Entre 2010 e 2016, houve um crescimento de 255% de indígenas inscritos no ensino superior
“Temos que ocupar esses espaços para entender e se proteger da sociedade não-indígena, mantendo na consciência quantos dos nossos ancestrais já morreram nessa luta” conta o estudante de geografia da Universidade Federal de Santa Catarina Lauhã Kamayurá. Ele e indígenas de todo o Brasil têm a possibilidade de traçar um caminho diferente em relação à educação devido, principalmente, à realização de políticas afirmativas como a Lei de Cotas (lei 12.711) que obriga universidades a reservar vagas para pardos, negros e indígenas.
Tanto essa lei quanto demais políticas setorializadas – como as que acontecem na UFSC que preveem 22 vagas reservas para estudantes indígenas desde 2008 – apresentam seus efeitos positivos. De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de indígenas matriculados no ensino superior cresceu 255% entre os anos de 2010 e 2016.
Vale ressaltar também a existência de outro projeto importante para o aumento dessa taxa. Pelo Programa de Bolsa Permanência (PBP), o governo repassa a estudantes aldeados – que cresceram em aldeias – uma bolsa para que possam manter-se na cidade.
No entanto, o ingresso é apenas o primeiro obstáculo enfrentado por estudantes indígenas. Alvo de preconceito e questionamento sobre o próprio modo de vida – algo infelizmente vivenciado comumente por minorias sociais -, eles enfrentam muitas vezes processos de adaptação dolorosos. Ítalo Mongconãnn, estudante de cinema da UFSC, recorda que foi chamado de “índio confuso” por uma antropóloga por usar roupas de marca e ter um celular. Embora não queira voltar para sua tribo natal, deseja defender a cultura indígena por meio de obras audiovisuais e acredita que privar indígenas de tecnologia fere a individualidade.
Além disso, muitos indígenas sofrem preconceito pela internet e pessoalmente por falta de informação e preconceito. “Tem umas piadinhas que não incomodam tanto, são pessoas com falta de informação. Elas perguntam o que a gente come. Comida, ué”, brinca Jafe Sateré, das margens do Rio Andirá, também estudante da UFSC.
Essas e outras histórias mostram que, embora o número tenha crescido, indígenas universitários ainda têm que enfrentar dificuldades diárias por causa da origem. Cabe atenção a esse contexto e enfretamento contra preconceito generalizados e práticas de ódio, mas não deixemos de festejar o bem-vindo crescimento.
Fonte: Portal Outras Palavras: texto de Andressa Santa Cruz, Clara Comandolli e Maria Teresa Mazetto
Imagem: Portal Outras Palavras
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