Destaque

Centros culturais contemporâneos, mundos possíveis

Museu de Favela (MUF)  - Rio de Janeiro

Museu de Favela (MUF) – Rio de Janeiro

Laisa Bragança*

Ao aliar arte, conhecimento e lazer em um mesmo espaço, os centros culturais contemporâneos preservam características de modelos milenares de bibliotecas e de museus. Polivalentes e multifuncionais, pretendem configurar-se como uma versão ampliada e renovada de complexos culturais como o da famosa Biblioteca de Alexandria, uma das maiores da Antiguidade.

Os modelos institucionais renascentistas de museus e bibliotecas florescidos no Século das Luzes são, por sua vez, fortemente rejeitados pelos espaços culturais que proliferam nas diferentes localidades do planeta. Estão associados à incapacidade dessas mesmas instituições de realizarem seus propósitos originais de diálogo com a sociedade, ser inclusivas e oferecer acesso livre ao conhecimento. Por isso, os espaços contemporâneos declaram abandono ao característico preservacionismo contemplativo e saudosista da época, renunciam às representações elitistas de um mundo unidimensional e, sobretudo, deslocam o foco dado aos objetos e às coleções para os sujeitos e a sociedade a qual pertencem.

Fenômenos como a globalização, a explosão informacional, a transição da economia dos materiais para a economia da cultura, as novas formas de pensar, fazer, distribuir e consumir a produção artístico-cultural foram igualmente decisivos para o movimento de renovação e ampliação dos espaços culturais tradicionais.

O que se observa é um movimento caracterizado pela coexistência de múltiplos formatos e modelos de espaços culturais. Há aqueles que se apoiam imperativamente em referências do mundo dos negócios, como as franquias museológicas de grandes museus como o Guggenheim, o Louvre e o Centre Georges Pompidou. Há também aqueles que se organizam espontaneamente para a criação de espaços culturais em favelas e bairros distantes dos grandes centros. Paralelamente, surgem os ecomuseus, os museus ao ar livre, os chamados “clusters criativos”, além de coletivos de artistas e de profissionais da cultura.

Muitas são as possibilidades, mas também os desafios. O maior deles talvez seja o de preservar a arte e a cultura da pressão exercida por metas numéricas e financeiras. Isso significaria criar condições para que o mundo das artes alcance, no tempo e nas condições que lhe são específicas, seu nobre objetivo de não ser objetivo. Se, por um lado, as novas configurações da economia mundial exigem maior inserção de modelos do mundo empresarial no setor cultural, por outro, faz-se necessário percorrer o caminho inverso. A cultura entendida unicamente como produto, como indústria e como fator de desenvolvimento econômico, torna-se esvaziada de sentido, contribuindo, de forma silenciosa, para uma espécie de coisificação do sensível e do humano.

Quanto às possibilidades, cada centro cultural, através de suas ações e programação, deve procurar oferecer meios para que os indivíduos possam reconhecer a si próprios, aos outros e à sociedade a qual pertencem. Para tal, precisam buscar um equilíbrio entre os imperativos de mercado e os valores intrínsecos do fazer artístico, para que, efetivamente, tornem-se fábricas de conhecimento, de produção de sentidos, de futuros e de mundos possíveis.

*Professora da disciplina Gestão de Espaços Culturais do curso Desenvolvimento e Gestão Cultural do ODC, Laísa Bragança é mestre em “Cultura e Comunicação – Politicas e Indústrias da cultura, da informação, da comunicação e das artes”, pelas Universidades Paris XIII e Paris X, e doutora em Gestão – Management de Eventos Artísticos e Culturais – pela Télécom École de Management SudParis. 

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

ODC Diálogos – 17 de Abril de 2024

No dia 17 de abril (quarta-feira), às 19 horas, acontecerá mais uma edição do ODC Diálogos. Motivado pelo número 100 do Boletim, o encontro tem como tema “Avanços e desafios para a política cultural no Brasil hoje”, e contará com a participação de Albino Rubim e Bernardo Mata Machado, sob mediação da pesquisadora do ODC, […]

CURSOS E OFICINAS

Oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural – Santa Luzia (MG)

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, e com o patrocínio da Soluções Usiminas, e apoio do SESC Santa Luzia, realiza a oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural. A oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural tem como objetivo a formação de agentes culturais, estudantes, pesquisadores […]

Mais cursos