Raquel Utsch[1]
Podemos pensar a experiência midiatizada como processo comunicacional que interfere na produção cultural local com a profusão de conteúdos de alcance global, enfatizando a dimensão do testemunho do cotidiano por pessoas e instituições mediadoras que traduzem informações em defesa dos direitos sociais e culturais. Tornam-se, assim, fontes de informação que prevalecem, muitas vezes, sobre a narrativa dos meios de comunicação nas redes sociais e que criam tensões importantes que questionam e impactam as instituições midiáticas, o Estado e o mercado.
Para o filósofo Dominique Wolton, rompendo com as amarras do desconhecido, a atualidade acentuou a formação de uma narrativa que organiza a defesa, distanciando as diferenças. Ele defende que a sociedade da comunicação não corresponde àquela “em que ‘tudo se comunica’, esquema este da sociedade da informação. É, ao contrário, aquela em que entre a informação e a comunicação reconhece-se a importância da incomunicação e da coabitação”[2].
A potência política dessas situações comunicativas diz respeito à interconectividade das expressões culturais que articuladas em rede podem estabelecer associações no tempo e no espaço de forma dinâmica e reticular, acompanhando e reinterpretando o desenrolar dos acontecimentos, no espaço integrado das ruas e redes sociais. Produzem relatos sobre os fatos cotidianos, o que acontece na esfera das múltiplas articulações, confrontos e reformulações discursivas das redes sociais.
Assim, a comunicação de diferentes vozes e ideias em redes tecnológicas articula narrativas sobre os acontecimentos da vida em comum que ocupam crescentemente espaços, muitas vezes, destinados, antes exclusivamente, às versões dos meios de comunicação convencionais.
Tais conteúdos, uma vez circulando na interface das mídias convencionais e redes sociais, reconfiguram-se conforme processos de reinterpretação social. Dessa forma, práticas de mobilidade física e informacional produzem ruídos em relação aos recortes espaço-temporais efetuados pelos meios de comunicação tradicionais.
Essas práticas interativas caracterizadas pela mobilidade espacial permitem ressignificar o espaço coletivo, criando possibilidades de coabitar e inventar outras realidades. Nesse sentido, a comunicação contemporânea convoca ao desafio de – mais do que transmitir informações – estabelecer pontes, criar vínculos e transformar a convivência social, ao compartilhar diferentes sentidos para a vida em comum.
[1] Mestre em Comunicação Social e graduada em Comunicação Social / Jornalismo (PUC Minas). Pesquisa redes sociais e processos multimidiáticos colaborativos. Pesquisadora do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade Cultural.
[2] WOLTON, Dominique. É preciso salvar a comunicação. São Paulo: Paulus, 2006. p. 151.
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