No próximo dia 12, desembarca no Rio uma das maiores especialistas em gestão de risco ao patrimônio cultural que trabalha na Unesco. A italiana Cristina Menegazzi, que há 20 anos acompanha a devastação cultural deixada por catástrofes naturais e guerras, participará do seminário “Preservação e Segurança em Museus”, no Museu Nacional de Belas Artes. Na pauta, formas para tornar o Brasil culturalmente mais seguro.
Que patrimônios culturais correm risco hoje em dia?
Muitos. Todos aqueles que estão nas zonas de conflito armado do Oriente Médio e da África, nas zonas que registram terremotos, com especial destaque para a Europa, e todos que estão em áreas comumente inundadas, como é o caso da Ásia e da América Latina. Vale lembrar ainda que o aquecimento global só aumenta a intensidade e a frequência das catástrofes naturais.
O que pode ser feito para proteger esse patrimônio?
Eu sempre digo o seguinte: se você não sabe o que tem, não sabe quanto pode perder. Então fazer um bom inventário dos bens culturais de um país é o primeiro passo. Depois, o ideal é que cada item desse patrimônio receba uma nota (relacionada a seu grau de importância, valor ou interesse). Isso tem que ser feito por uma equipe multidisciplinar. Assim, em caso de catástrofe, fica mais fácil saber o que resgatar primeiro. Depois, deve-se criar e treinar uma equipe responsável por salvar esse patrimônio e, com ela, definir opções de armazenamento.
Qual é o tamanho da devastação cultural na última década?
É impossível medir. Não só pela enormidade do número, mas também porque, infelizmente, as estatísticas relativas às catástrofes, sejam elas naturais ou provocadas pelo homem, quase nunca consideram a devastação do patrimônio cultural. Ficamos sem saber.
Mas alguns casos poderiam ter sido evitados, certo?
Sem dúvida. Hoje há nos países afetados pela tsunami do Oceano Índico alertas que avisam sobre terremotos e possíveis ondas gigantes. O sistema permite que as pessoas evacuem as áreas de risco e que também salvem o patrimônio cultural móvel, ou seja, coleções de museu, bibliotecas, arquivos públicos… Foi um avanço importante.
Quais foram os casos de devastação mais graves dos últimos dez anos?
Na última década, os meios de comunicação passaram a se interessar mais por esse assunto e a acompanhar de perto a perda de patrimônio. Então, ganharam destaque a destruição dos budas de Bamiyan (implodidos pelos talibãs, no Afeganistão, em março de 2001), os terremotos do Haiti, em janeiro de 2010, e do Japão, no ano seguinte, e a destruição de Timbuktu, no Mali (por rebeldes islâmicos, em janeiro deste ano).
Como você classifica o cuidado que o Brasil tem com seu patrimônio?
Estive em Petrópolis em novembro do ano passado e visitei o Museu Imperial. A impressão que tenho é que o Brasil aprecia muito seu patrimônio e lhe dá muita importância. Vocês têm um dos cursos universitários de museologia mais antigos do mundo. Vão sediar o Conselho Internacional de Museus (ICOM, na sigla em inglês) em junho. É o único país que conheço que dispõe de uma estratégia escrita para gestão de riscos em museus (do Instituto Brasileiro de Museus, Ibram) e, no dia 12, oferecerá um curso de capacitação sobre o assunto. Isso mostra que a preocupação do Brasil com o assunto é muito satisfatória frente à de outros países. Ainda assim, há muito a ser feito.
Qual é a instituição ou país mais bem preparado? A referência?
Eu não poderia responder. Mas os maiores esforços para a proteção de patrimônio cultural estão sendo feitos hoje em dia na Holanda, França, Coreia do Sul, Austrália, nos Estados Unidos e no Chile.
E o que você pretende ensinar no seminário do dia 12, no Rio?
Entre outros pontos, que há métodos tradicionais de preservação, normalmente mais baratos e ecológicos, que podem ser aplicados em museus e arquivos.
Quais, por exemplo?
No Camboja, usam tabaco umedecido para evitar pragas em objetos feitos de madeira. Na Índia, para evitar que ratos ataquem material orgânico que precisa ser preservado, usam sementes de papaia. No Sri Lanka, borrifam óleo de canela no ar para livrar livros e manuscritos de fungos e pragas. Tenho certeza de que há muitos caminhos como esses no Brasil. A proposta é redescobrir esses métodos e materiais.
E por que um governo deve investir nessa área?
Porque a cultura é uma necessidade básica do ser humano. Porque o patrimônio cultural é a referência de valores de cada sociedade. Porque isso ajuda a restaurar o sentido de normalidade diante de uma catástrofe. É o que permite que as pessoas sigam em frente. O patrimônio é, enfim, fundamental na reconstrução da identidade, da dignidade e da esperança.
FONTE: O Globo
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