Destaque

Os desafios da Embaixada Cigana

Nicolas-Ramanush-02

O presidente da Embaixada Cigana do Brasil, Nicolas Ramanush, discute os desafios enfrentados pelos ciganos no Brasil e no mundo e explica, em entrevista ao ODC, como a sociedade civil sem fins lucrativos, atua para resgatar, fomentar e preservar a cultura cigana.

A entidade auxilia os ciganos em dificuldade de acesso às condições de cidadania, como documentos de identidade civil, por exemplo, bem como em ações nas áreas de saúde pública e ensino. As dificuldades relativas à inclusão cultural e proteção das tradições, por sua vez, incluem ações de defesa, valorização e recuperação da história e tradições étnicas e culturais, para a promoção do patrimônio cultural e intelectual dos ciganos.

ODC – Quais os eixos de atuação, objetivos e ações realizadas pela embaixada no Brasil?
Nicolas Ramanush – Somos uma ONG que existe de fato há 30 anos e como entidade jurídica há cinco. Trabalhamos com resgate, manutenção e difusão da cultura Romani. Nossos objetivos são concretizados na medida em que nos tornamos gradativamente a única ONG de cultura cigana da América Latina com livros editados sobre: língua, crenças, tradições, culinária, música, dança e em breve, medicina tradicional cigana. Somos do grupo sinti-manush, mas o trabalho de resgate, manutenção e difusão se desenvolve também para com a cultura dos demais grupos (do Brasil e do mundo). Já representamos a música e dança cigana do Brasil em Festivais de Cultura Cigana na Eslováquia, França e Espanha. Assim como desenvolvemos anualmente projetos de apresentações públicas sobre nossa história, música e dança em unidades do SESC, com o objetivo de acabar com os estereótipos, preconceitos e generalizações.

ODC – Como avalia a situação social dos ciganos no mundo atual, especialmente no Brasil, no que se refere aos estereótipos historicamente associados a essa cultura?
NR –  Na Europa Ibérica os grupos ciganos vivem sob preconceito e discriminação social, mas sem exclusão. No Leste Europeu a situação é drástica: todos os grupos vivem em bairros e ou guetos ciganos, segregados do convívio social da população majoritária. Enfim, lá as ONGs ciganas (romani) lutam contra a discriminação e segregação social. Aqui, no Brasil, não existe segregação. Dos três grupos ciganos, o único que ainda vive à margem da sociedade é o grupo Calon. Para este, o governo federal deveria implementar políticas de integração social. Contudo, aqui existem estereótipos e generalizações que alimentam o preconceito e a discriminação social. Esses estereótipos nascem de crenças pessoais e até mesmo de práticas religiosas, nas quais acreditam na comunicação com espíritos de ciganos. O problema é que o que os tais espíritos dizem e falam “na qualidade de ciganos” não tem nada a ver com a verdadeira cultura de um indivíduo que um dia tenha pertencido a um grupo de etnia cigana. O Brasil é o único país do mundo no qual se realizam “Festas Ciganas”, nas quais homens e mulheres não ciganos se fantasiam e dançam ao som de rumbas e difundem estereótipos ao afirmar que tais eventos colaboram para preservação da cultura. Que cultura?

ODC – Quais valores e práticas da cultura cigana singularizam seus modos de vida?
NR – Todos os valores culturais são de extrema importância. Primeiramente, vamos esclarecer que a palavra cigano(a) não passa de um rótulo generalizante que, de fato, nunca irá dar conta das especificidades culturais existentes em cada grupo ou subgrupo romani. Em outras palavras, não existe cultura cigana, mas sim, culturas ciganas (somos divididos em muitos grupos e subgrupos étnicos). No entanto, a língua Romani é o nosso maior valor a ser preservado. Pois, a língua é o guarda-chuva dos valores culturais em qualquer cultura ou povo.

Nicolas-Ramanush

O Brasil é o único país do mundo no qual se realizam “Festas Ciganas”, nas quais homens e mulheres não ciganos se fantasiam e dançam ao som de rumbas e difundem estereótipos ao afirmar que tais eventos colaboram para preservação da cultura. Que cultura?

ODC – Para a embaixada, quais são os desafios ligados à proteção e promoção da cultura cigana, em suas dimensões simbólica, econômica e cidadã?
NR – Nossos maiores desafios ligados à promoção e preservação cultural, seja do ponto de vista econômico, simbólico ou mesmo de cidadania são: quanto ao econômico a falta de apoio dos governos federal, estadual e municipal (e inclusive a própria falta de apoio dentro das comunidades ciganas do Brasil); quanto ao fator simbólico, ora este é fundamental para que o ser humano assuma sua identidade dentro do social. Neste caso, os meios de comunicação em massa que atingem os jovens ciganos subvertem valores que seriam essenciais para a preservação da cultura; quanto à questão da cidadania não podemos deixar de mencionar que todo cigano do Brasil, é um cidadão brasileiro, portador de etnia cigana.

Confira também: Ciganos, por Laís Tranha

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

5 Comentários para “Os desafios da Embaixada Cigana”

  1. Avatar Patrícia disse:

    Recentemente publiquei um livro arte-terapia sobre a cultura cigana, de forma a dar maior visibilidade e ajudar a reduzir o preconceito para com o povo cigano. Gostaria de contar com a ajuda de vocês sobre informações de eventos e festas ciganas para poder fazer uma melhor divulgação. Obrigada.

  2. Avatar Chandler Wyoming disse:

    Bom dia,
    Pelo amor de Santa Sara Kali, a qual sou devoto,me ajudem,
    sou ciganofilo, e estou tentando saber quando sera a festa de Santa Sara Kali,em Santos no Morro de Nova Cintra, e apesar das tentativas nada consegui.
    Tenho enviado inumeros emails para a Prefeitura de Santos,perguntando para as Secretarias de Turismo e a de Cultura, e ate hoje nem respostas aos meus emails.
    Por favor caso os senhores tenham informaçoes a respeito da festa alusiva a Santa Sara Kali neste ano la eu os agradeço.
    Aguardo respostas,
    Grato,
    Chandler

    1. Avatar Alcione Lana disse:

      Prezado Chandler

      Obrigada pela visita em nosso site.

      Você pode tentar obter essa informação, ou uma indicação de onde conseguir, na Embaixada Cigana. Seguem os contatos:
      (011)99743-2449 .
      contato@embaixadacigana.com.br

      Abraços,
      Equipe ODC

    2. ODC ODC disse:

      Olá
      infelizmente não temos a informação que nos solicita.
      att
      ODC

    3. ODC ODC disse:

      Bom dia

      infelizmente não temos a informação que nos solicita.
      att
      ODC

ACONTECE

Chamada para publicação – Boletim 101, N. 01/2024

CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária  Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024   A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]

CURSOS E OFICINAS

Gestão Cultural para Lideranças Comunitárias – Online

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]

Mais cursos