REPRODUÇÃO: FOLHA DE SÃO PAULO
Diorama no Museu Americano de História Natural, em Nova York, era historicamente incorreto
No Museu Americano de História Natural, em Nova York, um diorama mostra um encontro imaginado no século 17 entre colonos holandeses e membros da comunidade indígena lenape, em Nova Amsterdã, a atual cidade de Nova York. O diorama pretendia mostrar uma negociação diplomática entre os dois grupos, mas as imagens contam uma história diferente.Na cena, os indígenas usam tapa-sexo e suas cabeças são enfeitadas com penas. No segundo plano veem-se mulheres lenape, nuas da cintura para cima e usando saias compridas. Elas andam de cabeça baixa, com ar submisso.
Diante de um moinho de vento estão dois holandeses totalmente vestidos. Um deles, Peter Stuyvesant, é o governador colonial dos Novos Países Baixos (colônia holandesa na costa leste dos EUA). Ele estende a mão em um gesto cordial para receber oferendas trazidas pelos lenape.
Críticos dizem que o diorama mostra uma hierarquia cultural, não uma troca. Diretores do museu sabiam dessas implicações há algum tempo, e agora as estão corrigindo.
Criada em 1939, a cena é cheia de imprecisões históricas e clichês de indígenas, disse Bradley Pecore, historiador visual de origem indígena menominee e stockbridge-munsee. “Os estereótipos são problemáticos e poderosos. Eles moldam a compreensão que se tem dos indígenas.”
Há um ano, o museu pediu a ajuda de Pecore para resolver o problema. O diorama deveria ser removido? O vidro de proteção poderia ser retirado temporariamente para permitir alterações ao material?
“Poderíamos simplesmente ter coberto o diorama”, disse Lauri Halderman, vice-presidente de mostras do museu. “O mais interessante não seria eliminar os erros, mas reconhecer que eram problemáticos.”
A solução está solução está escrita no vidro. É uma lição sobre a natureza da própria história, que está sempre em transformação.
A cena permanece intacta, mas agora com dez rótulos sobre o vidro explicando seus problemas. Eles foram redigidos após um processo de pesquisa que levou quase todo o ano de 2018. O maior enunciado convida visitantes a reconsiderar a cena inteira.
Os textos dizem que se a cena fosse historicamente correta, os lenape estariam vestidos com roupas de pele e usando enfeites que assinalavam cargos de liderança. Canoas teriam sido vistas na água ao lado dos navios europeus.
As mulheres não usariam saias pouco práticas que arrastavam no chão. E algumas provavelmente teriam participado das negociações, já que as mulheres lenape geralmente exercem papéis de liderança. Enquanto o diorama original identificava apenas Stuyvesant pelo nome, os novos textos referem-se também a Oratamin, um líder indígena.
“Um fio condutor do trabalho é tentar entender quem narra a história em museus”, afirmou Halderman.
O custo do projeto foi estimado por um representante do museu em dezenas de milhares de dólares.
Foi importante para Pecore que a exposição indicasse os efeitos contínuos da colonização, além de corrigir as representações estereotipadas. “Sempre que vemos indígenas em museus, eles estão em um canto brincando com pedras. Nunca chegamos a ser vistos como humanos modernos.”
As mudanças ocorrem após três anos de protestos do movimento Decolonize This Place (descolonizem este lugar), que exorta instituições a reconhecer lutas de povos indígenas, além de outros grupos que pediram ao museu que modificasse exposições que reduzem a importância de certos setores da população.
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