A mídia desempenha um papel importante na construção da nossa percepção de mundo, moldando atitudes, valores e crenças. No entanto, quando se trata da representatividade negra, a mídia muitas vezes tem falhado em refletir a diversidade da sociedade brasileira, perpetuando estereótipos e marginalizando essa parcela da população. Esses desafios têm sido evidentes tanto em produções televisivas quanto na publicidade, revelando a necessidade urgente de uma mudança significativa. A falta de protagonismo negro também é notável em filmes e séries brasileiras. Em um estudo realizado pela Ancine (Agência Nacional do Cinema), constatou-se que, entre 2005 e 2014, apenas 20% dos protagonistas de filmes nacionais eram negros, o que demonstra a sub-representação dessa comunidade na indústria cinematográfica.
Falta de representatividade autêntica e invisibilidade midiática
A representatividade negra na mídia muitas vezes é reduzida a estereótipos unidimensionais e caricaturas, marginalizando as experiências e identidade racial. Tais representações simplistas perpetuam a ideia de que os negros são limitados a papéis secundários, invariavelmente ligados a criminalidade ou pobreza. A invisibilidade é outro problema persistente, ou seja, personagens negros são ausentes de narrativas ou são relegados a papéis menores. Isso transmite a mensagem de que as histórias de pessoas negras não são relevantes ou interessantes o suficiente para ser o centro de uma narrativa. A carência de protagonistas negros em programas de televisão e filmes é notável, refletindo o desequilíbrio na oferta de representações diversas.
Estereótipos e racismo velado na publicidade
A publicidade também tem contribuído para a perpetuação de estereótipos e para a sub-representação negra. Em um passado recente, é possível encontrarmos campanhas publicitárias em que pessoas negras são retratadas de maneira caricatural, utilizando linguagem visual que reforça preconceitos e marginalização. Um exemplo de estereótipo racial na publicidade foi o caso da marca de produtos de limpeza “Veja”, que em 2018 lançou uma campanha controversa com um vídeo publicitário que retratava uma mulher negra como uma “escrava” que estava feliz por limpar. Isso gerou indignação e críticas pela representação racial insensível e racista.
Apesar da crescente presença de negros nas propagandas nos últimos anos, quando se trata do campo profissional publicitário, a presença de de pessoas negras ainda é bem inferior ao número de brancos. Esse ano, o Gestão Kairós divulgou o “Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023“, no qual aponta que “no que refere a Raça e Etnia, 68% de profissionais que atuam nas agências são brancos, 30% são negros (pretos + pardos)”. Ainda segundo o este estudo, na liderança (nível gerente e acima) das agências, apenas 10,3% são negros (oito vezes menor em relação aos dados de profissionais brancos), sendo apenas 4,6% mulheres negras. “Isso significa dizer que profissionais brancos estão sobre representados em pelo menos 45% das posições de liderança (gerente e acima), e as mulheres brancas em 23,2% no setor de publicidade e propaganda”
Movimentos para a mudança
Felizmente, a conscientização sobre esses desafios tem levado a um aumento na demanda por representatividade autêntica. Artistas, ativistas e organizações têm defendido a inclusão e desafiado a mídia a refletir sobre a diversidade real da sociedade brasileira. Plataformas de streaming, por exemplo, têm surgido como espaços onde histórias diversas e complexas podem ser contadas, permitindo que criadores negros tenham mais controle sobre suas narrativas. Um exemplo positivo de mudança pode ser observado no crescimento de plataformas de streaming brasileiras que investem em produções diversificadas. A Netflix lançou a série “Coisa Mais Linda”, que aborda questões raciais e de gênero no Brasil dos anos 1950 e 1960, oferecendo uma narrativa mais rica e representativa.
Rumo à transformação
A representatividade negra na mídia brasileira enfrenta obstáculos significativos, incluindo estereótipos enraizados e invisibilidade midiática. No entanto, a crescente conscientização sobre essas questões e os esforços de indivíduos e grupos estão aos poucos moldando um cenário mais inclusivo. Romper essas barreiras é essencial, não apenas para a justiça social, mas também para a criação de narrativas ricas e autênticas que ressoem com a diversidade e complexidade da sociedade brasileira. Uma das transformações positivas pode ser a vitória da atriz Taís Araújo no Emmy Internacional 2021, na categoria Melhor Atriz, por seu papel na série “Aruanas”. Essa conquista não apenas destaca o talento, mas também representa um avanço na visibilidade e reconhecimento de artistas negros na mídia brasileira internacionalmente.
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CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO – Boletim 101, nº 01/2024 Cultura Viva: 20 anos de uma política de base comunitária Período para submissão: 13 de março a 23 de junho de 2024 A Revista Boletim Observatório da Diversidade Cultural propõe, para sua 101ª edição, uma reflexão sobre a trajetória de 20 anos do Programa Cultura Viva […]
O Observatório da Diversidade Cultural, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, patrocínio do Instituto Unimed, realiza o ciclo de formação GESTÃO CULTURAL PARA LIDERANÇAS COMUNITÁRIAS. Período de realização: 10, 17 e 24 de outubro de 2024 Horário: Encontros online às quintas-feiras, de 19 às 21h00 Carga horária total: 6 […]
Importante reportagem. Gostaria de receber mais dados sobre as mudanças nas mídias sobre nós, os negros. Desde a literatura, sobre os psiquiatras negros, desembargadores, jornalistas, professores, escritores, esportes, musicistas e artistas em geral. Na minha geração, pairava a invisibilidade.
Muito Obrigada.
Gostei, explico bem a dificuldade negra pela representavidade.
Adorei saber dos desafios q os negros percorrem mas é bom saber q , estão fazendo com q a inclusão das pessoas negras seja mais presente
TODO MUNDO É IGUAL!