O Congado, do modo como conhecemos a manifestação cultural, com suas festas de reinados, união entre ancestralidade africana e devoção aos santos católicos, é apenas uma das faces das comunidades congadeiras.
Na organização da vida em comunidade, as Irmandades do Rosário caracterizam-se como organizações católicas leigas, nem sempre legitimadas pelo estado e igreja católica. Habituadas a resolver seus conflitos internamente, esse método se reproduz até hoje, sem demanda específica requerida junto ao poder público. As mais de 700 irmandades atuantes no Estado de Minas Gerais são as responsáveis pela continuidade e preservação da memória tradicional, por meio de práticas culturais incluindo festas, reuniões, linguagem oral, vestimentas e religiosidade.
A dissertação de mestrado “De reinados e reisados: festa, vida social e experiência coletiva em Justinópolis” (UFMG), da antropóloga Juliana Garcia, aborda, além das muitas festas tradicionais e populares, a complexidade das relações no âmbito do grupo de moradores de Ribeirão das Neves, com o qual conviveu por mais de uma década.
Lembrando a premiada pesquisadora Marina de Mello e Souza sobre a existência de festas de coroação dos Reis Negros na África Portuguesa, se um dos motivos do Congado é a coroação de seus reis, essa referência então já existia: “a cultura está o tempo todo em processo. Nunca vou poder dizer se isso é daqui ou dali porque ela está o tempo todo se modificando”, afirma Juliana sobre a tradição brasileira. “Para aproximar e entender melhor essas manifestações do Congado, a gente tem que operar com a chave de um movimento de diáspora, aí é que está a resposta”, enfatiza.
Apesar da semelhança dos tambores, a forma e estética musical são muito diferentes, gerando estranhamento entre os grupos brasileiro e africano. Porém, na comunidade centenária afrodescente de Justinópolis, sempre houve vontade comum de conhecer essa ancestralidade. O evento “Moçambique de cá e lá”, realizado em 2014, possibilitou a troca de experiências, por meio de encontros com o grupo étnico Makonde.
Os reflexos da experiência serão expressos na Irmandade ao longo dos anos. A tradição do Congado pode se transformar, refletindo a influência de conhecimentos e pessoas novas. À Juliana, no entanto, um dos mestres que esteve em Moçambique já adiantou: depois da viagem, serão capazes de contar a história que agora conhecem pessoalmente e não aquela sobre a qual ouviram falar.
O conteúdo da seção Imagens da Diversidade é produzido com a colaboração da estudante de jornalismo Thainá Barreto (Puc Minas).
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