Tânia Rêgo | Agência Brasil

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Corte de 96% no orçamento do Censo causará “apagão de dados” para políticas públicas

Valor disponível para a realização da pesquisa caiu de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões

Imagem capa: Foto: Tânia Rêgo | Agência Brasil (Banco de imagens público e gratuito)

REPRODUÇÃO: BRASIL DE FATO

O corte drástico no orçamento para a realização do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) poderá impactar a formulação e a gestão de políticas públicas como o Bolsa Família e o Prouni, avaliam especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato.

Com um corte de 96%, o valor disponível para a produção da pesquisa passou de R$ 2 bilhões para pouco mais de R$ 71 milhões. O repasse foi aprovado na votação do Orçamento 2021, em 24 de março.

Nesse cenário, o IBGE informou, na última terça-feira (6), que as provas para Agente Censitário Supervisor (ACS) e Recenseador, previstas para os dias 18 e 25 de abril, com a oferta de 204 mil vagas, estão suspensas, sem a estimativa de novas datas.

A professora e pesquisadora no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Michelle Fernandez, ressalta que o Censo funciona como um “guia” para orientar os gestores de políticas públicas.

“Precisamos entender o perfil da população, entender para quem estamos criando políticas públicas e o que essa população está enfrentando. Essas informações temos de forma organizada, no Brasil e no Mundo, através dos Censos Demográficos”.

ASSISTA “Desmonte do IBGE gera apagão de dados”

Fernandez explica que o “apagão de dados” pode induzir a erros de implementação de políticas públicas. “Com a suspensão do Censo, não teremos esses dados. Então, ou não vamos realizar essas políticas públicas, porque não saberemos como o problema se apresenta e não poderemos atacá-lo ou solucioná-lo, ou vamos formular e implementar políticas públicas olhando para um perfil populacional equivocado”.

Agências estaduais de planejamento apontam que o corte impacta o sistema estatístico nacional, como explica Maurílio de Lima, presidente da Associação das Instituições de Planejamento, Pesquisa e Estatística (Anipes).

“Com os cortes orçamentários drásticos na principal pesquisa do IBGE, observamos um abalo no sistema estatístico nacional. Uma pesquisa como esta, que mostra o retrato fiel do país, não pode ser considerada uma despesa pura e simplesmente. É o futuro do país que está em jogo neste processo”, pontua de Lima.

Michelle Fernandez explica que o papel do IBGE e das agências estaduais de aplicação da pesquisa é complementar. “Só conseguiremos uma comparação entre as regiões do país com um órgão nacional que possibilite a realização de uma pesquisa igual em todos os lugares, pois sabemos que o Brasil é um país desigual”.

Outro lado

O Censo Demográfico é realizado a cada 10 anos. Os últimos dados são de 2010. O Brasil de Fato entrou em contato com o IBGE para pedir um posicionamento, mas a assessoria informou que o órgão não irá se pronunciar. A equipe também tentou contato com o Ministério da Economia do governo Federal, mas o órgão se recusou a comentar sobre o assunto.

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