ODC: Os ciganos historicamente foram perseguidos no Brasil. Esta situação está mudando nos últimos anos?
Teixeira: Pela primeira vez nos últimos cinco séculos, entre a América Portuguesa e o Brasil, os ciganos deixaram de sofrer com políticas anti-ciganas ou com o desprezo do Estado para ser contemplados com políticas em prol dos ciganos, resultado da luta de muitos associações ciganos no país e de antropólogos e outros intelectuais engajados na questão. Mas, embora o acesso a educação e saúde tenha aumentando para os ciganos, a maior parte deles sofre com a falta de água e saneamento básico, sem falar da pressão imobiliária que reduz enormemente as áreas para acampamento.
ODC: Quais são os principais desafios dos povos de cultura cigana em relação à estigmatização e descriminação que sofrem?
Teixeira: São mais de mil anos de história, na qual os ciganos são perseguidos desde que chegaram ao Oriente Médio, vindos da Índia. Os estereótipos de que são ladrões, vagabundos e tranbiqueiros são muito fortes no Brasil e nos demais países onde se encontram. Os ciganos são vistos constantemente por meio de olhar de desprezo e até de medo das demais pessoas. Os direitos ciganos, em especial, devem contemplar o direito de ir e vir de acordo com o desejo deles. Cada vez mais o fluxo entre ciganos nos países é cerceado. Nas cidades brasileiras predomina a lógica de que “o melhor lugar para os ciganos é na próxima cidade ou mais longe ainda, e não na minha cidade”.
ODC: O caráter nômade destes povos representa uma dificuldade no sentido de acesso a direitos básicos que qualquer outro cidadão brasileiro teria?
Teixeira: Há estudos sobre a origem do nomadismo entre os ciganos e uma hipótese considerada é que a condição nomade está intimamente associada a perseguições ao longo da história. Ou seja, fugir constantemente e depois criar uma vida nômade foram estratégias de sobrevivencia. O nomadismo não é adequado à lógica estatal na maioria das vezes.
Cada vez mais o fluxo entre ciganos nos países é cerceado. Nas cidades brasileiras predomina a lógica de que “o melhor lugar para os ciganos é na próxima cidade ou mais longe ainda, e não na minha cidade.”
ODC: De que maneira os ciganos veem a população mineira? Eles incorporaram elementos culturais ao modo cigano de viver?
Teixeira: As culturas ciganas são abertas ao diálogo com outras culturas. Eles chegam em Minas no começo do século XVIII vindos da Bahia, exatamente no auge da exploração do ouro e, desde então, são dezenas de cidades mineiras com comerciantes de diferentes produtos, artífices de cobre e circenses ciganos. De imediato, não é possível identificar nenhuma contribuição cigana à mineiridade, já que de um lado estamos falando de centenas ou, mais recentemente, de milhares de ciganos e de outro milhões de não-ciganos. Se já é difícil falar de mineiridade, falar de identidade cigana é tão ou mais difícil.
ODC: O que a população não-cigana tem a aprender com a diversidade cultural trazida pelos ciganos?
Teixeira: Nem todo nômade é cigano, nem todo cigano é nômade. Há uma flexibilidade cultural dos ciganos que foi combinada, no transcurso do tempo, com a preservação de determinados valores. Os ciganos conseguiram ser outros sempre, com uma extraordinária capacidade de transformação, e serem eles próprios, naquilo que há de mais antigo em sua cultura, sua hindunidade (identidade hindu), suas formas de música, sua religiosidade para além da adoção oficial de uma ou outra religião.
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O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]
Texto bem redigido.