Medir o bem-estar de uma sociedade é algo complexo. São mais de sete bilhões de pessoas espalhas pelos quatro cantos do globo e com enorme diversidade nos mais diferentes aspectos sociais, econômicos, religiosos e culturais. Para realizar essa difícil tarefa, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou, na década de 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que observa os diversos povos da terra sob a ótica de renda, saúde e educação.
Mas para o pesquisador Julio Aurélio, da Fundação Casa de Rui Barbosa, o IDH deveria levar em consideração mais um indicador: a cultura. Aurélio iniciou, em 2015, a pesquisa “Cultura e desenvolvimento humano”, que busca mostrar a importância da cultura no desenvolvimento das sociedades. O desafio é buscar um fator cultural que possa ser usado da medição feita pela ONU, o que impulsionaria as políticas públicas no setor.
Confira abaixo a entrevista:
Qual a importância do IDH para a sociedade?
O IDH é um índice usado pela ONU e já é unanimidade para se medir a qualidade de vida nas várias sociedades. O índice surgiu na década de 90 e é composto por apenas três dimensões: a renda (medida pelo Produto Interno Bruto), educação (medida pelos anos de educação de adultos e pela expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar) e a saúde (medida pela longevidade). Cada uma entra de uma maneira no IDH. Acredito que só esses três indicadores são pouco para medir algo tão complexo.
A cultura seria um desses indicadores a serem incluídos nesse índice?
A importância de incluir a cultura é muito grande para o desenvolvimento das populações e para se valorizar mais as políticas culturais. E isso não só no Brasil e no MinC, mas para qualquer outra sociedade. Quanto mais amplo o acesso à cultura e a sua diversidade, maior o desenvolvimento social. Inserir a cultura como um componente essencial ao desenvolvimento humano é uma forma de entender essa importância. O que impede que uma peça de teatro contenha, ou seja, também um show musical? Nada impede. Uma coisa que penso é que os governos podem produzir editais de espetáculos integrados, que ampliem a experiência cultural e artística da população. Seria uma forma de levar a arte para mais pessoas e com mais experiências integradas.
Como seria medido esse índice? Tendo em vista que vivemos em mundo com uma rica diversidade.
Vou fazer o levantamento de vários indicadores culturais que sejam capazes de medir a experiência cultural. Tenho a preferência de buscar indicadores que já existam ou, até ao final da pesquisa, propor um que mensure o percentual de população e experiência artística. Cultura é a arte, mas não termina nas artes. Tem a memória coletiva, os patrimônios culturais. Acredito que já poderia ser dado o passo de incluir o percentual da população que tem acesso a três itens culturais: filmes (audiovisual), livros e teatro. Não é que esses itens sejam suficientes, mas estou procurando fazer e montar um indicativo compatível com os outros três itens que já existem (renda, educação e saúde). Assim como a saúde, que é aferida pela longevidade e de maneira muito básica, deveríamos agir assim na cultura. O fato de não termos todos os indicadores possíveis medidos não desqualifica a medição. Esses itens são relevantes em qualquer país e sociedade do planeta.
Num mundo tão amplo, é fácil achar outros indicadores que também são relevantes. Por que a cultura?
Eu reconheço que muitos outros itens são importantes, mas a cultura é um deles. O importante é aferir a adesão da sociedade em experiências artísticas. É dali que posso dizer que está havendo desenvolvimento humano do ponto de vista cultural. A cultura é a doação da sociedade para os seus membros, a cultura e as experiências culturais podem influenciar positivamente todos os outros níveis.
Como surgiu a ideia de pesquisar o assunto?
Estou no setor de políticas culturais da Casa de Rui Barbosa e, este ano, sairá um livro pela Casa que veio do meu estudo de pós-doutorado na Universidade Federal de Pernambuco. Foi lá onde passei a enxergar a teoria de que a cultura deveria estar na concepção da sociedade. Além disso, sou membro da Comissão de Economias da Cultura do Ministério da Cultura. Desde o início de 2015, temos feito reuniões regulares sobre o assunto e isso me inspirou a estudar o tema. A construção de vínculos é importante para cultura. Com a sua pergunta, foi a primeira vez que me perguntei também o que me levou a estudar o assunto, mas foram basicamente essas duas coisas.
Como é o processo de pesquisa?
A pesquisa é dividida em duas partes. A primeira é levantar dados e argumentos dentro da própria ONU. Na organização, existem diversos órgãos internos que valorizam a cultura como importante para o desenvolvimento humano. Basicamente, a ideia já existe de várias maneiras e elas dizem que a cultura tem relevância fundamental. É pela cultura que se constrói a identidade de uma sociedade, são as experiências culturais que uma pessoa vive que a transforma. Por exemplo, uma pessoa que viaja muito tem um contraste muito grande com quem não viaja tanto. Podemos afirmar que essa pessoa costuma ter um desenvolvimento cultural maior.
A segunda parte é reunir pensamentos e teóricos que defendem a cultura como ingrediente fundamental do desenvolvimento humano. Já tenho preferência sobre o pensamento que a cultura é doação social, é o que a sociedade e os grupos que fazem parte dela dão aos seus membros. A cultura é riqueza na sua própria constituição. Não existe cultura que seja um bloco fechado. Cada cultura também é diversificada em si mesma. Ainda preciso estudar mais e qualificar melhor a pesquisa, o prazo para publicação final é em 2018.
O que você espera ao final da pesquisa?
Depois dessa pesquisa, eu acredito que vamos conseguir pensar em qualificar culturalmente os bens e serviços públicos. O metrô de Moscou, na Rússia, já foi considerado o mais bonito do mundo. Ele é formado basicamente por galerias de arte. O que impede que todos os serviços de transporte tenham e sejam ambientes culturais? Podemos ampliar a experiência cultural por meio de bens e serviços que deveriam ser de acesso universal. No Brasil, temos bons exemplos. Os Pontos de Cultura do MinC são um exemplo da qualificação cultural de bens públicos. Espero fazer e incitar os gestores públicos – não apenas os da área de Cultura – para que eles venham a reconhecer a dimensão cultural tanto quanto se reconhece, atualmente, a dimensão ambiental em políticas públicas.
Mariana Menezes
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura
Fonte: www.cultura.gov.br
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