Nos meses de junho e julho acontecem as tradicionais celebrações da festa junina, representadas pela quadrilha, músicas e comidas típicas do campo. Em meio à pandemia do covid-19, os festejos foram cancelados ou adiados e apresentações online são transmitidas, por meio de lives na internet.
Uma das maiores do país, a festa junina de Caruaru, que seria realizada no período de 5 a 24 de junho (Dia de São João), foi cancelada pela primeira vez em 40 anos, com prejuízo de R$ 200 milhões para a cidade. Já a festa de Campina Grande adiou a 37ª edição de seu arraial que ocorreria de 5 de junho a 5 de julho, para o período de 9 de outubro a 8 de novembro.
“A pandemia foi extremamente trágica para o São João, sobretudo pelo atrelamento econômico e dependência que tantas famílias e trabalhadores têm dos eventos numa região com quase a metade do país. Acredito que esse foi o evento no período da pandemia que mais foi atingido, pela sua magnitude”, observa o ex-secretário de Cultura de Maceió, economista e produtor cultural, Vinicius Palmeira.
Em 2019, o Ministério do Turismo investiu R$ 4,2 milhões nos festejos do país. Festas como a de Campina Grande e Caruaru movimentam mais de R$ 500 milhões na região, com mais de 50 dias de programação. gerando mais de 3 mil empregos diretos e indiretos.
O presidente da União Junina Mineira (UJM), Jadison Nantes, afirma que, além de manter o protagonismo das quadrilhas que precisam da visibilidade midiática, é preciso garantir a “essência junina em meio as competições”. Ele enfatiza que, enquanto quadrilhas juninas do estado da Paraíba não recebem o justo incentivo, “grandes festas, como a de Campina Grande, têm os holofotes voltados para os shows de artistas renomados”.
Nantes destaca a mobilização das quadrilhas de Belo Horizonte, diante da falta de apoio da iniciativa privada e poder público, e alerta para a ausência de editais que atendam às particularidades da manifestação cultural. “É justo dizer que, apesar de ainda não termos alcançado o apoio necessário, temos uma ótima relação com o poder público municipal e estamos evoluindo; com relação ao olhar do poder público executivo estadual ainda precisamos avançar muito, mas estamos com as esperanças renovadas com a chegada do novo secretário (Leônidas Oliveira)”, diz.
Para a professora e pesquisadora da Universidade Estadual do Ceará (UECE), consultora em Economia Criativa, Cláudia Leitão, a festa junina – uma das mais expressivas manifestações da diversidade cultural brasileira – não é compreendida como instrumento de inclusão produtiva para os brasileiros. “A indústria cultural acaba por ser hegemônica, solapando as expressões culturais locais, fundamentais à diversidade da festa”.
A pesquisadora enfatiza que a ausência de políticas públicas mantém as assimetrias sociais e implica desafios que precisam ser enfrentados: informalidade de grande parte da economia das festas; importação de parte dos insumos que poderiam ampliar a economia, falta de formação adequada para a gestão empreendedora; inexistência de políticas integradas entre as pastas da Cultura e do Turismo para construção de um turismo cultural que valorize as festas como insumo estratégico.
As festas juninas são tratadas pelo poder público e iniciativa privada como eventos econômicos que incrementam o turismo e o comércio local, promovendo a imagem das cidades onde são realizadas. O ex-secretário de cultura de Maceió, Vinícius Palmeira, frisa, no entanto, a importância da manutenção das tradições populares juninas frente à espetacularização dos festejos, “não capitulando aos ditames do formato que a mídia exige”.
Ele pondera que hoje as quadrilhas apresentam novos formatos que não devem, entretanto, ser marginalizados, uma vez que resultam da produção de grupos que “trabalham e pensam juntos como transformar aquela tradição para um olhar mais contemporâneo”. A midiatização das festas juninas será intensificada, acredita o ex-secretário de Cultura, o que aponta para a convivência da manifestação tradicional com o produto espetacularizado. “A vida real onde as mídias pouco podem interferir e o espetáculo que é o produto esperado por elas, para exibição aos seus clientes e patrocinadores”, sintetiza.
Prosa Junina
Confira a série de lives Prosa Junina, da União Junina Mineira, sempre às quintas-feiras, às 20h, e fique por dentro da história e trajetória dos grupos no Estado.
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