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“Segurança sem cultura é repressão, todas as áreas precisam da cultura”

Reprodução: Nonada 

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em uma noite de festa e retomada dos fazedores e servidores da Cultura, que celebraram a volta do Ministério da Cultura (MinC), a cantora e compositora Margareth Menezes tomou posse como ministra nesta segunda (2) no Museu Nacional, em Brasília.

Com um discurso que destacou a valorização dos artistas e trabalhadores da área, a importância do setor para a economia e a riqueza da diversidade cultural brasileira, incluindo as culturas periféricas e LGBTQIA+, Margareth propôs o “reencantamento de um país propositadamente desencantado”. A ministra da Cultura também lembrou suas origens afro-indígenas  como motivadores do trabalho que deve fazer na área.

 “Sou cidadã brasileira de origem afro-indígena, nascida na periferia do nordeste brasileiro, trago dentro do meu peito um amor pelo país diverso”, disse. “Saúdo o lugar em que nos reunimos agora, Encruzilhada física e simbólica que o exu monumental, o eixo norte-sul de Brasília desenha no coração do Cerrado, do Sertão brasileiro. Lugar de travessias que percorremos espiritual e corporalmente”.

Para Margareth, “a cultura incomoda, a cultura mexe, a cultura desobedece, e floresce, e por isso ela é também expressão democrática e de direitos”. Sob aplausos de um auditório lotado e com presença significativa dos servidores do MinC – que estavam alocados na secretaria especial da Cultura -, a ministra destacou também a luta que os profissionais da área travaram nos últimos anos, em referência aos desmontes promovidos pelo governo Bolsonaro.

“Cultura é riqueza. Do carnaval vibrante e coletivo à poesia intimista da bossa nova, da arquitetura modernista ao modo de dobrar a palha do milho da pamonha, da sabedoria do repente ao rap transformador, do baile funk à ginga da capoeira, da literatura dita e escrita ao cinema, tudo é cultura, este núcleo estético e ético da vida. Temos no Brasil inúmeras carências de acesso a bens e serviços culturais, mas nunca pobreza”, defendeu.

Segundo a gestora, a cultura, além de contribuir com a economia, gerando mais de 5 milhões de empregos no país, também é essencial para as outras áreas que regem as políticas públicas. “Desenvolvimento social sem cultura é assistencialismo, saúde sem cultura é remediação, segurança sem cultura é repressão. As outras áreas precisam da cultura para serem elas mesmas”, completou, lembrando o legado dos ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira  que implementaram uma visão tríplice na área das políticas culturais, valorizando as dimensões cidadã, simbólica e econômica da cultura.

“Existem aqueles que têm vergonha da cultura brasileira, do Brasil encantado, do Brasil profundo, do Brasil real, do Brasil que vive nas periferias, nos Sertões, nos interiores. Isso ocorre porque boa parte vive da ostentação da Cultura como elemento de distração e ornamento e não como algo vital”, argumentou, apontando o caminho para o qual ela deve guiar a cultura também no campo internacional. “Sabemos que as nações mais evoluídas socialmente e intelectualmente consideram a cultura como um poder de transformação. A cultura é como a força motriz de um povo. É como o sangue nas veias do corpo que leva os nutrientes vitais”.

Ao final do discurso, a ministra também anunciou alguns dos nomes que devem compor a estrutura do MinC, recriado no domingo com seis secretarias, como o Nonada contou nesta matéria. Na secretaria executiva, estará o secretário nacional de Cultura do PT, Marcio Tavares.

A Secretaria dos Comitês de Cultura será gerida por Roberta Martins; já  a de Formação, Livro e Leitura, por Fabiano Piúba; Zulu Araújo assume a Diversidade Cultural  e Henilton Menezes fica à frente da Economia Criativa, enquanto Marcos Souza assume a secretaria dos Direitos Autorais e Joelma Gonzaga fica com a pasta do Audiovisual. Outros nomes anunciados são João Akan na Fundação Palmares, Maria Marighella na Funarte e Marco Lucchesi na Biblioteca Nacional.

Veja o discurso da ministra na íntegra: https://youtu.be/yqCu-LBK-LM

Defesa das culturas populares marca falas de artistas 

Muitas foram as menções dos artistas e personalidades presentes às culturas periféricas e à linguagem neutra, censurada no governo Bolsonaro. A noite foi de celebração mas também de expectativa, uma vez que o público estava ansioso para finalmente ouvir a fala da ministra da Cultura, negra, baiana e oriunda das culturas populares.

Antes da fala de Margareth, o secretário executivo, Márcio Tavares, comemorou a volta do MinC. “Hoje a cultura toma posse na sua amplitude. E Margareth Menezes é a própria representação da cultura brasileira, da sua diversidade, representando o Brasil de um lugar que nunca deveria ter saído”.

A primeira-dama e articuladora cultural no governo, Janja da Silva, lembrou do trabalho feito durante a campanha, que buscou ouvir o setor em diversas cidades. “Que esses quatro anos sejam de muita alegria e reconstrução, a cultura é peça fundamental na reconstrução do Brasil e da economia”, declarou. Ela também revelou que o quadro Orixás, de Djanira da Motta e Silva, voltará para o Palácio do Planalto após ser retirado por Bolsonaro. Segundo a historiadora Lilia Schwarcz, o quadro foi danificado por um furo na tela.

A mestra popular Martinha do Coco saudou a gestora:  “Viemos fazer arte na capital federal. Ministra, estamos aqui não para pedir, mas para te ajudar. Estamos voltando pra casa”.  Outra fala marcante foi a da poeta Elisa Lucinda, que desabafou sobre como a guerra cultural do governo Bolsonaro afetou os trabalhadores da cultura. “Para mim foi uma ofensa imensa ser chamada de ladra, de mamata, ver o público ser colocado contra nós. Agora é um trabalho de reconstrução subjetiva do país. O Brasil desenvolveu uma doença autoimune, não se reconhece e então mata quem é. Precisamos urgentemente recuperar nossa história”, pediu, lembrando do preconceito contra o funk e o rap e cantando uma música do MC Poze do Rodo, acompanhada pelo público.

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