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Ecos que n茫o se findam

Teatro negro redesenha novo cen谩rio com cria莽玫es que ocupam lugar na produ莽茫o art铆stica

Em conversas alongadas, com vozes calmas como que se explicassem algo que gostariam que fosse entendido, alternadas por momentos de entusiasmo, os entrevistados desta mat茅ria pareciam tanto querer dizer como o pr贸prio teatro negro.

Em um momento em que as artes c锚nicas refletem a organiza莽茫o do movimento negro, com crescentes iniciativas art铆sticas que abordam suas tem谩ticas, muito caminho h谩 pela frente para uma s贸lida inser莽茫o no mercado art铆stico de atores negros. 脡 a partir dessa realidade que nasce a Mostra Benjamin de Oliveira, que est谩 com inscri莽玫es abertas para espet谩culo de elenco predominantemente negro.

Apesar da dif铆cil defini莽茫o, parece haver pontos comuns em torno do termo que se baseia na afirma莽茫o da identidade negra, que bebe na matriz africana valores, viv锚ncias e o combate 脿 discrimina莽茫o racial para o palco.

Para a pesquisadora e atriz Soraya Martins, a est茅tica do teatro negro 茅 pol铆tica e se baseia em uma constante cria莽茫o e recria莽茫o. 鈥淩elembrar 茅 recriar uma cultura que vai dialogar com suas ra铆zes e traz锚-la de modo diferente鈥. O ator Alexandre de Sena acredita que a nomenclatura vem para marcar um territ贸rio na produ莽茫o art铆stica que n茫o abarca a cria莽茫o do negro. 鈥淥 pr贸prio termo 茅 uma resist锚ncia鈥, ressalta. O ator e pesquisador Marcos Alexandre pensa o teatro negro como lugar de enuncia莽茫o, a partir dos pontos de vista desse sujeito negro que aborda seus saberes e experi锚ncias individuais e coletivas.

O consenso tamb茅m se estabelece ao dizer da est茅tica desse teatro, a qual preferem o plural, as est茅ticas, em fun莽茫o da diversidade que apresentam, muito embora a corporeidade 茅 destacada. O corpo, entendido como instrumento de mem贸ria, 茅 uma forma de acesso 脿 hist贸ria desses sujeitos. 鈥淎 partir do momento em que os negros foram escravizados e tirados do seu lugar de fala, eles n茫o tinham outro lugar, a n茫o ser o corpo, para deixar e para entrar em contato com sua cultura鈥, diz Soraya.

A constru莽茫o desse teatro tem bases em outros tempos. O cl谩ssico 鈥淥 Imperador Jones鈥, texto do estadunidense Eugene O鈥橬eill, provocou um dos primeiros impactos no Brasil. A trag茅dia de um l铆der negro foi vista em 1941 nos palcos do Teatro Municipal de Lima, capital do Peru, por Abdias do Nascimento, intelectual e militante da causa negra. O impacto veio associado a um choque: o her贸i negro era representado por um ator que tinha sua pele branca pintada de preto.

Nascia, tr锚s anos depois, no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental Negro, TEN, com o desejo de combater os estere贸tipos e ocupar o espa莽o que fora negado aos afrodescendentes. De forte afilia莽茫o pol铆tica, o TEN descreve em seu manifesto ser objetivo do grupo valorizar a contribui莽茫o negra 脿 cultura brasileira e dotar os palcos de uma dramaturgia intrinsecamente negra.

Com elenco que contava com nomes como Lea Garcia, Ruth de Souza, o TEN produziu pe莽as que explicitavam o drama negro como o j谩 citado 鈥淥 Imperador Jones鈥 e 鈥淎njo Negro鈥, de Nelson Rodrigues. 鈥淓les colocaram esse sujeito no teatro como homem鈥, diz Marcos Alexandre, que relembra ainda a ocupa莽茫o do TEN a outros territ贸rios para al茅m dos palcos, realizando semin谩rios, f贸runs e atuando naeduca莽茫o da comunidade negra.

Inspirando outras iniciativas, o TEN 茅 base do Bando de Teatro Olodum que se destaca por experi锚ncias expressivas no teatro negro no Brasil contempor芒neo. Surgido em 1990, na Bahia, 茅 deles que vem o discurso que assume as cr铆ticas em rela莽茫o ao que se chama de teatro panflet谩rio. 鈥淎 gente montou Shakespeare com reis e rainhas negros e nem por isso deixamos de abordar a genialidade do dramaturgo. Queremos assumir o protagonismo. Talvez seja panflet谩rio sim, mas acho que ainda temos que ser鈥, comenta C谩ssia Valle, atriz do grupo desde 1991.

Os discursos panflet谩rios que chegam aos palcos sem muitas vezes receber um tratamento art铆stico, levando quase que de forma direta o discurso acad锚mico e militante direto para os palcos, 茅 quase um v么mito. 鈥淥 risco do panflet谩rio existe porque quando a gente encontra um lugar pra falar, a gente j谩 est谩 preenchido de gritos. E essa parte seguinte de uma constru莽茫o art铆stica fica talvez em segundo plano. A sensa莽茫o de estar e de ocupar um lugar que n茫o te aceita 茅 de chegar ali e gritar mesmo鈥, diz Alexandre.

Dando seguimento a uma linhagem, a Cia dos Comuns surge em 2001, no Rio de Janeiro, inspirada pelo Bando de Teatro Olodum. Criada pelo ator e diretor Hilton Cobra, a companhia cria uma pesquisa po茅tica que mostra o desafio de 鈥渄ar voz ao indiz铆vel鈥.

鈥淪il锚ncio鈥
鈥淪il锚ncio para descobrir nossa pr贸pria fala, que a voz exala
Sil锚ncio individual Gangrena hist贸rica Quando escreve, n茫o fala, e para qu锚?
Sil锚ncio para descobrir nossa pr贸pria fala
H谩 represa na alma? Sil锚ncio individual Sil锚ncio hist贸rico. E o veneno?
Quando escreve, n茫o fala. Ser谩 que cala?
N茫o quero mais calar鈥 Texto de 鈥淪il锚ncio鈥, da Cia. dos Comuns

聽Fonte: O Tempo

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