imagens, o que enfatiza a potência política da experiência estética, no registro do cotidiano que reporta assuntos ligados à vida em comum, com forte apelo à dimensão sensível das experiências urbanas.
Movimentos sociais e ativistas que lutam pelo direito à moradia e à cidade[2] atuam de forma marcante no plano da disputa simbólica relativa ao combate a processos de gentrificação[3],, entre outros aspectos que acentuam a homogeneização das expressões culturais, tornando a diversidade sinônimo de empobrecimento e desigualdade social nas cidades.
Conteúdos produzidos pelos cidadãos ganharam visibilidade, por exemplo, na Mostra Os Brutos realizada em Belo Horizonte e organizada a partir de convocatória via rede social facebook[4]. Duas edições da Mostra receberam registros audiovisuais, fotográficos e sonoros brutos, de qualquer data e sem limite de tempo, respectivamente, sobre as Manifestações de junho (2013) e Mobilidade urbana (2015), questionando representações midiáticas convencionais.
A atuação de redes ativistas aponta para a inevitável ação comunicacional no espaço da cultura midiatizada que conjuga vivências integradas nos territórios físico e virtual, por meio de dispositivos móveis associados ao uso da internet. Esses conteúdos circulam por meio da lógica associativa que, por sua vez, depende da participação social nas discussões cotidianas sobre aspectos diversos da vida em comum. A disputa simbólica travada por meio dessas narrativas que destacam a crescente produção audiovisual mostra a relação potente entre comunicação e cultura, no centro da vida política, decorrente de situações marcadas pela controvérsia em torno de temas de interesse comum.
[1] Mestre em Comunicação Social e graduada em Comunicação Social / Jornalismo (PUC Minas). Pesquisa redes sociais e processos multimidiáticos colaborativos.
[2] Entre os coletivos atuantes, Movimento Ocupe Estelita, Coletivo Margarida Alves e Brigadas Populares, https://www.facebook.com/OcupeEstelita-1447067488906490/timeline/
https://www.facebook.com/coletivomargaridaalvesap?fref=ts?; https://www.facebook.com/groups/brigadaspopulares/?fref=ts
[3] Mais sobre o assunto em <https://elnolugar.lamula.pe/2015/09/29/la-gentrificacion/frankchute/>
[4] Idealizada pelo artista multimídia Daniel Carneiro, a Mostra Os Brutos pode ser acessada em: https://www.facebook.com/events/1591402284413719/
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