Em tempos de crise quase global, e enquanto o Brasil ainda se apresenta como destino desejável para trabalhadores de outras partes do mundo, uma pergunta costuma rondar os espaços em que profissionais de origens diversas passam a conviver: como a diversidade cultural afeta os trabalhadores locais? Será que eles se beneficiam ou perdem com a presença estrangeira? Neste campo, um interessante e detalhado estudo feito por pesquisadores da Universidade da California em Los Angeles trata do efeito da diversidade de nacionalidades dos estrangeiros sobre os trabalhadores “nativos”. No artigo: “The economic value of cultural diversity: evidence from US cities” (OTTAVIANO, G., PERI, G., Journal of Economic Geography 6 (2006) pp. 9–44, 2005), os pesquisadores tratam de inferir o impacto econômico da diversidade da origem dos imigrantes sobre a produtividade e rendimentos dos trabalhadores americanos.
Em 1970, apenas 4,8% dos habitantes dos Estados Unidos eram nascidos no exterior; esse percentual cresceu para 8% em 1990 e para 12,5% no ano de 2000. De acordo com o estudo, algumas cidades como Los Angeles, Nova Iorque e São Francisco têm respectivamente 37%, 31% e 30% de estrangeiros na sua população. No outro extremo, em grandes centros como Cincinnati, Pittisburg e Indianapolis a proporção é de em torno de 2%. Há outros dados interessantes como, por exemplo, a evidência anedótica da contribuição de estrangeiros em áreas de pesquisa científica. Entre 1995 e 2005, de 47 laureados com o Nobel de Química, Física e Medicina baseados nos EUA, 25% não eram nascidos no país, enquanto no mesmo período a proporção estrangeira na população total era de apenas 10% na média.
O índice de diversidade calculado capturou então a fragmentação cultural e linguística para diferentes cidades dos EUA da mesma forma como é feito para diferentes países do mundo. Esta comparação é instrutiva: cidades diversificadas, como Nova York ou Los Angeles são comparáveis com os países como o Zimbabwe e Paquistão, muitas vezes varridos por guerras étnicas. Cidades mais homogêneas, como Cincinnati e Pittsburgh apresentam um grau de fracionamento muito parecido com a Dinamarca é Suécia dos anos sessenta.
O ponto de partida do estudo trouxe um ângulo de análise diferente e uma conclusão quase surpreendente; partiu-se da pergunta sobre qual é o valor econômico da “diversidade” que o estrangeiro trás para cada cidade, concluindo que os cidadãos nativos que vivem nestas áreas metropolitanas onde a percentagem de estrangeiros aumentou entre 1970 e 1990 tiveram um aumento significativo em seu salário. Esta conclusão é mais importante ainda quando o não apenas o senso comum, mas também grande parte das pesquisas voltadas para imigração inúmeras vezes concluiu que o efeito da entrada de trabalhadores estrangeiros costumava fazer baixar os rendimentos médios dos trabalhadores nativos.
A interpretação dos efeitos da presença de estrangeiros tem várias nuances; suas competências e habilidades podem tanto complementar as dos trabalhadores nativos e, assim, melhorar a capacidade de resolução de problemas e eficiência no trabalho quanto, em contraste, é também possível imaginar que fricções interculturais podem reduzir a produtividade, particularmente se os nativos associam o aumento da imigração com a diminuição ou perda de empregos para seu grupo. Mas o fato é que o estudo apontou para resultados consistentes com um efeito dominantemente positivo da diversidade sobre a produtividade: um ambiente urbano mais multicultural faz os cidadãos nativos mais produtivos e também mais bem pagos. Como consequência da abertura para a variedade, pode haver benefícios tangíveis para todos.
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* Mônica Carvalho é economista, mestre em negócios internacionais pela Universidade de Sophia, em Tóquio. Trabalha no mercado financeiro há quase 20 anos, tendo transitado por bancos de investimento no Brasil e na Ásia (Japão e China), onde viveu por dez anos. É professora associada da Fundação Dom Cabral. Nesta coluna ela trará, todas as terças-feiras, artigos acadêmicos com o olhar do espectador contemporâneo.
FONTE: Época Negócios
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