O Cafundó, comunidade quilombola em Salto de Pirapora, a 150km de Campinas, luta para preservar a cultura de seus ancestrais, ex-escravos que fundaram o local em 1888 nas terras doadas por um fazendeiro. Hoje são 24 famílias, pouco mais de 100 habitantes no local, que atende oficialmente pela denominação Associação Remanescente de Quilombo Kimbundo do Cafundó, que se dividem em duas parentelas — Almeida Caetano e Pires Pedroso, ambas descendentes das filhas do fundador do agrupamento.
Embora seja uma comunidade centenária, o CNPJ da associação, com sede na Rua Hum do Canfundó, foi constituído somente em 2002. Atualmente a comunidade sobrevive da agricultura com a participação de 11 famílias no cultivo de hortaliças em três estufas. A produção é entregue ao programa de doação simultânea de alimentos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), com apoio técnico da Fundação do Instituto de Terras de São Paulo (Itesp).
A intenção é ampliar os ganhos com a colheita de cítricos esperada para maio do próximo ano. Além disso, outras fontes de renda são o artesanato, com destaque para as bonecas de palha de milho, e também o faturamento com a tradicional Festa de Maio, em devoção à Santa Cruz, Nossa Senhora e São Benedito, padroeiros da comunidade.
As glebas herdadas pelos descendentes de Ifigênia, filha de Joaquim Manoel de Oliveira Congo, o fundador do Cafundó, não são o maior patrimônio do local. É a cupópia, língua de raiz africana derivada do quimbundo (ou kimbundo), idioma falado principalmente em Angola, o mais precioso tesouro cafundoense. A língua secreta era a arma dos escravos para manter seus planos de fuga incompreensíveis aos ouvidos dos capangas de fazendeiros escravocratas.
Fluente apenas em dois descendentes de Ifigênia, seus netos Marcos Norberto de Almeida, 56 anos; e Juvenil Rosa, 59 anos, a cupópia corre sério risco de desaparecer. O desinteresse dos mais jovens com as tradições da comunidade é o principal fator que eleva o risco de extinção do idioma, lamenta Almeida. Sua companheira, Regina Aparecida Pereira, de 57 anos, uma das coordenadoras da comunidade, lembra que o preconceito do povo da cidade em relação aos hábitos cafundoenses sempre exerceu grande influência negativa entre os quilombolas mais novos. “As crianças eram ridicularizadas na escola por sua língua própria e hábitos. Não queriam mais aprender a cupópia”, conta.
Os vocábulos da cupópia ainda são falados pelos quilombolas do povoado. Quem visita o Cafundó se depara com pessoas que, em certas circunstâncias, usam sua língua secular, principalmente diante de estranhos. Palavras como angura (bebida), orobongui (dinheiro), variá (comida) e curima (trabalho) ainda são pronunciadas no cotidiano da comunidade. “Todo morador entende o significado das palavras em quimbundo”, diz Regina. Para ela, que é de Campinas e passou a conviver no Cafundó nos últimos 13 anos, a língua que se fala no local é o quimbundo e não a cupópia. Há uma confusão em relação ao nome da língua. Prova disso, reforça, foi o reconhecimento da língua do Cafundó como Quimbundo, por uma angolana que conheceu a comunidade em fevereiro deste ano.
Fonte: Correio Popular
Foto: César Rodrigues/ AAN
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