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O Irã e a revolução feminina

Imagem: Reprodução Twitter

Por Maria Luiza Alves & Merilyn Padilha

O estopim das manifestações: Mahsa Amini

Tudo iniciou quando a jovem Mahsa foi detida pela polícia da moralidade, no Teerã no dia 13 de setembro desse ano. A jovem de 22 anos foi acusada de infringir a obrigatoriedade da vestimenta corretamente, deixando mechas de cabelo à vista. 

Faleceu 3 dias depois, e as autoridades afirmaram que a causa da morte foi uma doença. No entanto, a família de Mahsa alega que ela foi vítima de espancamento, o que a levou ao óbito. Esse foi o estopim para o início da revolução feminina ligada as mulheres iranianas. O caso repercutiu não somente em território iraniano, mas, em mídia global – um grande avanço para o Oriente, considerando que o Ocidente não legitima midiaticamente o dia a dia dessas mulheres tão negligenciadas em direitos fundamentais.

Torcedora assistindo ao jogo do Irã contra o País de Gales no Estádio Ahmad Bin Ali, no Catar | Foto: Reprodução/Twitter

Contra um regime apartheid de gênero 

Desde quando foi estabelecido no Irã, em 1979, a Revolução Islâmica instaurou uma república que  implementou políticas segregatórias e desumanas no país. Semelhante às do apartheid da África do Sul, as políticas contra os direitos das mulheres no Irã ganharam o nome de apartheid de gênero.

As manifestações recentes no Irã representam a luta contra esse apartheid de gênero, que não se limita apenas ao uso obrigatório do Jihab, mas também impede mulheres de terem acesso a educação, ocupar cargos de tomadas de decisão etc.

A polícia da moralidade, responsável pela morte da jovem Mahsa, é uma importante ferramenta de opressão do apartheid de gênero. Seus princípios se baseiam nas interpretações dos textos xiitas canônicos, os mesmos usados para a Constituição da República Islâmica do Irã. Dentre as punições aplicadas pela polícia da moralidade estão multas, chicotadas, prisões desumanas e até a morte.

 

A repressão do Irã

A realidade das mulheres do oriente é pouco discutida pela sociedade do ocidente, ou não tem visibilidade e importância que merece ter. Teoricamente falando, a República Islâmica do Irã considera a igualdade de gênero um direito fundamental socialmente e de cidadania, porém, na vivência a supremacia está ligada ao poder da polícia da moralidade do Irã, que tem o objetivo de “reeducar” iranianas em tradições que não podem ser descumpridas. 

As mulheres iranianas inconformadas com o tratamento centenário, mesmo depois da revolução feminina de 1979, vão às ruas protestar cortando e expondo seus próprios cabelos como forma de chamar atenção da mídia global para a realidade silenciada das mulheres no Irã – considerando que Mahsa não foi a primeira e nem a última vítima, mortes também ocorrem durante os protestos.

Vale ressaltar a importância do suporte que essas mulheres precisam receber para que essa revolução seja de fato consolidada, visto que o país tem um controle midiático de grande porte e um arsenal preparado para prender e agredir essas mulheres, o que de fato já está acontecendo durante os protestos.

O ponto é a visibilidade que um protesto do ocidente tem e um protesto feminino do oriente não tem, posto que o último não chega na mesma proporção, não é da mesma forma considerado uma situação de urgência. Por isso, o país precisou chegar no colapso de protestos para ganhar espaço na mídia e causar incômodo ao governo iraniano. 

A reflexão é esta: não basta apenas lutar pelos direitos das mulheres no seu núcleo de vivência ocidental. Toda mulher tem o direito de se expressar fisicamente como ela se sentir confortável, com Jihab (vestimenta árabe) ou sem, as mulheres iranianas almejam a liberdade, como qualquer outra mulher do mundo, mas, no Irã isso pode custar a própria vida.

Os direitos das mulheres do Ocidente x Oriente 

Os direitos das mulheres tomaram rumos diferentes no Oriente e no Ocidente. Isso se deve a algumas tradições religiosas que predominam em grande parte dos países orientais. Em consequência desse cenário, o movimento feminista que teve grande força nos países ocidentais não foi adotado por mulheres em que os costumes tradicionais predominam.

Grande exemplo da disparidade entre os direitos conquistados pelas mulheres do Ocidente em relação ao Oriente, é o casamento. Nas legislações ocidentais as mulheres são vistas como cidadãs e continuam sendo mesmo quando casadas. Além disso, a idade mínima para o casamento é geralmente de 18 anos.

Já no Oriente, o casamento é imposto à mulher que após casar-se se torna submissa ao marido e perde alguns dos seus direitos. O contrato do casamento sequer pode ser assinado pela noiva, mas sim por um homem responsável por ela. Além disso, a idade  mínima para o casamento é de 13 anos, quando a menina é ainda apenas uma criança.

São várias as disparidades entre os direitos das mulheres no Oriente e Ocidente, e é importante pensar e refletir sobre isso, pois muitas vezes esquecemos que ainda existem situações que não foram superadas acontecendo ao redor do mundo.

Como uma sociedade globalizada, a internet nos deu a possibilidade de nos posicionar e somar a luta de pessoas que não estão fisicamente por perto. Se sensibilizar com as mulheres no Irã, é saber que os direitos de todas as mulheres importam e suas intencionalidades como religião e etnia devem ser considerados e respeitados. O feminismo direcionado apenas a mulheres da sua bolha não impacta o todo. Precisamos, como mulheres ocidentais, usar do nosso direito, que aqui se torna um privilégio, para apoiar e somar a luta pelos direitos das mulheres em qualquer lugar e realidade.

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1 Comentário para “O Irã e a revolução feminina”

  1. Avatar graça disse:

    E um absurdo, que ainda exista no mundo esse tipo de situçao, onde uma criança e entregue como se fosse um objeto sem direito de escolha, Que isso possa ser mudado e essas mulheres possam conquistar seus diretos.

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