INFORMAÇÃO

Aprendizado e diversidade no contexto das tecnologias de informação e comunicação

Texto camila

Camila Alvarenga[1]

As tecnologias de informação e comunicação (TICs) transformaram rapidamente a maneira como a sociedade lida com tempo, o espaço, o aprendizado e outras instâncias do mundo da vida. Em seu ensaio intitulado “Tempo e tecnologia”, Paulo Vaz aponta para o fato de que estas transformações ocorreram em muito pouco tempo e que, em menos de uma geração, vários de nós a experimentamos no decorrer de nossas vidas.

Influenciada pela incursão das TICs no cotidiano, as interações sociais passam, cada vez mais, a serem mediadas pelos dispositivos midiáticos. Para Martín-Barbero (2014), a tecnologia deixa de ter um aspecto pontual, para atravessar-nos de ponta a ponta, espacial e temporalmente. Dessa forma, deve-se conceber as tecnologias de informação e comunicação e, também, o campo da Comunicação, não como sinônimos de mídia ou dos meios de comunicação pura e simplesmente, mas como um campo que assume um importante papel na configuração das mediações, das interações socioculturais e da organização da sociedade.

Afinal, de acordo com Sonia Livingstone (2009), “nossa vida atual é marcada pela ‘mediação de tudo’ que age em diferentes mídias ao mesmo tempo”. Tempo que, por sua vez, sofre influências diretas da tecnologia e, também, influencia na configuração de novas formas de lidar com as diversas instâncias da vida cotidiana: conhecimento, aprendizado, educação, etc.

Sob os auspícios da tecnologia, o saber escapa dos lugares sagrados que o continham e legitimavam. As tecnologias da informação e da comunicação expandem e escancaram as Semioses. O digital torna tudo mais visível para todo mundo, ele potencializa as interações e produções de sentido na medida em que outros meios de conhecimento estão em circulação, além dos livros. A subjetividade e a produção simbólica do sujeito são permeadas por um campo de interação entre as tradicionais estruturas de comunicação de massa e as novas tecnologias (gadgets, internet, aplicativos, redes sociais, etc.).

Os sujeitos convivem em outro circuito de aprendizado, comunicação e interação social, no qual têm acesso a diferenciados estímulos de informação, mensagens e conteúdos (quer seja audiovisual, sonoro ou textual) e pode, a partir de sua apropriação de sentido, compartilhar socialmente suas interpretações, também por meios diferenciados (imagem, texto e som), de forma interativa e, muitas vezes, gratuita.

Tudo isso faz parte e, ao mesmo tempo, fomenta a diversidade cultural. De acordo com a Declaração de Okinawa (2000) “as tecnologias da informação oferecem às pessoas perspectivas sem precedentes para criar e compartilhar conteúdos culturais e ideias, em escala mundial e a baixo custo”. É por meio da Comunicação e, cada vez mais, das TICs que os sujeitos têm a possibilidade de expressar suas identidades, opiniões e pontos de vista confrontando-os com o de outros indivíduos inseridos em contextos culturais completamente distintos ou semelhantes.

O aprendizado se encontra em um fluxo sempre adiante, cada vez mais fragmentado, sem lugar específico para acontecer, em diversos contextos e temporalidades. Diante deste cenário, como as instituições educacionais lidam com esta configuração? Elas estão se adequando a estas mudanças? A educação já não pode mais ser concebida a partir de um modelo de comunicação escolar que não acompanhe a diversidade cultural e os processos de formação advindos da era da informação. A tecnologia, a internet e as redes sociais ampliam as capacidades educativas e ultrapassam os muros da escola.

As instituições escolares, em sua grande maioria, concebem o ensino enquanto sistema polarizado “educador-educando”, deixando de incluir neste processo o peculiar, o contexto de vivência do sujeito e toda a diversidade advinda da cultura e das interações sociais. O forte tradicionalismo dessas instituições as tornam hipermetrópicas, algumas em maior grau do que outras. Elas apresentam certa dificuldade em enxergar de perto o que acontece no cotidiano dos alunos, seus gadgets sempre a postos os proporcionam outros espaços, temporalidades e possibilidades de aprendizado.

A sala de aula se torna um local desinteressante e imprime nos alunos uma sensação de perda de tempo. Esta transformação dos saberes gera tensionamentos que demandam uma nova instituição preparada para lidar com a pluralidade de inteligências e as tecnologias de comunicação e informação podem ser um meio de proporcionar esta expansão da capacidade educativa, de forma a valorizar a diversidade e as formas não canônicas de aprendizado.

Contudo, se por um lado, os sujeitos têm acesso a uma maior quantidade de informações, aprendem por diversas plataformas, em diferentes espaços e o tempo todo, por outro, ainda são considerados meros receptores por grande parte das instituições escolares. Estas, ainda consideram a relação sujeito/objeto de forma polarizada, no formato educador-educando, em detrimento de uma visão que considere a interação entre eles.

Basta ter acesso aos Planos Nacionais de Educação do Brasil para confirmar esta premissa, o campo da Comunicação e as TICs estão reduzidos aos seus aspectos instrumentais e acessórios à Educação, mesmo diante de uma realidade sociocultural contemporânea que vai contra esta perspectiva. É preciso superar esta visão tradicionalista, tanto nos processos comunicativos quanto nos educativos, de forma a reconhecer, fomentar e valorizar o protagonismo do sujeito levando em conta a diversidade e o contexto sociocultural no qual ele se insere. E não somente impor como regra uma configuração já estabelecida destes processos, todavia ultrapassada.

* Mestranda em Comunicação Social na PUC-Minas, bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição e em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

Referências:

VAZ, Paulo. Tempo e tecnologia. IN: DOCTORS, Márcio (org.). Tempo dos tempos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.

MARTÍN-BARBERO, Jesus. A comunicação na educação. São Paulo: Contexto, 2014.

LIVINGSTONE, Sonia. On the mediation of everything. Journal of Communication, vol. 59, n. 1, p. 1-18, 2009.

[1] Mestranda em Comunicação Social na PUC-Minas, bacharel em Comunicação Social pela mesma instituição e em Gestão de Organizações do Terceiro Setor pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Pesquisadora do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade Cultural.

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