giovannacco por Pixabay

NOTÍCIAS

Aprovação do FUNDEB e as lições para a cultura

Imagem capa: giovannacco por Pixabay

No último dia 21 de julho, o novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) foi finalmente aprovado por ampla e esmagadora maioria na Câmara dos Deputados. Ao contrário do que queria o Governo Federal – adiar para 2022 a recriação do FUNDEB, 499 deputados federais no primeiro turno e 492 em segundo turno votaram a favor do texto da relatora Dorinha Seabra (DEM-TO).

O FUNDEB é um fundo essencial para o financiamento de toda a educação básica no Brasil, abrangendo Creches, Pré-escola, Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio até a Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Seu funcionamento se dá da seguinte maneira:

…cada estado e o Distrito Federal têm um fundo que funciona praticamente como uma conta bancária coletiva em que entram recursos de diferentes fontes de impostos estaduais e municipais e, em alguns casos, transferências do Governo Federal para os estados e os municípios …. Seguindo uma série de regras, esse total é redistribuído de acordo com o número de alunos da Educação Básica Pública (ou da rede conveniada, em alguns casos) de cada rede e das etapas e modalidades de ensino (algumas são mais “caras” que outras, isto é, recebem um valor maior devido à complexidade do atendimento educacional). (https://www.todospelaeducacao.org.br)

A distribuição dos recursos é feita por cada fundo estadual, que distribui seus recursos conforme o número de alunos matriculados, com base no Censo Escolar do ano anterior (por exemplo, os recursos de 2019 basearam-se no número de alunos de 2018). Critérios de equidade pontuam com pesos diferentes as diferentes etapas do Ensino Básico, considerando o custo per capita nos diferentes níveis de ensino.

Em 2019, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, cada estudante em contexto urbano, representou um repasse de R$ 3.044,29 anuais. Os recursos do FUNDEB são utilizados no pagamento de salário de professores da rede pública até o limite de 60% de seu total (ampliado em sua recriação para 70% incluindo todos os profissionais de educação; os demais 30% podem viabilizar a formação continuada dos professores, o transporte escolar, a aquisição de equipamentos e material didático, e na construção e manutenção das escolas. Tais usos são disciplinados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

Para que se tenha uma ideia, o fundo, que é composto por impostos estaduais, municipais e federais teve, em 2019, recursos da ordem de R$ 166,6 bilhões, sendo R$ 151,4 bilhões de arrecadação estadual e municipal, e R$ 15,14 bilhões da União. Cerca de 84% dos alunos matriculados no Ensino Básico no país são cobertos pelo FUNDEB.

A urgência em sua aprovação deve-se ao fato de que, em 2020, seu prazo de vigência expira, podendo gerar um verdadeiro “apagão” do ensino básico no Brasil. O atual FUNDEB vigorou entre 2007 e 2020 em substituição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), criado em 1997, com prazo de validade até 2006.

A recriação do FUNDEB torna o fundo permanente e aumenta gradativamente a participação da União em sua manutenção, passando dos atuais 10% para 23% a partir de 2026. Em agosto, o Senado Federal votará o Projeto de Lei que tem o senador Flávio Arns (Rede-PR) como relator e que já adiantou seu parecer favorável ao que foi votado na Câmara Federal.

Mas o que o FUNDEB tem a ensinar para o FNC (Fundo Nacional de Cultura)?  Em primeiro lugar, é um exemplo de funcionamento cooperativo e complementar dos entes da federação. Em segundo lugar, revela a enorme diferença de valores investidos na educação e na cultura: a Lei de Emergência Cultural, por exemplo, prevê o uso de 2,9 bilhões de reais do superávit do FNC, a despeito da cultura empregar 5 milhões de pessoas e ser responsável por 2,64% do PIB brasileiro em 2017. Mas, o mais importante é uma lição sobre os males que a institucionalidade descontínua e interrompida do Sistema Nacional de Cultura nos traz. A não regulamentação do SNC e a crença de que a participação social de setores culturais garantiria a continuidade do novo paradigma sobre as políticas culturais no Brasil criado e inserido na Constituição Federal em seu artigo 216-A, parece apontar para uma mistura de ingenuidade e negligência. Criado em 1986 o FNC, além de seus parcos recursos, está ancorado na ideia de financiamento de projetos e ações e não na manutenção de políticas públicas federativas. Essa é uma das enormes distâncias entre a educação e a cultura no Brasil, a despeito do consenso do caráter indissociável de ambas enquanto componentes centrais do pleno exercício da cidadania.

Agora é torcer para que, após a operacionalização da Lei Emergencial da Cultura, importante instrumento de amparo ao meio cultural no enfrentamento dos efeitos da Pandemia da COVID-19, retomemos o curso da história, dando prosseguimento à efetiva instauração do Sistema Nacional de Cultura.

Para  saber mais sobre o novo FUNDEB leia:

https://www.todospelaeducacao.org.br/conteudo/novo-fundeb-maior-e-mais-redistributivo-e-aprovado-no-1-turno-da-camara

https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2020-07/no-senado-relator-mantem-parecer-do-novo-fundeb-aprovado-na-camara

Deixe aqui o seu comentario

Todos os campos devem ser preenchidos. Seu e-mail não será publicado.

ACONTECE

ODC Diálogos – 17 de Abril de 2024

No dia 17 de abril (quarta-feira), às 19 horas, acontecerá mais uma edição do ODC Diálogos. Motivado pelo número 100 do Boletim, o encontro tem como tema “Avanços e desafios para a política cultural no Brasil hoje”, e contará com a participação de Albino Rubim e Bernardo Mata Machado, sob mediação da pesquisadora do ODC, […]

CURSOS E OFICINAS

Oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural – Santa Luzia (MG)

O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, e com o patrocínio da Soluções Usiminas, e apoio do SESC Santa Luzia, realiza a oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural. A oficina Mapeamento Participativo da Diversidade Cultural tem como objetivo a formação de agentes culturais, estudantes, pesquisadores […]

Mais cursos