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Artigo: a Literatura como tambor das vozes subalternizadas 

A presença do negro na literatura afro-brasileira vem dos primeiros séculos da colonização

Texto de: Lepê Correia*

*Lepê Correia é escritor, poeta e Mestre em Literatura africana.

 

A presença do negro na literatura afro-brasileira vem dos primeiros séculos da colonização, quando o Brasil ainda era uma terra sem identidade definida. O escritor Oswaldo de Camargo, em “O Negro Escrito”, diz que, talvez, o soldado real “Henrique Dias tenha sido o primeiro negro a escrever um texto no Brasil, o primeiro negro letrado” (CAMARGO, 1987, p. 25). Dias escreveu, em 1650, uma carta reclamando a falta de respeito e ofensas dirigidas à sua pessoa pelo Mestre de Campo General Francisco Barreto, pedindo providências em relação ao fato.

Na obra citada encontra-se ainda o maior poeta negro do século XVIII: Domingos Caldas Barbosa, criador da Nova Arcádia, que introduziu em Lisboa as cantigas brasileiras.

A presença do negro na literatura brasileira começa a partir de 1830. O mulato Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa escreveu “O Filho do Pescador”, narrativa ficcional publicada em 1843 e primeiro romance brasileiro, dando o pontapé inicial na história do romance “situado no Brasil, feito por filho do País, de espírito formado na terra e a ela radicalmente ligado” (CAMARGO, 1987, p. 36).

Foi por demais significativo, para abrir caminho a uma série de outros autores alternando posições. Tal proeza foi um ato de rebeldia, demonstrando uma das lições da prática negro-ancestral: a solidariedade. Para tanto, recebeu a contribuição do negro Francisco de Paulo Brito, iniciador do movimento editorial no Brasil através de seu estabelecimento: “Tipografia Fluminense de Brito & Cia”, ponto de reunião de intelectuais e oficina de aprendizes, sendo o mais ilustre Machado de Assis, e de onde foi publicado “o primeiro jornal brasileiro dedicado à luta contra os preconceitos de raça, ‘O Homem de Cor’, que circulou no Rio de Janeiro de setembro a novembro de 1833” (CAMARGO, 1987, p. 41).

Paula Brito também foi o cabeça de uma espécie de sociedade informal, a “Petalógica”. Não sabemos se estrategicamente ou não, mas Brito fundou a tal sociedade que, embora não tivesse sócios nem estatutos, era reduto principalmente dos negros. Este fato dá-nos a impressão de que Paula Brito, desde a época (1833), estivera ensaiando os primeiros “toques de reunir”, executados pelo grande porém ainda acanhado “tambor literário”. Assim, atraía seus iguais, fazendo valer a solidariedade étnica.

 

Fonte: Brasil de Fato

Imagem: Brasil de Fato

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