Dando continuidade à série de entrevistas publicadas na Semana da Diversidade Cultural, Nelson Maca, fundador do Coletivo Blackitude: Vozes Negras da Bahia, poeta e professor de Literatura na Universidade Católica do Salvador (UCSAL), dá sua visão sobre a importância de cultivar as diferenças e criar mecanismos públicos de promoção e proteção às singularidades culturais.
ODC – Por que é importante ser diferente?
Nelson – Antes de qualquer coisa, ser diferente é da condição humana. Percebemos, sentimos, vivemos e representamos o mundo a partir de um lugar único. Não há duas pessoas com vivências plenas, subjetivas e objetivas, literalmente iguais. Concebo a identidade pessoal a partir da diferença. Ser diferente funda e identifica nossa particularidade. Dentro do grupo, somos um. A importância de “ser diferente” vem do poder de instituir dinamismo à vida em sociedade, mas também da busca de sustentação de subjetividades. A padronização e imposição de igualdades agem como castradoras das diferenças. Então, ao invés de sentimento e orgulho coletivo, engendram frustrações, castrações, prisões, mortes. Diminui o espaço, agride ou mesmo mata a singularidade.
ODC – O que muda essa condição?
Nelson – A sociedade e a cultura nos tornam coletivos. E ser coletivos significa partilhar conceitos e procedimentos. Nesse sentido, enquanto comunidade, construímos igualdades. Para mim, viver efetivamente significa transitar entre esses dois planos. No primeiro, estabelece-se um jogo entre o particular e o coletivo e, no segundo, entre coletivos diversos. Acho importante termos a consciência de grupo e, ao mesmo tempo, dar fluência às nossas singularidades com convicção e orgulho. Coletivamente, no meu caso, por exemplo, ser negro e, assim, ocupar um lugar no país e no mundo me faz diferente enquanto ser étnico e histórico. Sentir-se acolhido numa comunidade é tão vital quanto dar fluência às nossas idiossincrasias.
ODC – Por que precisamos de políticas públicas para a diversidade?
Nelson – Em si, as políticas públicas só serão públicas e politicamente representativas se pensadas, experimentadas, fundadas, implementadas e geridas a partir do paradigma da diversidade. Se a sociedade para a qual se pensa uma política ampla é diversa em seus valores e composição, é natural e esperado que suas estratégias, leis, projetos, técnicas e métodos, ou seja, sua gestão, reflita essa complexidade. Inclusive, na escolha daqueles e daquelas que ocuparão a função de gestores e gestoras públicas.
ODC – Como você vê esse processo acontecendo no Brasil?
Nelson – Sabemos que a sociedade brasileira, nas suas instituições tradicionais, preserva elementos herdados do processo, ainda em andamento, de extermínio dos povos e culturas indígenas, da perversidade da escravidão negra, da hegemonia violenta do capital e da rejeição histórica à emancipação feminina, gay, entre outras. Suas políticas “públicas” nunca estiveram imunes a esse histórico discriminador. A base de sustentação ideológica continua privilegiando, naturalizando e impondo os símbolos, valores e experiências do macho branco, adulto, heterossexual e cristão. As políticas públicas do país, em verdade, possuem bases privadas. Logo, não são públicas, pois não contemplam a sociedade em sua diversidade humana, material e simbólica. Uma política pública de fato, na sua elaboração e aplicação, tem de considerar a complexa formação de seu povo.
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