NOT脥CIAS

Por que celebrar o ‘Orgulho LGBT’ 茅 um ato pol铆tico

Foto: Cris Faga/NurPhoto via Getty Images

A frase acima 茅 do advogado e ativista Luis Arruda e explica, em poucas palavras, porque 茅 importante celebrar o Orgulho LGBT. Parece simples, mas ele mesmo demorou alguns anos para se dar conta disso. “A primeira vez que fui chamado de ‘bicha’ eu tinha 6 anos de idade”, conta. “Na adolesc锚ncia eu percebi que sim, eu sentia mais atra莽茫o por meninos do que por meninas, mas como eu j谩 tinha sido t茫o xingado, tentei esconder isso durante muito tempo e fazer o que era esperado de um menino.”

Foi somente aos 22 anos de idade, depois de uma inf芒ncia e adolesc锚ncia solit谩rias e violentas na escola, que Arruda sentiu pela primeira vez o Orgulho de ser um homem gay. “A partir do momento que eu parei de mentir para mim mesmo, eu assumi com orgulho quem eu era. E n茫o 茅 um orgulho do tipo ‘sou melhor que os outros’, mas um orgulho de ter chegado nessa conquista de conseguir me entender e falar sobre quem eu sou para as pessoas.”

O Orgulho LGBT, esse com ‘o’ mai煤sculo, nasce ‘Pride’, em ingl锚s, h谩 49 anos, na resist锚ncia 脿 viol锚ncia contra a popula莽茫o homossexual e n茫o-bin谩ria. Em 28 de junho de 1969, a pol铆cia de Nova York faria mais uma batida no famoso bar gay da cidade, o Stonewall Inn. Mas aquela n茫o seria uma noite qualquer de opress茫o e mudaria para sempre a hist贸ria do movimento por direitos LGBT. Gays, l茅sbicas e travestis que frequentavam o local resistiram e se rebelaram contra a a莽茫o policial. A rea莽茫o deu in铆cio a uma s茅rie de protestos pelo fim da discrimina莽茫o com base em orienta莽茫o sexual e em identidade de g锚nero que culminaram na primeira marcha do Orgulho, exatamente um ano depois.

Antes disso, na d茅cada de 1950, a mobiliza莽茫o dos primeiros grupos gays nos Estados Unidos se orientava mais pela aceita莽茫o dos homossexuais e pelo reconhecimento da normalidade do que pela contesta莽茫o das regras e do preconceito, conta o advogado e ativista Renan Quinalha. “A palavra Orgulho marca um deslocamento no movimento LGBT”, explica. “Com a revolta de Stonewall, ser gay passa a ser um modo eroticamente subversivo de desafiar as estruturas da ordem sexual imposta pela heteronormatividade”, completa o pesquisador.

Foi na resist锚ncia a essa vergonha imposta pela sociedade que Arruda se encontrou na milit芒ncia, poucos anos depois de assumir a homossexualidade, em 2002. “Estava num bar em Campinas e um amigo meu me abra莽ou, me deu um beijo no rosto e o gerente bar fez um esc芒ndalo. A gente ficou muito indignado”, conta o advogado. “Foi o meu primeiro contato com a milit芒ncia LGBT, com o Grupo Identidade, l谩 de Campinas. Procuramos o grupo e organizamos um beija莽o, que saiu nos jornais da cidade. Dali por diante eu n茫o larguei mais a milit芒ncia”, completa.

“Foi muito importante me reafirmar enquanto gay. As pessoas dizem ‘mas precisa mostrar?’ e eu digo que precisa sim. Precisa mostrar, precisa dizer. Voc锚 n茫o pode ter medo ser quem voc锚 茅. Ser gay n茫o 茅 entre quatro paredes. O ato sexual 茅 entre quatro paredes. Mas ser gay vai muito al茅m disso, vai para rua. As pessoas h茅tero n茫o s茫o h茅tero s贸 entre quatro paredes, elas se beijam, elas trocam carinho, elas saem com a fam铆lia. Ent茫o 茅 natural que as pessoas que tem afeto pelas pessoas do mesmo sexo tamb茅m fa莽am isso.”

Orgulho e resist锚ncia LGBT

“Durante mil锚nios n贸s fomos tratados como criminosos, pecadores, doentes e somente nas 煤ltimas d茅cadas que gays, l茅sbicas e transexuais passaram a dizer n茫o a essa opress茫o”, afirma o ativista Luiz Mott. “A partir da famosa revolta de Stonewall, nos Estados Unidos, que surge o moderno movimento homossexual, depois chamado de movimento gay e agora mais recentemente de movimento LGBT, que defende basicamente a ideia de que n贸s n茫o temos vergonha de ser homossexuais ou transexuais. Da铆 a palavra Orgulho, em ingl锚s, ‘pride’ ou ‘proud’, como slogan do movimento”, explica. Dez anos depois de Stonewall, o Orgulho e a resist锚ncia foram fundamentais para que ele participasse, em 1980, da cria莽茫o do mais antigo grupo de milit芒ncia LGBT ainda em atividade no Brasil: o Grupo Gay da Bahia.

Quase 50 anos ap贸s Stonewall, muita coisa mudou para a popula莽茫o LGBT no mundo, mas ainda h谩 um longo caminho pela frente. O Grupo Gay da Bahia 茅 respons谩vel por dos levantamentos mais importantes sobre viol锚ncia contra gays, l茅sbicas, bissexuais e pessoas trans no Brasil. H谩 38 anos o grupo monitora no n煤mero de assassinatos e suic铆dios motivados pela LGBTfobia. A pesquisa mais recente mostrou que um LGBT morreu por causa do preconceito a cada 19 horas no pa铆s em 2017. Das 445 pessoas mortas no ano passado, 194 eram gays, 191 eram pessoas trans, 43 eram l茅sbicas e cinco eram bissexuais

O Brasil ainda ostenta o vergonhoso t铆tulo de pa铆s mais violento para pessoas trans. Segundo levantamento da ONG Transgender Europe, foram 868 mortes entre 2008 e junho de 2016. Para se ter uma ideia, no M茅xico, o segundo colocado no ranking, foram 257. “Nesse momento de retrocesso e de significativas not铆cias de assassinatos de pessoas trans, acredito que a palavra orgulho tem sido usada para fazer um contraponto, dizendo que mesmo nessa adversidade 茅 importante ter orgulho de ser que 茅, importante afirmar a identidade que se ostenta, 茅 importante falar dela, 茅 importante visibilizar positivamente. Isso 茅 orgulho”, diz Keila Simpson, presidente da Associa莽茫o Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).

A ativista Claudia Garcia, 55 anos come莽ou a sua milit芒ncia nos anos 80, em plena ditadura militar e hoje preside a associa莽茫o que organiza uma das maiores paradas do Orgulho LGBT do mundo, em S茫o Paulo. A frente da APOGLBT, ela refor莽a a import芒ncia do movimento tomar a rua. “A gente tem que usar a rua para se comunicar a para provocar essas discuss玫es”, explica.

“As paradas foram crescendo exatamente por causa dessa car锚ncia do p煤blico LGBT, de ter um espa莽o para mostrar, para se apoiar e para provocar discuss茫o. E isso foi crescendo numa dimens茫o maravilhosa”, afirma Claudia.

Na 22潞 edi莽茫o do evento, em 3 de junho de 2018, a parada reuniu, segundo os organizadores, 3 milh玫es de pessoas na avenida Paulista. No calend谩rio do Orgulho da cidade, al茅m da parada, ocorreu a 16陋 edi莽茫o da Caminhada de Mulheres L茅sbicas e Bissexuais, e, pela primeira vez, a Marcha do Orgulho Trans.

Mas quem n茫o pode vir a S茫o Paulo ainda pode celebrar. A programa莽茫o pelo Pa铆s n茫o fica restrita ao m锚s de junho, conhecido como o m锚s do Orgulho LGBT. O calend谩rio de marchas em outras cidades do Brasil segue at茅 o final do ano.聽

Fonte: Huffpost Brasil

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail n茫o ser谩 publicado.

ACONTECE

Chamada para publica莽茫o 鈥 Boletim 103, N. 01/205

CHAMADA PARA PUBLICA脟脙O – Boletim 103, n潞 01/2025 Os 20 anos da Conven莽茫o sobre a Prote莽茫o e Promo莽茫o da Diversidade das Express玫es Culturais Per铆odo para submiss茫o: 21 de maio a 27 de julho de 2025   Este ano a Conven莽茫o sobre a Prote莽茫o e Promo莽茫o da Diversidade das Express玫es Culturais promulgada pelos pa铆ses membros da […]

CURSOS E OFICINAS

Gest茫o Cultural para Lideran莽as Comunit谩rias – Online

O Observat贸rio da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo 脿 Cultura de Belo Horizonte, patroc铆nio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de forma莽茫o GEST脙O CULTURAL PARA LIDERAN脟AS COMUNIT脕RIAS. Per铆odo de realiza莽茫o: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Hor谩rio: Encontros online 脿s quintas-feiras, de 19 脿s 21h00 Carga hor谩ria total: 6 […]

Mais cursos