Curso Desenvolvimento e Gestão Cultural enfatiza relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento.
Refletir sobre a centralidade da cultura como projeto político para o desenvolvimento humano implica lidar com situações de conflito e práticas de negociação entre diferentes perspectivas. Com foco nos modos e arranjos de trabalho cooperativo, o curso Desenvolvimento e Gestão Cultural propõe formação que busca intervir no circuito cultural, por meio da organização coletiva, assim como a construção de redes nas quais a elaboração de propostas e projetos culturais resulte da análise crítica e integrada de aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos e políticos. Elementos simbólicos, formato dos eventos, processos comunicacionais e interesses mercadológicos são alguns pontos que devem ser analisados, tendo em vista a sustentabilidade, coerência e consistência da proposta cultural.
José Márcio Barros e Rodolfo Fonseca, professores do módulo “Cultura, Diversidade e Desenvolvimento”, propuseram o debate em torno dessas questões, no último dia 25 de maio. Barros explicou sobre a importância da dimensão sociológica da cultura que envolve as instâncias da produção, circulação e consumo de bens simbólicos, configurando-se por demandas institucionais, políticas e econômicas. Já a dimensão antropológica abrange o que o homem produz, elabora e simboliza, através dos processos de interação social.
As dimensões sociológica e antropológica têm que se consolidar de forma integrada, para que a cidade configure-se como espaço de participação, onde os eventos culturais e artísticos cumpram a missão de formação de público, com acesso contínuo e geração de relações de pertencimento e sociabilidade. “Articular as duas dimensões situa o lugar da cultura como espaço de reconhecimento dos sujeitos, àquilo que dá sentido à convivência”, afirmou Barros. Como ressaltou o professor, a cultura expressa os modos de sentir e pensar, valores, identidades e diferenças: “Arte e cultura celebram a cidade como espaço de encontro e sociabilidade”.
O conceito de cultura, na definição da Unesco, foi lembrado para além das artes e da literatura, ao abarcar também “conjunto distinto de elementos materiais, espirituais, intelectuais e emocionais de sociedade ou grupo social”. Barros reforçou a necessidade de articulação entre as dimensões simbólica – ou dos modos de fazer e criar que oferecem resistências e identidades, advindas da experiência cultural e educacional; cidadã, que implica o direito a condições de criação, fruição, difusão, identidade, cooperação e participação no contexto cultural; e econômica – ligada à cadeia produtiva da cultura.
Capital social
O desenvolvimento econômico é, fundamentalmente, social e cultural, expressando-se com base em indicadores como qualidade de vida, equidade, democracia e sustentabilidade. Nesse sentido, Rodolfo Fonseca discutiu o conceito de capital social, ancorado no grau de confiança construído entre indivíduos de uma sociedade; possibilidade de integração através dos contatos sociais, normas ou expectativas de reciprocidade e comportamentos confiáveis. Outro ponto que indica a existência de capital social é a capacidade de determinada sociedade de associar-se em entidades ou instituições e, ainda, gerar cooperação, formar redes, acordos e consensos.
Na prática, capital social consiste no modo como resolvemos nossas diferenças, conflitos e desencontros; refere-se às mediações que ativamos para melhor viver juntos. “O capital social media as dimensões simbólica e cidadã da cultura e influi na dimensão econômica, ou de sua sustentabilidade”, afirmou Fonseca. Contextos sociais foram analisados na perspectiva da capacidade de desenvolvimento e adesão coletiva a projetos culturais; implicações e desafios de ser público e ainda de que forma a noção de coletividade solidariza indivíduos a unir forças e ideias para superar momentos de crise.
Conteúdo
O curso Desenvolvimento e Gestão Cultural foi iniciado com o módulo Trabalho colaborativo e em rede com a Cultura, em 18 de maio. No dia 25, foi a vez do tema Cultura, diversidade e desenvolvimento e, no próximo sábado, 8 de junho, a turma de 41 alunos tratará das Políticas públicas de Cultura no Brasil, módulo que traçará painel sobre a conjuntura atual no ambiente das políticas para a cultura e sua influência na construção de projetos culturais. No turno da tarde e próximo dia 15 de junho, o assunto será Planejamento Estratégico com a Cultura, para compreensão e construção das estratégias na área.
O programa de 88h/aula compreende ainda os módulos: Elaboração de projetos culturais; Mecanismos de financiamento e de viabilização de projetos culturais; Aspectos jurídicos da Cultura; Planejamento estratégico com a Cultura; Produção cultural; Gestão de espaços culturais; Gestão de projetos culturais; Seminário de resultados.
ODC
Reconhecido pela Unesco como uma das entidades, no mundo todo, que promove e protege a diversidade cultural, o ODC é uma organização não governamental que tem como objetivo produzir informação e conhecimento, assim como gerar experiências e experimentações, atuando sobre os desafios da proteção e promoção da diversidade cultural. O Observatório desenvolve programas de ação colaborativa entre gestores culturais, artistas, arte-educadores, agentes culturais e pesquisadores, construindo competências pedagógicas, culturais e gerenciais. A Ong busca incentivar e realizar pesquisas e práticas inovadoras, proporcionando experiências de mediação no campo da Diversidade Cultural – entendida como elemento estruturante de identidades coletivas abertas ao diálogo e respeito mútuos.
CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024 A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]
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