Andreia Morais/Divulgação

NOTÍCIAS

Mulheres, cultura e disparidade de gênero

Por Carolina Lima

A equidade das condições entre homens e mulheres na sociedade ainda é uma realidade distante, e no setor cultural não é diferente. Apesar dos discursos progressistas proferidos pelas pessoas que atuam nessa área, e da aparente flexibilidade para a mudança de certos comportamentos, as mulheres padecem com os mesmos problemas de outros setores econômicos da sociedade: menor ocupação em cargos de liderança e desproporção salarial. Atrelado a isso, a falta de oportunidades para capacitação profissional e a sobrecarga com tarefas domésticas dificultam a escalada das mulheres.

No final de 2022, o Observatório Itaú Cultural divulgou o estudo Economia Criativa 3º trimestre de 2022 – análise do mercado de trabalho da economia criativa e notas sobre a questão racial na economia criativa. Nesta análise, os dados apontaram que em relação ao perfil dos trabalhadores da Economia Criativa (área que engloba o setor da cultura, bem como comunicação, moda, design e artesanato) “destaca-se uma maior participação masculina (55% de homens, contra 45% de mulheres)”. Os dados demonstraram que 58% dos trabalhadores são brancos, 32% pardos, 8% pretos e 2% demais grupos (amarelos e indígenas),” sendo que há uma discrepância na remuneração média no setor em relação a gênero e raça, uma vez que as mulheres pretas ganham cerca de 70% a menos que homens brancos. Em valores reais, mulheres pretas e pardas recebem por volta de R$ 1.800,00 e homens pretos R$ 2.200,00. Já as mulheres brancas recebem cerca de R$ 2.900,00, enquanto homens brancos recebem em média R$ 3.800,00.

O estudo Igualdade de gênero, patrimônio e criatividade, originalmente lançado pela UNESCO em 2014, e disponibilizado em português em 2021, apresenta a desigualdade vivenciada pelas mulheres nos setores de patrimônio cultural e criatividade. Os anos que separam a publicação original dos dias de hoje não pôs fim a desigualdade existente, uma vez que novos desafios surgiram ao longo do tempo. Conforme coloca Ernesto Ottone R. (Diretor-geral adjunto de Cultura da UNESCO) no prefácio da publicação, “a crise da COVID-19 reverteu os avanços alcançados, uma vez que as mulheres vivenciam uma distribuição desigual do trabalho doméstico  e  sofrem  com  a  falta  de  redes  de  segurança  diante  de  uma  crise  sem  precedentes.” Segundo Ottone R., “à medida que os processos de criação, produção, distribuição e consumo de bens e serviços culturais são transferidos para o ambiente online, a gritante disparidade de acesso digital existente entre homens e mulheres dificulta a realização dos direitos de participação na vida cultural e aos meios de subsistência sustentáveis das trabalhadoras da indústria.”

O estudo ainda demonstra que a desigualdade entre homens e mulheres em diferentes cenários mundiais tem um motivo em comum: a expectativa social sobre as “tarefas das mulheres”. Ou seja, os afazeres ou responsabilidades domésticas, o exercício da maternidade e cuidados familiares são uma barreira para que as mulheres conciliem seus interesses criativos com outras atividades da vida cotidiana.

No Brasil

Foto: Andreia Morais/Divulgação

No Brasil, o retorno do Ministério da Cultura tendo a sua frente uma mulher trouxe expectativas para a área. Criado em 1985, o Ministério da Cultura teve ao longo de sua história 20 ministros, sendo apenas três vezes comandado por uma mulher (contabilizando a atual ministra Margareth Menezes). No entanto, as secretarias que compõem o ministério têm 5 homens e 2 mulheres e, mais uma vez, demonstra que a representatividade feminina fica a desejar quando se trata de ocupação de cargos de poder na política. Nas principais fundações e instituições ligadas ao MinC (Fundação Cultural Palmares, Fundação Nacional de Artes, Fundação Biblioteca Nacional e Ancine), os homens também são maioria: apenas um dos quatro órgãos é liderado por uma mulher.

Em contrapartida, neste 8 de março, o Ministério da Cultura (MinC) divulgou iniciativas importantes. Foram anunciados dois editais voltados para mulheres: Edital Ruth de Souza, que prevê a contemplação de cinco projetos, por meio de seleção pública, para cineastas brasileiras realizarem o primeiro longa-metragem, sendo destinados R$ 2 milhões para cada obra; e o prêmio Carolina Maria de Jesus, para premiação de 40 obras literárias escritas por mulheres, sendo R$ 50 mil para cada obra. Além disso, foi criado o Comitê de Raça, Gênero e Diversidade no MinC, para subsidiar a atuação do Ministério e das entidades vinculadas a ele na elaboração de políticas públicas de cultura transversalizadas pela diversidade, promoção da igualdade de gênero, étnica e racial.

Também no dia 8, o Governo Federal divulgou um pacote de medidas composto por 25 ações voltadas para a igualdade de direitos das mulheres, entre eles, um projeto de lei para garantir igual salário entre homens e mulheres que exerçam a mesma função. Também estão entre as ações um projeto de lei para a criação do Dia Nacional Marielle Franco, voltado para o enfrentamento à violência política de gênero e de raça, um programa de equidade de gênero e raça entre os servidores do Sistema Único de Saúde (SUS) e a criação da “Política Nacional de Inclusão, Permanência e Ascensão de Meninas e Mulheres na Ciência”, voltada para mulheres nas ciências exatas, engenharia e computação.

Aliado a isso, coletivos e instituições surgem para promover uma maior participação de mulheres no campo da cultura, e demonstra que fortalecer as iniciativas de mulheres, é apoiar uma rede de pessoas competentes, criativas e potentes. A seguir deixamos algumas indicações.

Feito por mulheres

Mulheres negras nas artes: https://mulheresnegrasnasartes.tumblr.com/
Organização que tem como objetivo principal o fortalecimento da rede de Mulheres Negras nas Artes.

 

 

 

65 | 10: https://meiacincodez.com.br/
Consultoria para marcas e agências que querem se comunicar melhor com o público feminino. “Nossa missão é mudar o papel da mulher na publicidade para acompanhar os novos papéis da mulher na sociedade”.

 

 

Mulheres na Cultura: https://artsandculture.google.com/project/women-in-culture
Projeto especial do Google Arts & Culture reunindo obras e acervos de mais de 50 museus em todo o mundo.

 

 

 

Movimento Mulheres Sambistas:  https://www.instagram.com/movimentodasmulheressambistas/
Coletivo feminino voltado à capacitação, visibilidade e acolhimento de mulheres vinculadas ao samba.

 

 

 

Mulher no cinema: https://mulhernocinema.com/
Divulga e discute o trabalho das profissionais da indústria cinematográfica, publicando entrevistas, vídeos, críticas e pesquisas, além de reunir as principais notícias sobre o assunto. O objetivo é tanto dar espaço às mulheres que fazem cinema quanto colocar o público em contato com o trabalho delas.

 

 

Mulheres ilustradoras: https://www.mulheresilustradoras.com.br/
Diretório aberto de ilustradoras que atuam no mercado brasileiro. Tem como objetivo aumentar a visibilidade de ilustradoras mulheres cis ou trans, pessoas não-binárias, LGBTQ+ e pertencentes a minorias.

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

Chamada para publicação – Boletim 101, N. 01/2024

CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária  Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024   A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]

CURSOS E OFICINAS

Gestão Cultural para Lideranças Comunitárias – Online

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]

Mais cursos