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Latinos definem São Paulo como a cidade para “sair do armário”

Deixar o país de origem não é uma decisão fácil, ainda mais para quem pertence ao grupo LGBT. Isso porque, além das dificuldades enfrentadas por ser um estrangeiro, a pessoa ainda sobre os preconceitos homofóbicos que continuam presentes na sociedade.

Embora as conquistas por direitos e aceitação social estejam longe do desejado, esse nível de aceitação daqueles que diferem em orientação sexual ou identidade de gênero é distinto em cada sociedade. Esse foi um dos critérios considerados por Juan Sebastián Arias ao sair de Bogotá e ir para São Paulo.

Juan, formado em Comunicação Social, deixou o emprego e a família em 2015, aos 24 anos. Ele conta que, ao assumir a orientação sexual para família, passou por um longo processo de convencer a mãe. Mesmo morando na capital da Colômbia, o jovem conta que não podia sair abertamente nas ruas, uma vez que “nossa cultura é muito violenta e machista”.

Buscando experiência internacional e conhecer outro idioma, Juan se mudou para capital paulista e confirma que o fato de São Paulo ser uma cidade mais acolhedora para os LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), especialmente se comparada a outras regiões do Brasil, foi um dos fatores que o motivaram a embarcar no avião. “Este nunca foi um argumento explícito, mas com certeza foi uma das razões que me trouxeram até aqui. Acho que São Paulo oferece a possibilidade de ser quem se é não só em casa, mas também na rua, nos espaços públicos. Na América Latina, acho que é uma das cidades mais tolerantes com a diversidade, não somente sexual, mas cultural, de expressão de modo geral”.

O venezuelano Pablo, de 28 anos, mora no Brasil há quatro anos. Ele conta que escolheu São Paulo para dar continuidade em seus estudos justamente por considerá-la uma cidade em que poderia viver com mais segurança. “Namoro há dois anos um brasileiro e me sinto livre hoje para andar de mãos dadas e dar um beijo em público. Eu nunca fiquei tão à vontade em Caracas, no meu próprio país, quanto eu me sinto aqui”, afirma. Por um período de tempo, o preconceito, no entanto, fez-se presente. “No meu local de trabalho, já senti preconceito por ser estrangeiro e gay, por serem questões que ainda pesam nesse ambiente. Mas hoje em dia isso não acontece mais, pois já consegui quebrar essas barreiras. Sinto que as pessoas aprenderam a me respeitar, acima de qualquer coisa”, diz Pablo.

No últimos dez anos, o número de imigrantes registrados pela Polícia Federal aumentou 160%. Apesar do Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes (CRAI) não ter dados sistematizados com relação ao atendimento de imigrantes LGBTI, “isso não significa que não aconteçam atendimentos a esta população. A complexidade da questão pode explicar a inexistência de dados, já que essas pessoas evitam declarar sua orientação sexual por ser esse o motivo de saída de seu país de origem”, explicou a secretaria, por meio de sua assessoria de imprensa.

A abertura de unidades fixas e móveis dos Centros de Cidadania LGBTI e a criação do Programa Transcidadania, que oferece bolsas a 200 transexuais para que elas possam se dedicar aos estudos, além de outras políticas adotadas nos últimos quatro anos permitiu que São Paulo recebesse o selo internacional Rainbow City. O títuloque reconhece cidades amigáveis para a população LGBT.  Apenas 29 cidades do mundo contam com este reconhecimento. São Paulo é a única da América do Sul ˗ ao lado da Cidade do México, quando se olha para toda a América Latina.

Apesar da fama de São Paulo, o relatório do Grupo Gay da Bahia revelou que, em 2015, no Brasil, foram assassinadas 318 pessoas LGBT, sendo que 55 foram registradas em São Paulo, estado com maior número de mortos. Enquanto isso, na Colômbia,  o relatório das organizações Colômbia Diversa, Caribe Afirmativo e Santa María Fundacíon mostra que foram assassinadas 110 pessoas LGBT, maior número registrado desde 2012. A diferença entre os países chega a quase 190%.

Em ambos, não há marcos legais para punir atos discriminatórios contra a população LGBT, o que dificulta a realização de análises estatísticos precisas desta natureza. Sendo assim, há uma chance de os números indicarem apenas uma parte do total de crimes ocorridos no período ˗dada a possibilidade de que muitos assassinatos não são registrados como homo/lesbo/transfobia.

 

Imagem: Portal Calle 2

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