Um dos mais novos museus de Paris, o Musée du quai Branly situa-se próximo ao rio Sena e à torre Eiffel. Também um dos mais visitados, não apenas pelos turistas, mas pelos citadinos parisienses ou de outras paragens francesas. É lá onde as culturas dialogam, diz a propaganda oficial. Nesse exato momento, é possível visitar, entre outras, uma exposição sobre a cultura Dogon, de Mali, ou uma mostra de roupas femininas do Oriente Próximo com curadoria do costureiro Christian Lacroix.
Parte considerável de seu acervo (em torno de 300.000 peças) vem da época da França imperial, presente na África, Ásia, América e Oceania. Portanto, fruto de pilhagem dos bens culturais de diversas etnias colonizadas. Resulta da junção da coleção de objetos oriundos do laboratório de etnologia do Museu do Homem e do Museu Nacional de Artes da África e da Oceania.
É claro que hoje a disposição dos variados objetos não responde mais ao olhar etnocêntrico e evolucionista e à possibilidade de contatar esses Outros excêntricos e atrasados. A exposição privilegia a informação de cada um deles em sua relação com a realidade de origem. Para isso, recorre a vídeos, documentários de época ou feitos mais recentemente. Um museu politicamente correto que não procura apenas espetacularizar culturas, mas disponibilizar elementos para uma leitura crítica, relativista, de religiões, costumes, moradias que não aquelas que margeiam a Avenue des Champs-Élysées e que culminam no Arco do Triunfo.
No entanto, há algo que soa estranho nessa passagem demorada de franceses em frente a vitrines que mostram roupas e utensílios de povos não-europeus. O ruído se dá porque se vive, naquele país, um momento de acirramento da população indígena com os estrangeiros oriundos exatamente daqueles lugares que admiram por detrás do vidro.
Na era Sarkozy, quando a expressão cultural do uso da burca torna-se proibida e a história do garoto curdo que é perseguido pelas novas leis da sociedade de controle francesa vira o filme “Bem-vindo” de Philippe Lioret, como compreender esse afã em visitar o quai Branly? Certamente, grande parte dos franceses não está envolvida nessa rede social de intransigência contra árabes, africanos, latinos, mas ainda assim é uma pergunta relevante. Talvez uma boa pesquisa de público, que agrada tanto aos órgãos gestores da cultura na França, possa nos dizer algo sobre esse paradoxo.
Ou simulacro. Quem sabe não descobriríamos ali apenas a sombra das maiorias silenciosas?
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