Lucas Dior

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“A arte é um espaço de luta nesse mundo tão racista e caótico” – entrevista com Júlia Malaca

 

Júlia Malaca. Foto: Lucas Dior

Dando sequência à série de entrevistas do Mês da Consciência Negra, o ODC entrevistou a artista Julia Malaca. Irreverência e presença são as características de Malaca, artista independente, belorizontina, e que no palco une paixão, calor e memórias. Em um estúdio na Zona Leste de Belo Horizonte, Malaca deu voz à arte que a habitava. “Que Horas Ele Volta”, seu single de estreia, bateu 3 mil visualizações no YouTube em um mês apenas com divulgação orgânica.

No início de 2021, lançou um projeto musical denominado Malaca Quintal Sessions, feito em apenas um mês e que reúne três músicas inéditas, cativando seus ouvintes em um formato diferente e descontraído. Seu último lançamento, “Tu Me Deixou”, contou com a criação de um videoclipe que, assim como os outros, foi feito de forma totalmente independente.

Recentemente, Malaca foi uma das cantoras selecionadas para o Pitch  Women’s Music Event, plataforma nacional de música, negócios e tecnologia focada no protagonismo feminino. Em  2022, participou de eventos em Belo Horizonte como a Virada Cultural, Festival A Ilha, Sarará em Belo Horizonte, além de se apresentar na casa de shows Autêntica. Julia está também terminando sua formação em Relações Públicas na PUC Minas.

 

ODC – Como você, enquanto jovem, mulher e negra pensa a luta e as conquistas do povo negro no Brasil?

 A conquista é diária, o povo preto é maioria nesse país tão diverso, mas somos apagados diariamente nas escolas, faculdades, bares, empresas e outros lugares. Sentimos que não existe ocupação de espaço sem luta, nossos direitos são negados escancaradamente. Somos maioria também nas favelas, nos presídios e qualquer outro lugar que esteja à margem da sociedade, estamos conquistando aquilo que era para ser um direito básico.

ODC – Para a mulher negra, a luta por direitos e respeito parece ser em dobro, pois além da discriminação racial há a luta pela igualdade de gênero. Como você encara tais desafios?

Não tem como fugir da luta, o sentimento de ser apagada em muitas situações por ser mulher e preta é frustrante, além do cansaço físico e mental que é ficar se provando o tempo inteiro.

ODC – Em sua trajetória enquanto jovem, estudante e atuante na área artística e cultural, como a discriminação racial te afetou e às outras mulheres negras com quem trabalha?

O meio cultural e artístico no Brasil é restrito, famosas “panelinhas”, e assim como outras áreas se vê dominada por homens brancos de classe social privilegiada, com isso é muito difícil ocupar esses lugares. Enquanto mulher preta, e tendo um time de assessoria e produção formado majoritariamente por mulheres, é evidente o desprezo e desvalorização quanto ao nosso trabalho. É preciso “bater o pé” para que aprovem nossas exigências básicas quanto artistas, e aceitem que aquele espaço também pode ser ocupado por mim.

ODC – Como você busca reivindicar a representatividade e o protagonismo da mulher negra por meio do seu trabalho artístico e cultural? Como a arte pode ajudar na construção de uma consciência negra?

Minha arte é sobre amor e ser amada, algo que nos é negado até hoje enquanto mulher preta. Somos julgadas como última opção sempre, e por meio das minhas letras de forma lúdica e romântica, mostro que o amor é para o povo preto. A arte é um espaço de luta nesse mundo tão racista e caótico, e por meio dela conseguimos respirar de forma livre.

ODC – No campo artístico, a imagem da mulher é muito atrelada a sexualização de seu corpo. No caso da mulher negra, ainda há estereótipos da “mulata”. Sendo mulher, preta e artista, como você avalia o tratamento dirigido à mulher?

As pessoas esperam principalmente de artistas pretas essa hipersexualização. Não é algo que eu me vejo fazendo hoje, a sensualidade é linda, mas quando exala de um corpo preto vira fetiche e fica vulgar. É uma luta incansável para que enxerguem nossos corpos de forma respeitosa.

A indústria musical é cruel com o povo preto, existem expectativas maldosas em relação a um corpo preto fazendo arte. Devemos incomodar e  provar o contrário, somos seres livres com necessidades, gostos e talentos incríveis.

Para conhecer e seguir Malaca:

Instagram: https://www.instagram.com/malacaxx/

Twitter: https://twitter.com/malacaxx

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCglacHpR3wMQT5JrNtvgCXg

 

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