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Capoeira, resistência e mutação

A capoeira emerge no Brasil com a chegada de homens negros que vieram suprimir a mão de obra do trabalho desumanizado das lavouras de cana de açúcar e das minas de ouro. Cativos e humilhados pela escravidão, a capoeira era uma forma de interação da diversidade de escravos oriundos de diversas culturas africanas.
A capoeira é, antes de tudo, um movimento de resistência. A origem do termo está associada aos homens negros cativos que em suas fugas utilizam as vegetações rasteiras para dificultarem a o encalço dos capitães-do-mato. Segundo o site Toda Matéria, o termo “capoeira” denota “o que foi mata”, por meio da conexão dos termos ka’a(“mata”) e pûer (“que foi”).
Atualmente, é uma das mais importantes e conhecidas expressões culturais do Brasil. Durante estes 4 séculos desta prática em solo brasileiro, a capoeira sofreu, naturalmente, alterações de seu formato original. Existem hoje três vertentes de capoeira: a angola, regional e contemporânea e, ambas coexistem e permeiam seus adeptos.

Pintura de Augustus Earle licenciada via Creative Commons.

No entanto, uma outra forma de capoeira cresce e gera tensão nos adeptos: é a “Capoeira Gospel”. A bióloga Nayara Trevisani, de 28 anos, pratica capoeira há 6 anos, sendo 4 de regional e 2 anos de Angola, e fala sobre a “Capoeira Gospel”. Trevisani salienta que a capoeira tem espaço para todo mundo, mas que não se deve esquecer da origem da capoeira, pois ele tem uma influência muito forte da matriz africana.
A relações públicas, Priscila Paiva, é contra este tipo de capoeira. Para ela, capoeira não é religião. “Eu sou totalmente contra essa denominação da capoeira, ainda mais incluir pregações na capoeira. Capoeira não é religião, quem tem religião é o capoeirista e não a capoeira. Mas é inegável que a capoeira tenha a mesma raiz do candomblé e, por isso, elementos que remetem a religiões de matriz africana. ”, diz
Em 2008, com base no inventário realizados nos estados da Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) registra a capoeira como bem cultural e, em 2014, recebe da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade.
Priscila Paiva, de 36 anos, fala da importância deste título para a prática: “O título da Unesco afirma um reconhecimento/valorização mundial pela capoeira, que atualmente está presente em mais de 150 países. Para o Brasil este título deveria representar um compromisso de preservação/salvaguarda dessa manifestação cultural e a criação e manutenção de políticas públicas. A capoeira não corre o risco de acabar, mas corre o risco de ser deturpada e/ou padronizada, a salvaguarda é justamente para manter a sua diversidade, sua raiz e ancestralidade” enfatiza.
A capoeira, como qualquer outro patrimônio cultural imaterial, está sujeita a mudanças justamente por ser uma manifestação viva que sofre as variações do tempo. Priscila acredita que as gerações vão somando elementos da sua época a capoeira, no entanto, a deturpação e exclusão de elementos de sua raiz não devem acontecer.
Já para o Mestre Suíno, líder do movimento Capoeiristas de Cristo, praticante de capoeira há 40 anos e convertido há 25, a capoeira é um lindo e potente instrumento de evangelização. Em uma entrevista para o site BBC Brasil, o capoeirista disse: “Hoje é difícil você ir numa roda que não tenha um (capoeirista evangélico), e vários capoeiristas viraram pastores. É um instrumento lindo de evangelização porque é alegre, descontraído, traz saúde, benefícios sociais”
O Mestre Suíno disse que a adoção do termo “gospel” foi adotada como uma forma de convencer os pastores que a capoeira pode ser praticada de acordo com os princípios cristãos. “Não existe capoeira gospel! Não queremos bagunçar a capoeira. Nós respeitamos os mestres, respeitamos os fundamentos da capoeira, respeitamos as tradições, e vamos defender porque quem não defende a capoeira não tem direito de ser capoeirista”, conclui.
A capoeirista Priscila Paiva afirma que a raiz da capoeira é a mesma do candomblé. “Embora as músicas de capoeira tenham sim elementos de religiosidade, principalmente das religiões de matriz africana e mesmo do catolicismo (até pelo sincretismo religioso), isso é devido ao fato de que estas eram as religiões dos capoeiristas da antiguidade e eles se expressavam através das músicas. A raiz da capoeira é a mesma da do candomblé. Inclusive muitos mestres de capoeira eram (e muitos da atualidade ainda são) praticantes do candomblé.

 

Fontes:

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41572349?ocid=socialflow_facebook

https://www.todamateria.com.br/capoeira/

http://portalcapoeira.com/capoeira

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