A realização da pesquisa Públicos de Cultura é o primeiro passo para ampliar a discussão sobre o tema. O cruzamento dos inúmeros dados permite criar diferentes cenários sobre o comportamento de consumo e produção cultural. Em uma primeira leitura das informações coletadas é possível identificar de forma sintética, um retrato dos hábitos e gostos culturais e o perfil dos entrevistados.
A maioria das pessoas pesquisadas declara ser de cor branca ou parda. A maior parcela não está estudando e é composta por pessoas que completaram o ensino médio ou superior, seguida dos que possuem ensino fundamental incompleto. No que diz respeito aos aspectos ligados ao trabalho, a maior parte dos pesquisados está inserida na População Economicamente Ativa (PEA), mas é significativa a porcentagem de inativos (em sua maioria formada por aposentados e pessoas donas de casa) e por desempregados: mais de 4 em cada dez entrevistados estão em uma dessas duas situações. Também merece destaque a proporção de pessoas pesquisadas que estão no chamado mercado informal, composto em sua maioria por assalariados sem carteira assinada, conta-própria temporários e auxiliares sem remuneração fixa. Entre os entrevistados que estão empregados formalmente, destacam-se os assalariados com carteira assinada, servidores públicos e os trabalhadores por conta-própria/ autônomos que recolhem ISS. Mais de 7 em cada dez pessoas pesquisadas trabalham no ramo de Serviços (45%) ou do Comércio (29%).
No que concerne ao perfil socioeconômico, por fim, mais da metade dos entrevistados está inserida nos chamados estratos médios (EM), cuja renda mensal domiciliar per capita é situada entre R$ 290,00 e R$ 1.018,00. Embora a maior parcela esteja localizada no baixo ou médio EM, é significativa a proporção de pessoas que estão nos altos estratos médios (20%) e nos estratos altos (16%), cuja maior concentração se dá no Sul e Sudeste. Um dado interessante diz respeito à comparação dos perfis de escolaridade dos entrevistados com os dos seus pais. Quase 9 em cada dez pessoas pesquisadas tiveram algum tipo de mobilidade geracional em relação ao perfil de escolaridade da família, sendo a imensa maioria (73%) composta por pessoas que ascenderam e conquistaram maiores níveis de escolaridade que seus pais. A maior parcela é casada (54%) e é seguidora de alguma religião, com destaque para a católica (57%) e a evangélica (28%).
LAZER, ATIVIDADES CULTURAIS E USO DO TEMPO
Em relação aos principais hábitos de lazer, aproximadamente metade dos entrevistados afirmou que nas horas livres dos fins de semana se dedica a atividades dentro de casa e/ou faz atividades de lazer/entretenimento, como ir a restaurantes, shoppings, sair com amigos etc. Já entre segunda e sexta-feira, enquanto as atividades dentro de casa são mencionadas por 66% dos pesquisados, as atividades de lazer e entretenimento se reduzem a 23%.
Considerando-se o total de horas gastas em atividades ao longo da semana, as que fazem as pessoas gastarem maior tempo são: os cuidados pessoais com a própria saúde, incluindo alimentação e tempo dormindo, a realização de algum trabalho remunerado, os afazeres domésticos, assistir TV e o deslocamento de um lugar a outro. Já aos fins de semana, a presença da TV sobe para o segundo lugar, seguida dos afazeres domésticos, passeios e o trabalho remunerado. É importante salientar que o trabalho remunerado está presente nos finais de semana para 31% dos entrevistados.
O público-alvo pesquisado, no entanto, tem nas viagens e na companhia da família as atividades mais valorizadas. Quando perguntados sobre quais atividades gostariam de fazer nas horas livres se pudessem escolher livremente,sem a preocupação com o tempo, dinheiro ou permissão, mais da metade citou o desejo de viajar, enquanto 41% citaram a companhia da família, 24% a vontade de cuidar de si mesmo(a) e outros 18% a intenção de descansar e não fazer nada.
Os principais locais visitados quando desejam fazer alguma atividade cultural nos fins de semana são os shoppings, cinemas, parques, igrejas, teatros, restaurantes e outros espaços de alimentação e praças. A maior parcela se dedica, nos lugares citados, a atividades de entretenimento e atividades culturais, com uma pequena participação de atividades esportivas e religiosas. É importante salientar, no entanto, que na percepção de 51% dos entrevistados nenhuma atividade cultural é feita por eles aos fins de semana. Essa proporção chega a 85% entre segunda e sexta-feira, de forma que a principal atividade cultural citada passa ser a ida a igrejas e outros locais religiosos.
Não obstante, se pudessem escolher, 60% fariam alguma atividade cultural no fim de semana e outros 50% nos dias de semana. Entre os principais locais citados para essas atividades, destacam-se o cinema, o teatro, os parques e praças e o shopping center.
PÚBLICOS DE CULTURA E GOSTOS
Em termos gerais, é pequeno o leque de atividades culturais realizadas pelos pesquisados: 89% nunca foram a um concerto de ópera ou música clássica em sala de espetáculo e 83% em qualquer outro local; 75% nunca foram a espetáculos de dança ou balé no teatro; 71% nunca estiveram em exposições de pintura, escultura e outras artes em museus ou outros locais e 70% nunca foram a uma exposição de fotografia. Além disso, outras atividades, como ver uma peça de teatro em qualquer local (61%), a uma peça no teatro (57%) e a um show de música em uma sala de espetáculo foram outras atividades cuja maioria dos entrevistados afirmou nunca ter realizado. Por outro lado, as únicas atividades cuja maior parte das pessoas pesquisadas afirmou já ter realizado foram: assistir a um filme em casa ou outro lugar diferente do cinema (91%), dançar em bailes e baladas (80%), ir ao cinema (78%) e ao circo (72%), ler um livro por prazer (69%), assistir a um show de música em casa ou outro local diferente de casas de espetáculos (69%) e a dia a bibliotecas (58%). A maior parte dos entrevistados realiza essas atividades com amigos e/ou com cônjuge/companheiro(a). Por sua vez, dentre as principais razões citadas para não realizarem as atividades, os motivos se equilibram entre não gostarem de determinadas atividades e não existirem algumas delas na cidade. Não é insignificante, contudo, a proporção de razões ligadas ao fato de não terem costume e/ou não acharem interessantes/importantes alguns desses tipos de atividades. Por fim, os principais meios pelos quais os entrevistados se informam sobre as atividades culturais a que costumam ir são as sugestões de amigos, parentes e colegas (41%), a divulgação na mídia (36%) e a internet (25%).
Com relação à primeira atividade cultural com a qual os entrevistados tiveram contato (ainda na infância ou mais tarde), o circo (29%), o cinema (16%) e o teatro(11%) foram, com grande distância, os mais citados. Embora não seja desprezível a porcentagem de pessoas que realizaram essas atividades pela primeira vez já na adolescência ou fase adulta, a maioria dos entrevistados teve o primeiro contato com elas ainda na primeira infância (ou, no máximo, até os 10 anos de idade). No entanto, é pequena a proporção de pessoas que dizem produzir alguma atividade cultural. Cerca de 15% cantam e 13% dançam, individualmente ou em grupo; 10% tocam algum instrumento, 7% fazem fotografias, 5% fazem algum tipo de pintura, escultura ou desenho e somente 4% fazem algum tipo de escrita criativa ou compõem músicas.
No que se refere aos gostos culturais, a maioria das pessoas entrevistadas afirma gostar de observar os principais elementos culturais e artísticos da cidade, tais como parques (89%), arquitetura em geral (73%), luzes artísticas e decorativas (70%), monumentos e estátuas (68%), propaganda e publicidade (54%) e grafites/murais (49%). Com relação aos gostos musicais, os gêneros mais mencionados foram o sertanejo, MPB, Forró, Gospel e Pagode; e as principais danças foram o Forró, a Dança de salão, Samba e Street Dance/Rap. No que diz respeito aos gêneros de teatro, o preferido, com grande distância, é a comédia, bem como os principais tipos de apresentação que gostam de ver são o circo, as comédias stand up e os teatros de bonecos. É importante ressaltar que 26% dos entrevistados afirmam que não gostam de exposições artísticas e outros 26% que não sabem ou nunca foram a uma.
A maior parte das pessoas (58%) não leu nenhum livro nos últimos 6 meses e os que leram possuem uma média de apenas 1,2 livros lidos neste período. O segundo tipo de livro lido mais citado, depois de romance, foi a Bíblia. No que concerne à TV, 62% afirmam assistir apenas aos canais abertos e 28% tanto a TV aberta quanto a por assinatura. Os principais produtos culturais vistos na TV são as novelas (54%), filmes (52%) e os jornais de notícias (44%). Entre os filmes prediletos, estão os de aventura (39%), comédia (38%) e romance (29%), com preferência pelo cinema americano (45%) e menos pelo nacional (33%). Cerca de 65% das pessoas vêem filmes nacionais de vez em quando, enquanto 22% sempre e 14% disseram nunca assisti-los.
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
É bastante significativa entre as pessoas pesquisadas a utilização da TV aberta como meio principal de adquirir informação sobre o que acontece em sua cidade, no Brasil e no mundo. Ela se destaca em todas as regiões do país (embora com menos força no Sul) e portes de município. A internet foi citada, neste aspecto, por um terço dos entrevistados (superando a TV aberta e se destacando como principal meio apenas nos estratos de renda acima de 5 salários mínimos), seguida de conversas entre amigos, rádio, jornais impressos e TV por assinatura. Apenas pouco mais da metade das pessoas pesquisadas afirmou que usa computador e internet (predominantemente em casa), aumentando significativamente a proporção conforme cresce a escolaridade e a renda familiar mensal (entre os que possuem ensino superior e renda acima de 5 salários mínimos, as porcentagens são de 94% e 85% respectivamente). As principais finalidades do uso do computador e da internet se concentram no entretenimento e pesquisa: conhecer pessoas e entrar em salas de papo (35%), buscar notícias (28%), utilizar sites de busca (22%) e enviar emails ou mensagens (14%).
Pouco mais de 8 em cada dez pesquisados possuem telefone celular, mas ainda é baixa a proporção de pessoas que o utilizam para outras finalidades que não a de fazer e receber ligações, como comunicar-se por SMS (34%), fotografar/filmar (17%), usar internet (17%), ouvir música (16%), conectar-se às redes sociais (12%) e jogar (8%). Essas outras finalidades não atingem a maioria dos entrevistados nem mesmo entre os mais escolarizados e com maiores níveis de renda.
CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024 A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]
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