Entre a juventude e a pixação, o espaço do traço e do risco
As palavras do professor e psicanalista Célio Garcia inspiraram o filósofo Luiz Carlos Garrocho durante o seminário “Juventude e Pixação”. Garcia dizia de uma lembrança vinda da convivência com jovens: “O jovem infrator me inspirou”. A mesa da qual os convidados faziam parte prometia a discussão sobre “Juventude e Pixação: o traço e o risco”. Para lembrar o universo desses jovens, ele lembrou ainda a expressão do pintor Matisse, “desejo da linha”, sua fala inscrevendo assim a prática da pixação em debate atual e polêmico.
Nas palavras seguintes de Garrocho, pixar os muros da cidade indicava um movimento social que “encoraja, desafia a apropriações criativas”. O diálogo feito de recordações e releituras levava aos usos diversos que dão sentido ao espaço urbano. O encontro aconteceu no dia 25 de novembro, no Conselho Regional de Psicologia.
Pesquisador e criador cênico do Teatro Físico e Perfomance e Doutorando em Artes, Garrocho chamou de “caça às bruxas” o tratamento que dá forte tom policial ao suposto “vandalismo que está tomando a cidade”, ao se referir à linguagem da pixação como resultado equivocado da junção entre a abordagem midiática centrada na criminalização dessa prática e a superficialidade no tratamento da questão pelas políticas públicas.
Nesse sentido, o debate não vem enfrentando a complexidade do conjunto de aspectos sociais e políticos envolvidos, para se fixar na superfície do assunto; não considera a fragilidade do grupo social exposto ao julgamento sob o enfoque da criminalização, optando por enfatizar o aprisionamento do infrator e, dessa forma, o discurso em defesa dos direitos relativos à privatização do espaço urbano.
Copa
A questão ganha visibilidade em tempos de preparo das cidades brasileiras para a Copa do Mundo de 2014, diz respeito assim à “financeirizacao das metrópoles”, segundo Garrocho, sinalizando um movimento de limpeza das cidades e de repressão a quem suja, portanto, os muros das casas ou estabelecimentos comerciais. Em contraponto, inscrita nos muros, arrisca-se uma “percepção aguda do vazio, pobreza, marginalidade”, como caracteriza Garrocho.
A linguagem da pixação expõe o “sentido agudo do urbano, necessidade de apropriação que passa ao largo do sentido de propriedade”, afirmou. Como conjunto de gestos, estética do cotidiano que provoca o dissenso e assim se afirma no espaço coletivo, mecanismo de “territorialidade e fuga”, a pixação deve ser analisada em sua dimensão criativa que dá sentido aos “vazios da cidade”. Ao finalizar, Garrocho deixou a pergunta: “Como viver junto sem tanto rechaço?”
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