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Mulheres em cena

O Dia Mundial do Teatro é comemorado nesta sexta-feira, 27 de março, mas se hoje a data faz justa homenagem à atuação profissional das mulheres que ocupam os palcos e bastidores dos espetáculos, esta é uma conquista histórica da luta por direitos políticos. A presença delas no teatro era proibida nas cidades estados gregas e a personagem feminina era representada por atores que usavam máscaras. Enquanto os homens ali nascidos eram livres e iguais e tinham o direito de participar da vida política, cabiam a elas os universos doméstico e da maternidade, já que no berço da civilização ocidental a mulher não alçava a condição de cidadã.

Em setembro de 2019, tornou-se emblemático um caso de ataque à liberdade de expressão no meio teatral, protagonizado pela atriz considerada a dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro. A fala desrespeitosa do então diretor da Funarte, Roberto Alvim, dirigida à atriz de 89 anos, provocou indignação nas redes sociais e foi repudiada pelo setor artístico. A atriz posou para uma revista vestida como uma bruxa prestes a ser queimada em uma fogueira de livros, o que o diretor considerou nocivo ao país e como um ataque ao governo federal, declarando sentir “desprezo” por ela e chamando-a de “mentirosa”.

A presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos e Espetáculos de Diversão do Estado de Minas Gerais (Sated MG), Magdalena Rodriguez, ressalta a importância da luta por liberdade de expressão, contra a visão machista que rotula e discrimina corpos e comportamentos. Ela lembra que a Federação Internacional de Atores (FIA), entidade à qual o Sated é filiado, oferece, em várias regiões do mundo, informações sobre como mudar o tratamento de gênero e promover oportunidades de emprego para atrizes, identificando situações ligadas aos principais obstáculos enfrentados.

Os dados informados pelas entidades filiadas compõem cenários de recorrentes denúncias de assédio moral e sexual por parte de grandes produtores e colegas de trabalho, predominantemente nos EUA e países da Europa. Outro aspecto que chama a atenção é a configuração das mulheres enquanto grupo social, considerando-se fatores como a idade, duração de vida profissional e novas oportunidades. “Enquanto os homens estão distribuídos de forma mais equitativa, as mulheres estão concentradas quase sempre em grupos de idades equiparadas, ou seja, mais jovens, e muitas atrizes trabalham raramente, sendo ainda mais difícil aparecerem convites, quanto mais avança a idade”, observa Magdalena.

A atriz e advogada Kátia Bizinotto, uma das gestoras do Grupontapé, da cidade de Uberlândia (MG), e pesquisadora na área dos direitos culturais, acredita que as mulheres atuantes no teatro têm uma importante ação coletiva pela frente, pautada pela “ética, preocupação com todos, conquista da empatia”, o que configura, na sua visão, a “luta pela sobrevivência do próprio teatro”. Ela enfatiza ainda que é preciso atuar em espaços políticos, participando de fóruns, conselhos e associações. O maior desafio, no entanto, continua presente nas atividades do dia a dia: “Dobrar papéis e funções em casa e no ambiente de trabalho para dar conta de uma rotina, muitas vezes sem rotina”.

De acordo com a presidente do Sated MG, há público para as peças que expressam pontos de vista ligados às lutas das mulheres, insuficientes mesmo são os recursos. “Faltam políticas públicas para as artes, que realmente atendam ao cidadão e não à transitoriedade dos governos”, diz, ao criticar a renúncia fiscal como meio exclusivo de implementar projetos artísticos, o que, segundo ela, “está fadado ao dirigismo”.

“Espetáculos sobre temas que traduzem causas como a luta das mulheres deveriam ser assistidos por estudantes”, defende Kátia, ao destacar que essas peças deveriam compor a formação do ser humano, envolvendo as dimensões do intelecto e sensibilidade das crianças e jovens.

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