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Manual de Leitura Crítica de Mídia

page_1_thumb_largeNo mês seguinte à forte contestação quanto à atuação da mídia convencional durante os protestos de junho deste ano, chega à internet o “Manual Prático (muito prático mesmo) de Leitura Crítica de Mídia”. Na entrevista a seguir, o jornalista do Centro de Cultura Luiz Freire, Ivan Moraes Filho, apresenta a proposta da publicação que tem como objetivo “fazer com que qualquer pessoa possa compreender o que está por trás das matérias e reportagens que vemos todos os dias e que possa encontrar maneiras de interferir nesse discurso”. O Manual é resultado de parceria do Centro de Cultura Luiz Freire, Fundação Ford e Auçuba – Comunicação e Educação, através do programa Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia do Recife.

ODC – Como surgiu a ideia do guia? O que motivou à sua criação?
IF – No Centro de Cultura Luiz Freire nós já fazemos a leitura crítica da mídia de forma regular há pelo menos dez anos. Começamos dialogando diretamente com jornais e depois passamos a publicar alguns comentários, sob a ótica dos direitos humanos, num blog que depois se tornou o site www.ombudspe.org.br. Com o passar do tempo, foram surgindo outros ‘observatórios’ de mídia, normalmente feitos por jornalistas ou pessoas ligadas ao movimento da comunicação. Nós paramos de fazer análises diárias; como acreditamos que este exercício não pode ser um privilégio de quem é da área, resolvemos sistematizar nossa prática para que qualquer grupo pudesse também compreender o que está nas entrelinhas das informações publicadas pelos veículos de comunicação.

ODC – Como se deu o processo de criação do Manual?
IF – O Manual nada mais é do que um relato simplificado do que nós fizemos no CCLF durante alguns anos. O compartilhamento de uma metodologia que nós fomos desenvolvendo na medida em que íamos fazendo nossas próprias análises e intervenções. Naturalmente, nessa caminhada, houve contribuições fundamentais de parceiros e parceiras que atuam no campo dos direitos humanos, da educação popular e da comunicação. O texto final é de autoria de toda a equipe que passou pelo programa de comunicação da entidade naquele período. O projeto gráfico é todo de autoria dos alunos da escola OiKabum! que faz um trabalho muito legal de formação em ferramentas de comunicação e é tocada pela ONG Auçuba. Conversamos com o grupo, dialogamos sobre a necessidade de se observar a mídia sob um olhar mais crítico, sobre a importância de que mais gente possa ter acesso a esses conhecimentos. Ao longo de um par de meses, eles desenvolveram a diagramação e também as ilustrações. Foi uma parceria muito importante que esperamos manter.

ODC – Quais são os principais conteúdos e como são tratados?
IF – A proposta do Manual é fazer com que qualquer pessoa possa compreender o que está por trás das matérias e reportagens que vemos todos os dias e que possa encontrar maneiras de interferir nesse discurso. Sendo assim, a análise já começa procurando identificar de onde parte aquele discurso. Quem controla o jornal? O concessionário da tevê tem outras empresas ou interesses políticos? Quem é o repórter que escreve? Para quem é direcionada cada publicação? A partir daí, damos sugestões de como interpretar títulos, legendas, fotos, matérias – e até aquilo que não está escrito. Os últimos passos dão dicas de como atuar para dialogar com os meios, que vão desde conversas com jornalistas até representações no Ministério Público.

ODC – Como está sendo divulgado e distribuído?
IF – Lançamos o Manual com um grande debate sobre comunicação no Brasil, justamente na esteira dos protestos de junho. Ainda este ano vamos realizar diversas oficinas com professores, integrantes de movimentos sociais e grupos da juventude para disseminar ainda mais a metodologia que a cartilha propõe (e para isso também estamos aceitando convites). Qualquer pessoa interessada em receber a publicação pode entrar em contato com o Centro de Cultura Luiz Freire através de nossa fanpage no Facebook (https://www.facebook.com/CentroLuizFreire), enviamos para todo o país.

ODC – Há outras informações que gostaria de acrescentar?
IF – Temos a esperança de que esse manual possa ajudar muita gente a compreender melhor não só o discurso dos meios de comunicação, mas também – através dessas análises – informar-se melhor sobre a realidade em que vivemos. Além de perceber a necessidade de mudarmos a forma com que a comunicação é tratada no Brasil, fundamentalmente (e, às vezes, fundamentalisticamente) pelo viés do capital, com a informação sendo costumeiramente percebida como uma mercadoria qualquer. O tipo de formação que nossa publicação propõe é aquilo que a gente acredita ser importante para se discutir em todas as escolas, por exemplo. Tanto é que a instituição da disciplina de Leitura Crítica de Mídia é uma proposta antiga do movimento da comunicação. Com essa cartilha, a gente pretende acordar a pulguinha que todo mundo tem atrás da orelha e que muitas vezes passa a vida toda dormindo.

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