Concentração é maior no Mato Grosso do Sul, onde 420 indígenas foram assassinados em três décadas
Nas últimas três décadas, quase mil indígenas foram assassinados no Brasil, segundo levantamentos do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e CPT (Comissão Pastoral da Terra). Esse número, a partir de agora, está mapeado: cada uma dessas mortes foi detalhada na plataforma Caci (Cartografia de Ataques Contra Indígenas) – http://caci.rosaluxspba.org.
O mapa interativo foi lançado na terça-feira (11) pela Fundação Rosa Luxemburgo. A palavra “caci” também significa “dor” em guarani.
De acordo com Daniel Santini, coordenador da entidade, o objetivo da iniciativa é dar visibilidade a um problema que, afirma, é subnotificado por autoridades e recebe pouca atenção da mídia.
“Há muitas crises que não têm repórteres em campo que possam adicionar apuração local a informações coletadas por telefone e internet. Se houvesse atenção compatível com a gravidade da situação teríamos ações do poder público para resolver crises humanitárias em curso”, disse Santini em entrevista ao Nexo.
O mapeamento mostra assassinatos de indígenas em todos os tipos de situação – de desavenças internas a conflitos pela posse de terras.
Eles ocorrem por todo o país, mas há pontos em que há um número especialmente grande de casos, como o Estado do Mato Grosso do Sul, que concentra pelo menos metade dos homicídios detectados pela Caci.
Ao todo, são 947 homicídios catalogados a partir de relatórios produzidos entre 1985 e 2014 pelo Cimi e pela CPT.
Os organizadores ressaltam que mesmo esse levantamento capta apenas uma fração das mortes violentas de indígenas. A plataforma também traz reportagens especiais sobre o contexto de alguns dos locais em que ocorrem mais assassinatos.
Hidrelétricas, desmatamento e demarcação
A ferramenta traz filtros que mostram os limites de terras indígenas e unidades de conservação, além de focos de desmatamento detectados entre 2000 e 2014 e a localização de hidrelétricas – apontadas como ameaças ao modo de vida indígena.
“Terras indígenas freiam o desmatamento. Se olharmos com mais atenção os assassinatos [há o contexto de cada uma das mortes], podemos verificar que muitos casos estão relacionados com a disputa fundiária”, afirmou Santini.
Três dias após terem ocupado o território Toro Passo, em Caarapó, no Mato Grosso do Sul, em junho, os guarani-kaiowá foram atacados a tiros por um grupo de cerca de 70 produtores rurais e funcionários da região. Os fazendeiros chegaram na área com caminhonetes, motocicletas e um trator, segundo informações da Agência Estado.
O agente de saúde Cloudione Rodrigues Souza, um guarani-kaiowá de 26 anos, foi morto no ataque. Pelo menos outros cinco indígenas foram hospitalizados por terem sofrido ferimentos de arma de fogo, entre eles uma criança de 12 anos.
O assassinato de Souza foi resultado de conflitos em torno da demarcação de terras. Mas a plataforma Caci retrata também mortes não explicadas e casos como o de Ozéas Aldo Gerônimo, morto em 1995 aos 19 anos em um bar próximo à sua aldeia em Dourados (MS). O acusado adolescente também é indígena.
O guarani-mbya Tiago Honório dos Santos afirma que os guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul “estão muito encurralados em pequenas áreas, não têm para onde ir. Não têm para onde correr. São rodeados pela cana de açúcar ou por uma população que os ignora, chuta e mata”.
Para Santini, o preconceito faz com que problemas enfrentados por indígenas não sejam tratados com a devida atenção.
“Há um discurso racista que é muito forte, que não permite a diferença, que não permite outras maneiras de viver não ligadas ao consumo. Isso alimenta preconceitos, como o de que indígena não quer trabalhar, é preguiçoso, não quer saber de progresso”, afirmou.
Outros tipos de mortes não são catalogados
A plataforma é focada especialmente em mortes violentas, e não inclui outros tipos de mortes que indicam os problemas enfrentados por povos indígenas.
Em 2005 e 2006, diversos casos de mortes de crianças relacionadas à desnutrição em aldeias foram registradas no Mato Grosso do Sul, por exemplo.
Uma outra expressão dos problemas enfrentados por esses povos que não aparece no relatório é o fato de que os maiores índices de suicídio do Brasil ocorrem em áreas com grandes comunidades indígenas.
Segundo dados divulgados em junho de 2016 pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), um organismo de cooperação internacional para pesquisa, das cinco cidades com as maiores taxas de suicídios de jovens de até 19 anos no Brasil, quatro ficam no Amazonas, Estado com a maior população indígena do país.
“O rompimento das tradições, a perda da identidade cultural, o isolamento social, o alcoolismo, tudo isso contribui [para o suicídio]”, afirmou o psiquiatra Neury Botega, em entrevista para a “Revista da Unesp”.
Fonte: Nexo Jornal
Imagem: http://caci.rosaluxspba.org/
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