Aluno de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Leonardo Pontes, de 20 anos, ainda não fez um intercâmbio, mas estuda ao lado de um estudante da Turquia e de outro do Benim. “Na minha área, um aluno de fora é um prato cheio para conversar sobre relações políticas e econômicas, principalmente quando é um país que não está no centro das notícias.”
Aposta para tornar o ambiente acadêmico mais internacionalizado, a entrada de estudantes de fora do País em universidades públicas ainda é pequena. O número de estrangeiros em instituições federais do País representa menos de 1% da quantidade total de alunos nas universidades. É o que aponta levantamento feito pelo Estado com base em questionários enviados às instituições por meio da Lei de Acesso à Informação.
O Estado reuniu dados de 22 das 63 universidades federais, de todas as regiões do País, sobre alunos que vieram estudar por meio de algum programa ou parceria. Também questionou as paulistas Universidade de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp) – que não respondeu ao pedido.
A USP é a que mais consegue trazer estudantes – 3,4% dos alunos eram intercambistas, na graduação ou na pós, em 2016. Especialistas avaliam que, em uma universidade de grande porte, o ideal é que essa taxa fique entre 3% e 5%. O grau de internacionalização é um dos principais critérios em rankings de avaliação do ensino superior, como o da revista britânica Times Higher Education.
Um dos motivos que tornam o País pouco atrativo é a baixa oferta de disciplinas em inglês. “Embora seja a sexta língua mais falada no mundo, dificilmente um estudante de Europa, Estados Unidos ou Ásia fala português. E se vier ao Brasil, o primeiro requisito é o idioma. A única alternativa é oferecer disciplinas em inglês”, defende o professor da Unesp José Celso Freire Júnior, que preside a Associação Brasileira de Educação Internacional (Faubai).
Como a maioria dos estudantes brasileiros não terá a oportunidade de uma experiência fora do País, a vinda de estrangeiros é vista como uma forma de trazer o ambiente internacional para a própria casa. Nos últimos anos, programas de envio de universitários para o exterior perderam força ou acabaram, como o Ciência sem Fronteiras, encerrado em 2016. “Os alunos amadurecem mais quando expostos à diversidade cultural e linguística. Paradoxalmente, isso fortalece a própria identidade”, afirma Mariano Francisco Laplane, diretor de Relações Institucionais da Unicamp.
Fluente em francês, o aluno Sotie Ghislain, de 24 anos, natural do Benim, teve de fazer um curso de Português na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e passar por teste de proficiência no idioma antes de começar a estudar na Unifesp. “A língua portuguesa não é fácil. Quando cheguei aqui, nem sabia dizer ‘bom dia’ em português e era complicado achar alguém que falasse francês”, conta o jovem, colega de Pontes no curso de Relações Internacionais da Unifesp.
A Unifesp admite desafios para tornar a instituição mais internacional, como a oferta de português para estrangeiros, de disciplinas em língua estrangeira e de infraestrutura de acolhimento para os que vêm de fora. Contra esses problemas, a reitoria pretende mapear o perfil da internacionalização na Unifesp e fortalecer a participação em redes de cooperação estrangeiras.
Não há no País uma política única de internacionalização com metas para ampliar o número de intercambistas. O que existem são iniciativas do governo federal para atrair estrangeiros, como o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação e Pós Graduação. Os números dessas ações ficaram estagnados na graduação – o total de participantes foi de 491 no ano passado, ante 523 em 2015. Já na pós houve queda – de 168 participantes, em 2013, para 26 no ano passado.
Estudo publicado no ano passado pelo IIE Center for Academic Mobility Research and Impact, com apoio da Faubai, mostrou que 47% das universidades apontaram falta de recursos para tomar iniciativas de ampliar suas ações de internacionalização. O levantamento considerou um universo de 158 instituições brasileiras, públicas e particulares.
MEC quer ampliar programas de internacionalização
O Ministério da Educação (MEC) ressaltou, em nota, que deve ampliar o número de países e universidades participantes do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação. Segundo a pasta, a existência de programas como o Idioma sem Fronteiras, que capacita alunos e professores em língua estrangeira, é outra estratégia para expandir a internacionalização. Os dez países com mais estudantes encontrados no Brasil são Colômbia, Peru, Argentina, Angola, México, Alemanha, Espanha, Portugal, Bolívia e Chile.
Já a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao MEC, aposta em um programa recém-lançado para a pós, o Print. A ação prevê “fomentar o desenvolvimento de planos estratégicos de internacionalização”, além de incentivar redes internacionais integradas por instituições brasileiras.
Em sala com 90% de estrangeiros, inglês é idioma oficial
No início do semestre, o professor Gilmar Masiero avisa: “não se preocupe porque falar errado aqui é a norma”. A tentativa é de encorajar os alunos a se expressarem. Professor da disciplina Managing Organizations in Brazil (Administração das organizações no Brasil), ele dá aulas inteiramente em inglês para estudantes de várias partes do mundo – poucos brasileiros.
Dos 40 alunos da disciplina de graduação da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 90% são estrangeiros e quase todos têm o inglês como segundo idioma. O curso é uma das 26 disciplinas de graduação e pós ministradas em língua inglesa na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA). Em 2015, a FEA criou uma comissão de internacionalização, com a meta de ampliar a oferta de disciplinas em inglês na unidade.
“Os alunos sempre ficam um pouco mais travados porque pensam primeiro no seu idioma”, diz o professor. Mas, segundo ele, a abordagem recente da disciplina, com estudo do desenvolvimento social em favelas brasileiras, chamou a atenção dos estudantes e fez com que até os mais tímidos se soltassem. “Fiquei contente porque a turma abraçou o programa. Consegui ver pela participação em aula e pela presença.”
Na disciplina, uma optativa, também se estuda desenvolvimento econômico e empreendedorismo. “A ideia é fazer os meninos pensarem o Brasil a partir de seus problemas de crescimento econômico excludente”, diz Masiero. A tentativa é promover interação entre as nacionalidades. “Não deixo ‘panelas’ de franceses com franceses ou alemães com alemães.”
Conectado
Embora não seja o foco, brasileiros que participam da disciplina também aproveitam. “A maioria dos colegas é europeu. Acho bacana ver a visão deles e dar meus ‘inputs'”, comenta a aluna de Engenharia Naval Beatriz Casotti, de 22 anos, que cursa a optativa na FEA. “Já tinha feito um intercâmbio para a Irlanda. Mas muitos estudantes não têm a oportunidade de sair. É um jeito de se manter conectado com a língua inglesa e também falar com os estrangeiros.”
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