Bruna Acácio[1] e Raquel Utsch[2]
As recentes ocupações das escolas públicas, pelos estudantes paulistas, movimento fortemente ancorado em ação integrada nas redes sociais, deram demonstração contundente de apropriação coletiva e vigorosa produção de sentidos para o espaço escolar. A intensa produção de textos, vídeos e fotografias mostra enquadramentos e discursos próprios que disponibilizam, por meio do engajamento dos estudantes e agentes sociais, representações mais plurais e diversas sobre o movimento e seus integrantes.
Essas representações foram crescentemente validadas e reproduzidas nas redes. Na escola estadual Raul Fonseca, na zona Sul de São Paulo, foi produzido um vídeo incentivando que os alunos expusessem sua própria versão das ocupações. “Como a mídia não nos mostra, nós seremos a mídia”, anunciou uma das estudantes. Os alunos apresentam, ainda, dicas técnicas de como fazer um vídeo utilizando o celular e práticas de segurança ao gravar uma abordagem policial violenta[3].
Assim como no emblemático movimento de junho de 2013, que ocupou as ruas de forma integrada às ações nas redes sociais, o movimento dos estudantes constrói-se em grupos de Whatsapp, nos quais alunos de diferentes escolas informam-se mutuamente, criando uma rede de troca de experiências e relatos – com o cuidado de não revelar estratégias, por temor ao monitoramento da Polícia, como elucidou uma estudante responsável pela comunicação da ocupação na escola estadual Fidelino Figueiredo[4].
No Facebook e Twitter, a busca pelas hashtags #ocupaescola, #naofecheminhaescola, #naotemarrego e #reorganizacaonao revela uma série de publicações produzidas, sobretudo, pelos jovens secundaristas que protagonizam o movimento. Há ainda uma série de páginas no Facebook que trazem interessantes exemplos do tipo de atividades e ações desenvolvidas durante as ocupações, a exemplo das escolas Fernão Dias, Marilsa Garbossa e José Lins do Rego.
As imagens produzidas pelos estudantes confrontam sentidos conferidos ao espaço escolar, associados frequentemente à violência, ao desinteresse e esvaziamento da relação com a escola. Expõem contradições do governo estadual, indicam caminhos políticos, organizam a atuação coletiva e, por isso, pode-se dizer de ação de resistência política que cria espacialidades urbanas, lembrando o geógrafo Milton Santos, alterando a paisagem escolar a partir do conflito travado com o Estado.
A espacialidade está relacionada à situação específica, ou ao instante das relações sociais geografizadas, assim, embora o lugar possa continuar esquematicamente o mesmo, esse muda conforme diferentes situações e funções a ele associadas. Nessa perspectiva, a dimensão simbólica das configurações geográficas, decorrente das distintas formas de atuação humana no espaço, ressignifica a relação entre pessoas, objetos e situações vividas.
Produzida por mudanças estruturais ou funcionais no espaço, a espacialização, para Santos (1977, p. 73) “é sempre o presente, um presente fugindo”. As imagens produzidas pelos estudantes convocam, como um presente fugidio, em meio ao excesso informacional das redes sociais, a potência do espaço escolar diverso que agencia dinâmicas sociais. Convocam a diversidade do espaço, das narrativas plurais, do espaço que, nas palavras de Santos (1997, p.73), corresponde à “vida que palpita conjuntamente com a materialidade”.
Referência:
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. Colaboração de Denise Elias. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.
[1] Jornalista e produtora cultural. Pesquisadora integrante do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade Cultural.
[2] Jornalista, Mestre em Comunicação Social. Pesquisadora integrante do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade Cultural.
[3] Vídeo disponível na página do Canal Secundarista no Facebook.
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