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9ª edição do FAN dá visibilidade às lutas das mulheres negras

A história de violência contra as mulheres negras, em todas suas facetas, é alarmante. No extremo destas formas de violência, surpreende  o dado informado pela EBC  a taxa de homicídio contra mulheres dessa cor foi de 5,4 para cada 100.000 mil pessoa, enquanto a de mulheres brancas é 3,2 para mesma proporção. Obviamente, espera-se que os dois números diminuam. No entanto, eles indicam como corpos de mulheres negras estão mais vulneráveis. Isso sem falar nas impossibilidades de inclusão nas áreas  de trabalho  e social devido ao racismo e machismo – em muitos casos, ambos ao mesmo tempo.
Uma forma de combater o crescimento desses números, proporcionar discussão e visibilidade para essas mulheres terem seus direitos igualitários garantidos é por meio da arte e do debate, como propõe a nona edição do Festival de Arte Negra (FAN), que acontece entre os dias 15 e 22 de outubro, em Belo Horizonte.

A peça ”Vaga Carne”, com Grace Passô, integra a programação do FAN 2017. Foto Kelly Knevels

Conhecido na capital mineira, por sua potência político-artística, o FAN é bienal e promove espetáculos teatrais, shows musicais, exposições, mesas redondas além de programação voltada para crianças crianças e encontros para discussão da diversidade religiosa. Ao todo são 100 atrações artísticas, de caráter plural e escolhidas a do tema escolhido para esta edição: a mulher negra.
Com a escolha, as três curadoras – Carlandréia Ribeiro, Luciana Gomes (Black Josie) e Karú Torres –  colocaram a luta das mulheres negras como ponto de partida para escolhas das atrações do FAN e, assim, garantem visibilidade à causa e promovem a inserção da temática nas esferas pública, midiáticas e acadêmica considerando a inserção do festival. Acesse  o site do evento  e confira toda a programação.

As curadoras do FAN-BH 2017 > Luciana Gomes (Black Josie), Carlandréia Ribeiro e Karú Torres- Foto por Ricardo Laf

Abaixo, Carlandréia responde ao ODC como o FAN, em seu formato atual, contribui para a queda da diminuição da violência contra a mulher.
ODC – A violência contra a mulher negra na sociedade brasileira é, infelizmente, uma constante. Como um evento cultural como o FAN contribui para diminuição dessa violência?
Carlandréia Ribeiro – “Quando as vidas das mulheres negras tiverem importância o mundo será transformado”. A frase é de Lélia Gonzalez, que também diz: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se a base do capitalismo”.
Acredito que o festival traz como contribuição para este tema o fato de colocar a mulher à frente, no centro do debate. E foi justamente pensando nisso, que no âmbito das artes cênicas as escolhas procuraram trazer à luz personagens femininas emblemáticas. Que oferecem em uma sobreposição de camadas dramáticas suas histórias, suas vivências e formas de sobrevivência ao peso existencial que carrega toda aquela que possui em seu fenótipo a condição de ser mulher negra.
Em contraponto ao corpo fetichizado pela mídia os espetáculos nos instigam a refletir sobre quais lugares esses corpos devem ocupar. Nos contam histórias de protagonistas que souberam dar sentido ao significado do ser mulher vencendo os estereótipos impostos por um racismo naturalizado nas sociedades ocidentais.
Seja por meio do pensamento e da memória, ou por meio de seus ícones lendários, os trabalhos apresentam em suas dramaturgias uma gama de questões que envolvem o universo feminino negro na cena afro contemporânea brasileira.
Então, nesse sentido, o Fan Mulher colabora para que mais mulheres possam se engajar e se empoderar a partir da escuta de outras vozes femininas que de algum modo estão superando este lugar de silenciamentos e subalternidade impostos pelo racismo, pelo sexismo e pela misoginia. Inclusive refletir sobre as relações econômicas que historicamente colocam a mulher negra em desvantagem em relação a mulher branca. A luta por isonomia, nesse caso, é fundamental para nos retirar da pobreza e do abandono social.

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