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Museu americano convida visitantes a repensar cena estereotipada de índios

REPRODUÇÃO: FOLHA DE SÃO PAULO

Diorama no Museu Americano de História Natural, em Nova York, era historicamente incorreto

Museu americano convida visitantes a repensar cena estereotipada de índios – Andrea Mohin/The New York Times

No Museu Americano de História Natural, em Nova York, um diorama mostra um encontro imaginado no século 17 entre colonos holandeses e membros da comunidade indígena lenape, em Nova Amsterdã, a atual cidade de Nova York. O diorama pretendia mostrar uma negociação diplomática entre os dois grupos, mas as imagens contam uma história diferente.Na cena, os indígenas usam tapa-sexo e suas cabeças são enfeitadas com penas. No segundo plano veem-se mulheres lenape, nuas da cintura para cima e usando saias compridas. Elas andam de cabeça baixa, com ar submisso.

Diante de um moinho de vento estão dois holandeses totalmente vestidos. Um deles, Peter Stuyvesant, é o governador colonial dos Novos Países Baixos (colônia holandesa na costa leste dos EUA). Ele estende a mão em um gesto cordial para receber oferendas trazidas pelos lenape.

Críticos dizem que o diorama mostra uma hierarquia cultural, não uma troca. Diretores do museu sabiam dessas implicações há algum tempo, e agora as estão corrigindo.

Criada em 1939, a cena é cheia de imprecisões históricas e clichês de indígenas, disse Bradley Pecore, historiador visual de origem indígena menominee e stockbridge-munsee. “Os estereótipos são problemáticos e poderosos. Eles moldam a compreensão que se tem dos indígenas.”
Há um ano, o museu pediu a ajuda de Pecore para resolver o problema. O diorama deveria ser removido? O vidro de proteção poderia ser retirado temporariamente para permitir alterações ao material?

“Poderíamos simplesmente ter coberto o diorama”, disse Lauri Halderman, vice-presidente de mostras do museu. “O mais interessante não seria eliminar os erros, mas reconhecer que eram problemáticos.”

A solução está solução está escrita no vidro. É uma lição sobre a natureza da própria história, que está sempre em transformação.

A cena permanece intacta, mas agora com dez rótulos sobre o vidro explicando seus problemas. Eles foram redigidos após um processo de pesquisa que levou quase todo o ano de 2018. O maior enunciado convida visitantes a reconsiderar a cena inteira.

Os textos dizem que se a cena fosse historicamente correta, os lenape estariam vestidos com roupas de pele e usando enfeites que assinalavam cargos de liderança. Canoas teriam sido vistas na água ao lado dos navios europeus.

As mulheres não usariam saias pouco práticas que arrastavam no chão. E algumas provavelmente teriam participado das negociações, já que as mulheres lenape geralmente exercem papéis de liderança. Enquanto o diorama original identificava apenas Stuyvesant pelo nome, os novos textos referem-se também a Oratamin, um líder indígena.

“Um fio condutor do trabalho é tentar entender quem narra a história em museus”, afirmou Halderman.

O custo do projeto foi estimado por um representante do museu em dezenas de milhares de dólares.

Foi importante para Pecore que a exposição indicasse os efeitos contínuos da colonização, além de corrigir as representações estereotipadas. “Sempre que vemos indígenas em museus, eles estão em um canto brincando com pedras. Nunca chegamos a ser vistos como humanos modernos.”

As mudanças ocorrem após três anos de protestos do movimento Decolonize This Place (descolonizem este lugar), que exorta instituições a reconhecer lutas de povos indígenas, além de outros grupos que pediram ao museu que modificasse exposições que reduzem a importância de certos setores da população.

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