Com o advento dos Brics, o Brasil tem um grande desafio à sua frente: como se tornar um verdadeiro protagonista tendo em vista a concorrência internacional cada vez mais acirrada em todos os setores. Há pouco tempo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) constatou que a indústria de games em nosso país está patinando e realizou uma chamada pública para o desenvolvimento de pesquisa científica para consolidar as informações acerca dessa indústria e contribuir para o desenho de instrumentos e ações políticas industriais e tecnológicas para o setor. Na maioria das vezes, esse tipo de iniciativa governamental tende a considerar que tecnológico só se refere ao desenvolvimento de softwares ou hardwares. Mas, se olharmos no dicionário, a palavra tecnologia se refere à aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.
Ora, o Brasil tem contribuições a dar que, por se referirem a uma tecnologia não ligada à informática, quase nunca são contempladas por programas de incentivo e financiamentos públicos. E, tendo em vista a dificuldade que o país enfrenta para competir de igual para igual com Estados Unidos, China e outros países em áreas da tecnologia da computação, deveríamos buscar alternativas. Dentre essas, nosso país possui um tesouro inexplorado que pode ser o seu diferencial na luta: a diversidade de sua cultura e de seu povo. Com os europeus, por exemplo, temos muito mais afinidades em relação a costumes e tradições que os chineses ou os indianos. Dessa forma, esses povos demonstram maior empatia com inovações desenvolvidas por nós do que por esses outros povos.
Portanto, idéias criativas e inovadoras podem surgir muito mais de fontes subjetivas que do conhecimento teórico sobre computadores e afins. Para tanto, devíamos explorar o tesouro decorrente de nossa história ligada a povos tão diversos e que trouxeram para nosso país conhecimentos e costumes diferenciados e, praticamente, únicos em termos mundiais. O povo brasileiro muitas vezes tem a falsa ilusão de que os outros países são muito mais tecnológicos do que são na realidade. Um episódio que exemplifica isso de forma clara me aconteceu recentemente. Conversando com um produtor da rede inglesa de televisão BBC sobre as imagens do projeto Jogos Indígenas do Brasil, que a Origem realizou no ano de 2003, disse a ele que não se tratava de um material em alta definição, o que, para mim, seria um empecilho à sua utilização nos dias de hoje. E fiquei realmente surpreso ao ser informado que, raramente, a televisão inglesa produz nessa tecnologia mais avançada.
No Brasil, tudo tem que ser de tecnologia de ponta, senão será considerado ultrapassado. Em reuniões com professores para falar sobre a importância do jogo para o desenvolvimento do aprendizado entre os alunos, muitas vezes, vemos que eles questionam a utilização de jogos de tabuleiro em suas escolas por considerarem que a vez é dos jogos eletrônicos. Sendo que a maioria absoluta dos estabelecimentos de ensino de nossa rede privada e pública está muito longe de contar com a infra-estrutura necessária para a implantação de projetos informatizados.
É como se fosse necessário abandonar a utilização de livros porque a vez é dos tabletes. Num país em que a grande maioria de escolas não conta com a existência de uma biblioteca, o salto direto para um ensino que só se preocupa com a inclusão digital, sem o desenvolvimento da base do conhecimento armazenado em livros é preocupante e muito questionável. Em relação à produção de games existem contribuições a serem dadas em termos de conteúdo que não são necessariamente ligadas ao desenvolvimento do software em si. Em minha pesquisa para a redação de dissertação de mestrado em Interações Midiáticas, ficou evidente que muitos jogos disponíveis para serem jogados on line, através da web, pecam pela total falta de contextualização de suas práticas presenciais.
O Mancala, que é um jogo milenar e com uma história muito interessante que abrange povos de todo o continente africano e asiático, com respingos na história da América, está disponível para ser jogado na web sem qualquer explicação sobre sua prática presencial. Dessa forma, um jogo tradicionalmente praticado com o uso de estratégia, por falta de informação a esse respeito, corre o risco de se tornar um mero instrumento de sorte. A diversidade cultural do povo brasileiro pode ser um bom diferencial que transforme o nosso país em produtor das mais diversas áreas ligadas ao conhecimento humano. E nos inscrever definitivamente como um B maiúsculo no mundo em que os Brics serão os motores do crescimento mundial.
CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024 A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]
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