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Pode chegar: sem patrocinadores, centros culturais dão vazão à arte da cidade

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Belo Horizonte tem espaços culturais de grande porte, financiados por grandes instituições ou pelo poder público, mas somente eles não dão conta de dar vazão à rica produção da cidade. Muito da atividade artística independente encontra abrigo nos vários espaços culturais independentes da capital.

Mas como é possível manter um espaço em funcionamento, tendo de pagar aluguel, funcionários e manutenção? Com criatividade, boa vontade e amor pela iniciativa, especialmente. As estratégias são as mais diversificadas.

Localizado em um casarão com mais de cem anos na rua Bernardo Guimarães, o IDEA Espaço Cultural nasceu, há um ano, do desejo da pesquisadora Maria Inês Marreco em conciliar, em um mesmo espaço, editora, biblioteca e auditório para eventos que evidenciam o conhecimento.

Desde o início do ano, ela passou a contar com uma programação transversal e variada, trabalhada por três jovens: Luan Nobat, Luisa Gontijo e Ana Caroline Barreto. Por semana, são três ou quatro eventos feitos no local, que passam por música, debate, cinema, artes visuais e teatro.

O carro-chefe é o projeto “IDEA em Pauta”, um minifestival mensal em que um tema que está na pauta do dia inspira diferentes atividades, como mesa de debates, exposição, show etc.

“Para a mesa de debates, convidamos pessoas do movimento político, da academia, artistas, para pluralizar o máximo possível e ampliar os debates”, diz o músico Luan Nobat, reforçando que toda a programação conta com momentos de discussão e reflexão.

Sustentabilidade

Para que a casa seja sustentável, o espaço é alugado para palestrantes e interessados em realizar cursos. Toda a programação é desenvolvida para um mínimo de gastos, contando com parcerias.

Os gestores estão em busca de investidores e recursos via leis de incentivo, mas fazem questão de trabalhar a formação de público antes da parceria com um patrocinador. “A grade é importante para que um possível patrocinador veja que a casa está fervilhando, que a programação está acontecendo. Temos muitos eventos e isso gera público e mídia”, afirma Luísa Gontijo.

Espaços vão além da proposta inicial e se abrem a artistas

Quando o Teatro Espanca! foi criado na rua Aarão Reis, há seis anos, o grupo de teatro tinha patrocínio da Petrobras. O patrocinador saiu de cena dois anos depois, mas o espaço permaneceu, se tornando uma das principais referências culturais do hipercentro. Os próprios atores fazem a produção do local e dão conta de mantê-lo – boa parte do dinheiro que entra para o grupo é investido ali.

Além de ser espaço de experimentação e apresentação do próprio Espanca! e de grupos parceiros, passou a ser lugar de ocupação para as mais diferentes formas de arte, escolhidas via edital informal.

“Depois de um tempo, entendemos que esse espaço tinha uma propensão maior como centro cultural do que um teatro. Começamos a abrigar propostas artísticas da cidade que nem nós conhecíamos”, afirma Aline Vila Real, integrante do grupo Espanca!.

O importante é que o espaço não se tornou somente referência para os artistas da cidade, como também para os transeuntes da região da Praça da Estação. “Temos o ‘Cinema de Fachada’, em que exibimos filmes na porta do teatro. É interessante que atinge o pessoal que está no ponto de ônibus. Já vimos gente puxando a cadeira para assistir em frente ao telão”, conta Aline, completando que, neste ano, o projeto passou a exibir produções locais.

Há ainda parcerias com outros centros culturais. O Lá da Favelinha, localizado no Aglomerado da Serra, todo mês leva um evento ao Teatro Espanca!. Por sinal, é lá que acontecerá a estreia do primeiro espetáculo que está sendo produzido pelo Lá da Favelinha.

Fins de semana

O bairro Mangabeiras também passou a ter um centro cultural há dois anos, quando foi criado o ECA – Espaço de Cultura e Arte. Durante a semana, a casa é aberta a cursos de música, línguas e fotografia, além de abrigar um ateliê de artes e um escritório de design.

Mas aos finais de semana, as portas são abertas para eventos artísticos, especialmente apresentações musicais. A intenção dos proprietários é oferecer um quê a mais: quem chega para um show, também pode degustar uma gastronomia diferenciada e um vinho.

“Já fizemos eventos muito variados, praticamente todo sábado tem alguma coisa. Fizemos exposições, lançamento de DVD, exibição de cinema mudo com trilha ao vivo e muitos shows. Muitos artistas nos procuram, mas não conseguimos atender a todos”, conta o pianista Ricardo Matozinho, sócio-proprietário do espaço. “Os eventos não dão retorno financeiro, mas fazemos para dar oportunidade aos artistas”.

Benfeitoria contribui para movimentação da rua Sapucaí

A rua Sapucaí tem sido um dos pontos mais cultuados pela juventude belo-horizontina e a Benfeitoria é um dos motivos para isso. Aberto há um ano e meio, o espaço cultural funciona de quarta a sábado e está aberto a eventos das mais diferentes naturezas: shows, lançamentos de livros, feiras de produtos artesanais, etc.

Na verdade, cada dia da semana se tornou temático por lá. Na quarta, há exibição de filmes, com direito a pipoca. Além de clássicos do cinema, as escolhas focam a produção local. As escolhas são feitas por meio de enquetes em redes sociais.

Às quintas, acontecem eventos de porte pequeno, como shows intimistas e lançamentos de produtos, enquanto às sextas, o foco é o happy hour.

O sábado é o dia mais especial dentro da programação da Benfeitoria, porque pode envolver atividades ao longo do dia, com direito a almoço, roda de samba ou uma feira – para cada semana, há uma ideia.

É o momento em que os clientes aproveitam para ocupar a rua Sapucaí com maior tranquilidade e curtir a vista para a Praça da Estação. “Sábado é um dia em que podemos ter uma atividade mais festiva”, diz Jordana Menezes, sócia-proprietária da Benfeitoria.

Uma novidade da casa esta semana é a estreia de um espaço no mezanino do galpão. Houve uma reforma do espaço e um jardim está sendo criado em um ambiente externo novo, com direito a teto retrátil.

Compartilhamento

Jordana diz que a Benfeitoria ainda não dá lucro, mas já é sustentável, mesmo com um preço justo pela comida e bebida vendida. Tanto que cada um dos três sócios mantêm seus empregos.

O espaço passou a ser mais sustentável quando o trio decidiu transformá-lo em um espaço de coworking no momento em que a Benfeitoria não era utilizada – ou seja, durante o dia, de segunda a sexta.

Várias empresas ligadas à economia criativa aderiram ao projeto Benfeitores em Rede e passaram a usar o espaço do centro cultural. “Isso foi muito importante para dar um gás na produção do espaço. Acaba que todo mundo participa de alguma forma”, diz.

Consciência

Tanto Jordana quanto vários entrevistados para essa reportagem são unânimes em apontar um fator importante para que os espaços culturais sejam viáveis e sustentáveis: todos devem aprender que é imprescindível pagar pela cultura.

“Temos que promover uma reflexão sobre o valor da cultura. Tem gente que tem dificuldade de entender que pagar para um show, por uma roda de conversa, é importante para conseguirmos movimentar a economia de forma sustentável para todo mundo”.

Fonte: Hoje em Dia

Imagem: Lucas Prates / Hoje em Dia

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