NOTÍCIAS

Colorismo e dinâmicas raciais no Brasil

O termo colorismo, que de forma simplificada, caracteriza o preconceito baseado no tom de pele dentro de grupos racializados, apareceu pela primeira vez em 1982, no livro If the present looks like the past, What Does The Future look Like? (Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?, em tradução livre), de Alice Walker.  

O colorismo é então uma ferramenta do racismo que segrega a pessoa negra baseado no tom da sua pele, sendo que quanto mais retinta, mais marginalizada.  

Colorismo no Brasil 

O termo foi pensado inicialmente dentro do contexto estadunidense, mas vemos ele sendo articulado no Brasil. Como a construção histórica dos países são diferentes, a identidade racial também não é construída da mesma forma. 

No Brasil, tivemos um plano de embranquecimento da população no século XIX e meados do século XX, baseado no racismo científico que afirmava uma superioridade genética de pessoas brancas. No cenário descrito, o médico e diretor do Museu Nacional do Brasil, João Baptista de Lacerda, propôs a tese, Sur le métis au Brésil, a qual sugeria que, dentro do período de três década, o Brasil seria um país totalmente branco. 

O movimento incentivou a imigração de povos da Europa e relacionamentos interraciais a fim de embranquecer a população. A partir deste cenário, criou-se a ilusão de amizade e benevolência entre ex-senhores e ex-escravizados e um processo massivo de mestiçagem. 

Como resultado criamos o “mito da democracia racial”, já que muitas pessoas acreditam que no Brasil vivemos todos em pé de igualdade uma vez que não houve regimes de segregação como nos EUA e África do Sul. 

Quem é preto no Brasil? 

Quando, em 1976, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), permitiu que cada indivíduo declarasse de forma livre com qual cor se identificava no Censo Demográfico, as respostas foram de “cor de burro fugido” a “morena castanha”. A partir daí notou-se a necessidade de limitar as possibilidades de autodeclaração. Já que os dados recolhidos no senso precisam refletir a realidade para a construção de políticas públicas como as cotas raciais. 

Atualmente, o IBGE divide os grupos de raça e cor entre Branco, Amarelo, Indígena, e também Pardo e Preto (que formam o grupo de negros). A junção de pardos e pretos foi uma conquista do movimento negro, já que são grupos que vivem em condições sociais muito próximas, o que facilita a construção de políticas públicas voltadas a essa parcela da sociedade. 

Apesar disso, no dia a dia as coisas se tornam complexas. Como resultado das dinâmicas de mestiçagem, encontramos pessoas com os mais variados fenótipos. Pele clara e cabelo crespo, pele escura e olhos verdes, assim, alguns tem aparência ambígua e caem em um limbo racial onde não sabem o que são. Isso se tornou ainda mais difícil com o recente movimento de negar o termo pardo a fim de enaltecer a afrodescendência e se autodeclarar preto. 

Porém, no Brasil, diferente de alguns outros países, o racismo é baseado no fenótipo, ou seja, pouco importa se seu pai, mãe ou avó são pretos, mas sim como você se parece e como o mundo te lê. Sendo assim, é indiscutível que quanto mais você se aproxima do estereótipo de negro (pele escura, cabelo crespo e nariz largo) mais a sociedade será racista e excludente.  

Por isso, é necessário se autodeclarar com honestidade e responsabilidade. É preciso reconhecer a passibilidade que o fenótipo pode trazer a pessoas com a pele não retinta. Sendo assim, apesar de não existir um consenso sobre o que define uma pessoa como preta ou parda, a autodeclaração deve considerar todos os fatores descritos acima e claro, a vivência e experiência do indivíduo. 

Para saber mais 

Para entender mais sobre o assunto e conhecer novas abordagens acerca do tema, indico as seguintes pesquisadoras: 

Beatriz Bueno comunicadora e pesquisadora responsável pelo projeto “Parditudes”  

https://www.instagram.com/parditude/ 

Barbara Carine palestrando e dona do perfil “Uma intelectual diferentona” 

https://www.instagram.com/uma_intelectual_diferentona/ 

Carla Akotirene Santos – escritora e doutora em Estudos de Gênero, Mulheres Feminismos  

https://www.instagram.com/carlaakotirene/ 

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

ODC Diálogos – 17 de Abril de 2024

No dia 17 de abril (quarta-feira), às 19 horas, acontecerá mais uma edição do ODC Diálogos. Motivado pelo número 100 do Boletim, o encontro tem como tema “Avanços e desafios para a política cultural no Brasil hoje”, e contará com a participação de Albino Rubim e Bernardo Mata Machado, sob mediação da pesquisadora do ODC, […]

CURSOS E OFICINAS

Oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural – Santa Luzia (MG)

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, e com o patrocínio da Soluções Usiminas, e apoio do SESC Santa Luzia, realiza a oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural. A oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural tem como objetivo a formação de agentes culturais, estudantes, pesquisadores […]

Mais cursos