Foto: Adenor Gondim / Reprodução
Por Plínio Rattes[1]
Entre os anos de 2014 e 2017, durante o mestrado em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA), realizei uma pesquisa sobre políticas e gestão de equipamentos culturais públicos da cidade de Salvador-BA[2], a partir da perspectiva dos seus gestores, considerando a importância fundamental desses profissionais no papel e no desempenho de tais equipamentos.
O interesse pela temática deste estudo partiu de dois entendimentos: primeiro, a compreensão da importância da existência de equipamentos voltados à promoção de encontros culturais e manifestações artísticas como essenciais para as práticas e hábitos culturais dos indivíduos; segundo, o fato de a construção de equipamentos culturais estar entre as principais demandas e reivindicações de diversos municípios nas Conferências de Cultura realizadas na Bahia.
A gestão de equipamentos culturais públicos está diretamente vinculada, entre outros fatores, às políticas culturais vigentes e à atuação de seus gestores. Compreendemos que a política cultural e suas diretrizes são determinantes para moldar os conceitos e o perfil da gestão de um equipamento cultural, assim como consideramos importante a presença de gestores devidamente capacitados.
Diante disso, foram entrevistados oito gestores e ex-gestrores de equipamentos culturais públicos de Salvador-BA e três profissionais que estiveram à frente da Diretoria de Espaços Culturais (DEC), da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). Os equipamentos estão localizados em diferentes regiões da cidade e administrados por órgãos vinculados às esferas federal (Teatro Martim Gonçalves), estadual (Espaço Xisto Bahia, Centro Cultural Plataforma, Espaço Cultural Alagados, Cineteatro Solar Boa Vista, Casa da Música e Teatro Castro Alves) e municipal (Espaço Cultural da Barroquinha).
Salvador possui uma intensa produção artística e cultural mesmo com as limitações dos mecanismos de fomento e financiamento à cultura tanto público quanto privado. A despeito da importância que a cultura tem para si em termos simbólicos e econômicos e dos avanços alcançados pelas políticas culturais desenvolvidas no estado, a cidade, no que se refere, ao menos, à sua rede de equipamentos culturais públicos destinados às artes dos espetáculos (circo, dança, música e teatro) possui uma estrutura deficitária e altamente concentrada espacialmente.
A pesquisa apontou que a gestão desses equipamentos carece de maior investimento em ações continuadas, em institucionalização, no fortalecimento da gestão para além dos planos de governo e, principalmente, maior representatividade política. Esses locais precisam posicionar-se com maior destaque na arena de discussões das políticas públicas de cultura, à altura da capacidade de transformação que podem provocar em suas comunidades.
Observamos que as iniciativas que têm sido levadas a cabo pelo poder público parecem ser insuficientes e não contemplam a contento algumas demandas urgentes da gestão dos equipamentos culturais públicos, como manutenção e readequações arquitetônicas, programas de mediação de públicos, planos de comunicação eficientes e adequados aos perfis e objetivos de cada equipamento, entre outras. Observamos também que não há uma divisão clara das obrigações de cada um dos entes federados no âmbito dos equipamentos culturais, havendo, em geral, sobreposição de políticas e ações em determinadas áreas, enquanto outras permanecem pouco ou quase nada atendidas. Tal situação atesta que ainda há no país uma cultura de pensamento não sistemático das políticas culturais, apesar dos esforços envidados nos últimos anos na consolidação do Sistema Nacional de Cultura (SNC).
Outro ponto observado é a carência de cursos de formação e aperfeiçoamento de gestores para atuação no segmento dos equipamentos culturais. Sobre essa questão, destacamos que esses profissionais devem preocupar-se, sobretudo, em conhecer a realidade com a qual estão lidando, para se tornarem capazes de dialogar com ela. Autores como Rubens Bayardo (2008), Affons Martinell (2014) e Marta Porto (2015) assinalam que o campo da cultura não tem modelos próprios de gestão que os diferenciem de outras atividades da vida social e que, portanto, os modos de gerir devem acompanhar a dinamicidade e diversidade da cultura, sempre considerando o contexto local onde se irá atuar.
Ao fim do trabalho, constatamos que, em linhas gerais e com raras exceções, os equipamentos abrangidos na pesquisa têm suas potencialidades exploradas aquém do que poderiam oferecer. Além disso, há claramente uma lacuna em termos de estudos e pesquisas no âmbito dos espaços e equipamentos culturais no país, o que dificulta a elaboração de políticas e medidas coerentes com as reais necessidades da área. Apesar da evidente importância dos espaços culturais, o lugar que ocupam ainda é pouco privilegiado no campo dos estudos da cultura e das políticas culturais. Ainda são poucos, incipientes ou pontuais os estudos que os tomam como objetos de pesquisa, com o propósito de analisá-los e compreendê-los nas suas mais variadas dimensões. São igualmente escassas as políticas públicas, sejam elas pontuais ou permanentes, voltadas para esse segmento. Contexto em que se configura um grande desafio para o campo e os profissionais nele envolvidos.
[1] Doutorando e Mestre em Cultura e Sociedade (IHAC/UFBA). Gestor e produtor cultural. Analista de cultura do Sesc Bahia. Pesquisador do Observatório da Diversidade Cultural.
[2] A pesquisa está disponível na Plataforma Sucupira: <https://bityli.com/Ra2J3>.
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